Paulo Vitor de Campos
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Poços de Caldas, MG - Em julho, o Mantiqueira fez uma reportagem sobre a recém-lançada “fábrica de tacos de cricket” em Poços de Caldas. Eram as primeiras tentativas de se produzir o material na cidade. Antes disso, os tacos só chegavam aqui vindos da Europa. Pensando em alternativas, o treinador Matt Featherstone conseguiu, meio que por acaso, descobrir Luiz Roberto Francisco, aposentado que passou a trabalhar com marcenaria por puro hobby. Desde então, o cenário mudou e a produção de material na cidade ganhou força. O sonho, que está muito perto de se concretizar, é de que em muito breve Poços de Caldas seja sede da única fábrica de tacos de cricket da América Latina, sendo responsável por fornecer o material para todo o mundo.
A madeira perfeita
O material usado para a fabricação dos principais tacos utilizados no mundo vem do salgueiro, uma madeira que não se encontra no Brasil. Segundo Matt Featherstone, assim que a pandemia acabar ele irá com Luiz Roberto procurar uma madeira parecida com o salgueiro e dar início à produção dos tacos para os times profissionais da cidade e do mundo. “O Brasil é um pais muito rico em madeiras e tenho certeza que vamos encontrar o material que precisamos. Depois disso nossa fábrica vai ser responsável pelo fornecimento de tacos para as principais ligas do mundo”, disse Featherstone.
Projetos
Enquanto não encontra a matéria-prima necessária para a confecção de tacos profissionais, o material produzido na oficina de Luiz Roberto está sendo disponibilizado para atender os diversos projetos da cidade. Atualmente, estes projetos estão parados devido à pandemia, mas assim que forem liberados os alunos terão em mãos um taco de qualidade para a prática do esporte. “Antes as dificuldades para comprar estes tacos para atender os projetos eram enormes e hoje esta demanda está sendo resolvida de uma forma bem caseira e na qualidade que precisamos. Para o aluno de um projeto, ter em mãos um material como este seria muito difícil, mas graças ao trabalho de artista do Luiz Roberto hoje ficou bem mais fácil atender estas crianças e adolescentes”, disse Matt. “Resolvemos uma questão importante, mas vamos em busca da madeira perfeita e esperamos achar algo melhor que o salgueiro, madeira usada no mundo do cricket há quase 200 anos”, continuou. A previsão de Matt Featherstone é que em dois ou três anos Poços de Caldas se torne um polo mundial na produção de tacos de cricket. “Queremos ganhar o mundo e fazer ainda mais história no cricket brasileiro. Antes não tínhamos jogadores suficientes em nosso projeto e hoje já temos equipes em grande nível que saem de Poços de Caldas. Depois veio a falta de equipamento e com nossa fábrica de tacos resolvemos mais este problema, agora é levar isso para o mundo e tornar a cidade num grande polo”, disse Featherstone.
Descoberta
Matt conta que a descoberta do marceneiro Luiz Roberto foi um golpe de sorte. Ele precisava de bancos de madeira para colocar em uma das sedes dos projetos de cricket, no caso a Associação Atlética Caldense, e foi apresentado a Luiz Roberto por um amigo. “Depois de uma conversa viemos até a oficina que ele usava como passatempo e tivemos a ideia da fabricação dos tacos. Ele se mostrou uma pessoa de grande visão, viu que era um projeto com um grande futuro e se disponibilizou a tentar produzir os tacos”, disse Featherstone.
Oportunidade
O cricket em Poços de Caldas e no Brasil vem crescendo bastante nos últimos anos e parte deste crescimento se deve ao trabalho de Matt Featherstone. Para Luiz Roberto, que entrou no projeto nesta fase importante do esporte, trata-se de uma oportunidade de ajudar numa área em que a modalidade estava carente. “Conhecia muito pouco este esporte e não sabia nada como seria fabricar o taco. Depois do contato com Matt, conversamos, ele me explicou tudo, falou sobre as necessidades e resolvemos trabalhar juntos. Foi um grande desafio que aceitei, corremos atrás de material, estudamos as formas de fazer tudo, equipamentos, e conseguimos chegar num ponto correto de produção. Um projeto que me agrada muito exatamente pelo desafio. Sou aposentado, faço marcenaria com hobby e surpreendente se tornou um negócio importante para muita gente e com isto fico muito orgulhoso de fazer parte disso tudo”, falou Luiz Roberto. “Ser o pioneiro na produção de tacos de cricket no Brasil é uma situação que me enche de honra”, continuou.
Produção
Luiz conta que a produção de um taco leva em média 10 horas. Todo o processo é feito na oficina com todas as etapas da produção realizadas através de suas máquinas. O trabalho é bem artesanal com Luiz começando a produção na madeira crua, que vai sendo moldada de acordo com o design passado por Matt Featherstone. Sobre a madeira para a produção de tacos profissionais Luiz Roberto disse que conta com a ajuda de amigos na procura do material. “Acredito que vamos encontrar uma madeira melhor do que o salgueiro. Tenho amigos que viajam muito, conhecem muito o Brasil e estão me ajudando. Devo receber em breve uma amostra que vamos analisar. Assim que acharmos o que precisamos vamos buscar até encontrar”, finalizou Luiz Roberto.
A busca
Segundo Featherstone, assim que o material for encontrado eles irão à caça da madeira perfeita. “Claro que será um processo em longo prazo, mas não temos pressa, pois sabemos que vamos encontrar a sonhada madeira que vai passar a ser usada em todo o mundo”, falou.
Atleta
A reportagem conversou com a atleta da seleção brasileira Lara Bittencourt, que foi descoberta no projeto de cricket realizado no Colégio Municipal. Hoje ela é uma das principais atletas da modalidade e fala das facilidades que os iniciantes podem ter com um material de qualidade para a prática do esporte. “Demorei muito para ter meu taco, não foi um processo rápido ter um material de qualidade para treinar. Produzir em Poços o material é uma grande ideia que vai ajudar muita gente que não vai precisar esperar chegar um taco de outro país. O pessoal que está começando nos projetos vai ter uma grande oportunidade e com isso as chances de mostrar potencial e crescimento no cricket tende a ser mais rápida”, disse Lara. A atleta está treinando com a seleção brasileira feminina para as disputas de competições importantes em 2021. Ