sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Em entrevista rara de amistoso contra a Caldense em 1974, Pelé fala sobre Poços de Caldas

 Poços de Caldas|, MG - No dia 06 de março de 1974 o Santos Futebol Clube veio a Poços de Caldas para um amistoso contra a Caldense.  A cidade parou para acompanhar a chegada da equipe, em especial pelo seu camisa 10: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Já tido como o rei do futebol e consagrado internacionalmente por suas conquistas no Santos e na Seleção Brasileira.


A Rádio Cultura de Poços de Caldas, através dos radialistas Lázaro Walter Alvisi e Francisco Risola, foi ao hotel em que a delegação santista estava concentrada para registrar o retorno do Rei do Futebol à cidade. A entrevista foi veiculada na rádio no dia partida e a fita cassete com a gravação da entrevista ficou guardada por quase 50 anos, sem que o público tivesse novamente a oportunidade de ouvi-la. Em um intenso trabalho de pesquisa que vem sendo realizado pelo departamento de comunicação da Caldense para resgatar a história do clube, o material foi encontrado e digitalizado recentemente, disponível para ser ouvido na íntegra ao final desta matéria.


Pelé já havia estado em Poços em 1958, durante a preparação da Seleção Brasileira para a Copa da Suécia, início da trajetória que culminaria no primeiro título mundial do Brasil. “É uma satisfação muito grande voltar aqui a Poços de Caldas depois de uma grande ausência, mas é sempre um prazer. Em 1958, quando eu iniciava aquela caminhada para tudo isso que aconteceu em minha vida, foi aqui o início. Eu tinha 16 para 17 anos e o Brasil também começava sua campanha, pois até 58, o Brasil não havia ganho nenhum campeonato e hoje estou voltando aqui em Poços”, disse Pelé.


Além das estadias na cidade para jogar, Pelé visitou Poços a passeio e também a negócios. Em uma das visitas foi até as Termas Antônio Carlos para ver o sistema de duchas e utilizá-lo como referência para implantá-lo em uma clínica de fisioterapia que possuía em Santos. “Já estive alguma vezes aqui meio escondido, passeando com a família e espero voltar mais vezes, mas não é para espalhar né?”, brincou o rei.


Durante a entrevista, Pelé falou ainda sobre assuntos relacionados à Seleção Brasileira, Santos e futebol em geral. O camisa 10 estava na concentração para a partida diante da Veterana, mas revelou que solicitou à diretoria do peixe para não participar do duelo. “Senti uma dor na perna em um jogo em Goiás e um jogador só fica bom se parar para se recuperar. Então achei que deveria descansar para entrar bem no domingo contra a Portuguesa, mas a diretoria do Santos é que manda e eles acharam que eu deveria vir. Já que estou aqui, vim para jogar o tempo todo, pois não gosto de ficar fora e o público que for ao estádio vai ter a chance de assistir a um grande espetáculo”.


A partida foi um combinado como parte do pagamento da venda do lateral-direito alviverde Luiz Carlos Beleza para o alvinegro praiano. O público encheu as arquibancadas do Estádio Coronel Cristiano Osório com 4330 pagantes e a Caldense queria fazer uma grande façanha: vencer o confronto.


“Você vai ter um zagueiro central difícil hoje pela frente, ele é grandão, tem um cabelo comprido, barba. É feio no aspecto físico, mas é bom de bola: o Buzuca”, contou o radialista Lázaro Walter Alvisi. Mas Pelé não se intimidou. Disse que depois de tudo que já tinha enfrentado ao longo da carreira, não se assustava com mais nada. “Agora é moda a moçada toda de cabelo grande e barbado. Eu acho que cabelo e a barba não faz o jogador, o que faz é o futebol que ele mostra dentro do campo”.


Quando os times entraram em campo, na noite de uma quarta-feira, Pelé foi muito atencioso com todos, atendeu a todos da imprensa e tirou fotos com os jogadores da Veterana, mas não conseguiu superar a zaga da Caldense. “No começo do segundo tempo começou a chover muito, o campo ficou pesado e perigoso. Por conta disso, resolveram tirá-lo”, lembrou o capitão da equipe, Buzuca.

O técnico do Santos, Pépe chamou o atacante Adílson para entrar no lugar do Rei. “O Pelé ia ser substituído e era um escanteio. O Adílson estava querendo entrar e ele fez sinal para o Adílson esperar. O jogo estava 0 a 0 e Pelé estava querendo marcar gol na gente até o último instante”, relatou aos risos o meia da Caldense, Aílton Lira, que mais tarde vestiria a camisa 10 do Santos.

Ao final das contas o próprio Adílson, substituto de Pelé, marcou um gol aos 20 minutos da etapa complementar e deu a vitória por 1 a 0 ao Santos. A Caldense foi enaltecida pela imprensa por sua grande apresentação no confronto e entrou para a história por ter participado do último jogo do Pelé no Estado de Minas Gerais. A Associação Atlética Caldense lamenta o falecimento do rei do futebol e transmite os mais sinceros sentimentos ao seus familiares, amigos e admiradores.


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