Poços de Caldas, MG – Solidão no ar, muito bem acompanhada por terra e uma grande paixão pelo parapente e o sertão nordestino. Foi assim que Marcella Uchoa, uma poços-caldense aventureira e sem medo de desafios, conseguiu bater o recorde mundial de distância percorrida a bordo de um parapente recentemente. Foram mais de 457 quilômetros percorridos em cerca de 11 horas. O feito ganhou grande repercussão e por onde passa Marcella é cumprimentada, já que todos sabem que a conquista é para poucos.
Sertão nordestino
Marcella começa a conversa com o Mantiqueira destacando o sertão nordestino, conhecido no mundo inteiro pelos voos de longas distâncias. “O lugar dá todas as condições para este tipo de voo. Um lugar quente e que tem um vento forte, tudo que o voo livre precisa. Lá a gente consegue fazer voos de longas distâncias e por isso vai gente de toda a parte do mundo”, destacou. O período mais propício para os voos é entre outubro e novembro.
O sol como companheiro o tempo todo
Marcella é uma frequentadora assídua do sertão nordestino. Ela repete a rotina de viajar para lá há seis anos e destaca que o lugar é mágico tendo paisagens fantásticas e um companheiro inseparável a todo momento, o sol. “Você decola com o sol nas suas costas e vai vendo ele o dia inteiro até conseguir fazer o planeio final em direção ao poente. É lindo”, destacou. Ela explicou para a reportagem que os voos são da direção leste para oeste e por isso a companhia do astro rei é constante.
O povo nordestino
A atleta destaca ainda o carinho do povo nordestino, que é sempre muito acolhedor e tenta o tempo todo facilitar a vida dos aventureiros. “Impressionante o que acontece lá. Em qualquer lugar que você pousa, no meio do nada, as pessoas vão te ajudar, se preocupam, perguntam do que a gente precisa, se quer tomar algo, se quer comer, tomar banho, oferecem a casa deles. A recepção e a hospitalidade deles são incríveis e é isso que dá uma magia nesta experiência”, relatou Marcella.
Histórico
Não é à toa que o histórico de resultados de Marcella Uchoa tem o Nordeste como protagonista. Antes do recorde mundial conquistado agora, ela já havia namorado com outras marcas importantes na carreira. Só em 2018 conseguiu bater três recordes mundiais em terras nordestinas.
Recorde atual
Marcella explicou para a reportagem como bateu recorde de distância declarada ao voar 457 quilômetros. Ela conta que antes de decolar é escolhida uma coordenada geográfica que o piloto tem opções. Ou passa por cima dela ou pousa no local. Ela conta que o limite vai num raio de 400 metros em volta deste ponto e a meta é chegar na coordenada especificada. Difícil? Muito, mas Marcella conta que é esta dificuldade que torna tudo emocionante. “Claro que é muito difícil, além do voo, você acertar exatamente o ponto onde vai passar, por isso gosto bastante deste recorde, que exigiu muito, momentos em que foi preciso ficar olhando a previsão do tempo, olhando o vento, a direção, velocidade, isso durante toda a roda para tentar acertar aquele ponto”, destacou. Depois vem a parte burocrática, esta um pouco mais chata, porém, feita com muito cuidado. Nesta fase é preciso preencher os formulários que são enviados para a FAE, órgão que regulamenta e homologa estes recordes. A parte burocrática ainda exige que o recordista tenha testemunha, arquivos registrados em GPS, tudo para comprovar que o voo citado realmente aconteceu.
Solidão
A solidão no ar como citada no início desta matéria é real, mas existe acompanhamento o tempo todo do atleta por parte da equipe de apoio. “Lá em cima sou eu e meu parapente”, fala Marcella. Mas especificamente neste evento, Marcella conta que havia outros pilotos buscando o recorde e destaca que esteve sempre ao lado de Rafael Bastos, outro brasileiro na expedição. “Mesmo com mais pessoas no espaço aéreo sou eu pilotando meu parapente e é um período tão longe de tempo, às vezes em condições adversas, que acaba complicando bastante”, destacou. Marcella contou que no dia em que bateu o recorde havia muita turbulência e isso faz com que o parapente fique instável e mexendo muito, exigindo total concentração e perícia do piloto. “A pilotagem nestas condições tem que ser ativa o tempo todo para que o parapente não feche, não é fácil. Muita gente pensa que a gente fica lá em cima curtindo a paisagem, flutuando, mas não é assim, precisamos pilotar ativamente e isso fica muito cansativo. Fazer isso por quase 11 horas não é fácil”, falou. E foi assim durante todo o voo e apenas nas últimas horas é que a atleta conseguiu relaxar e aproveitar e, claro, comemorar. Mas o desafio é intenso, um desafio físico e mental que exige muita preparação para ser realizado.
O recorde
O recorde de Marcella Uchoa pode ser conferido no site da Federação Aero Desportiva Internacional (FAE). Antes da homologação do recorde todos os documentos são analisados. No site toda a história dos recordes pode ser encontrada e está lá o nome de Poços de Caldas e de Marcella Uchoa para todo mundo conferir.
“Gosto de
competições
também”
Ao ser questionada pelo gosto de desafios e aventuras, Marcella completou afirmando que também gosta, e muito, de competições. “Também gosto e muito da parte competitiva, a competição é um pouco diferente porque temos uma prova por dia e cada prova é um circuito, dependendo das condições climáticas. É uma corrida, já que é campeão aquele que faz este circuito no menor tempo”, destaca Marcella, que acabou de conquistar seu melhor resultado no Campeonato Brasileiro. Ela terminou em quarto lugar geral entre os homens e mulheres e este é seu melhor resultado pessoal. Marcella conta este resultado sempre foi um sonho. “Estar no pódio da Open foi maravilhoso, foi meu tetracampeonato feminino, mas tenho como meta vencer no geral e é por isso que vou batalhar”, pontuou. Ela tem como próximo desafio a super final da Copa do Mundo de Parapente que será realizada no México, numa prova que terá a duração de 10 dias e contará com os melhores do mundo. “Espero conseguir um pódio no feminino e ajudar elevar o Brasil no ranking mundial.
Secretaria de Esportes
Perto de tudo que vem fazendo pelo esporte Marcella Uchoa vem recebendo pouco apoio para competições e desafios. Atualmente, ela conta com apoio da Secretaria Municipal de Esportes, mas precisa de maior atenção de pessoas que poderiam colaborar. “Perto do que venho fazendo, que é muita coisa, realmente o apoio é pouco. Viajo pelo Brasil todo representando a cidade e seria importante uma maior ajuda. Atualmente tenho o apoio da prefeitura municipal de Poços de Caldas, através da Secretaria Municipal de Esportes, que já há alguns anos me ajuda, claro que é só uma parte, tinha alguns outros apoiadores que acabei perdendo, outros ainda estão do meu lado, mas ainda realmente é pouco e seria importante mais ajuda para a gente continuar voando mais”, falou Marcella. Os interessados em apoiar a recordista mundial podem entrar em contato com a atleta pelo instagram #marcellauchoa que a atleta retorna a mensagem com seu portfólio.
Poços é tudo
Marcella finaliza a reportagem exaltando sua cidade. Ela mora e treina em Poços de Caldas e não vê motivo para sair. “Viajo muito o Brasil e o exterior, mas volto sempre, moro aqui, Poços é tudo, é o lugar perfeito para o esporte que pratico, as condições daqui e da região são muito boas para voar e somos privilegiados por ter no quintal de casa uma das melhores rampas do mundo com acesso super fácil, 15 minutos da minha casa estou na rampa. Treinar em Poços é um privilégio e por isso sempre volto pra cá”, finalizou.
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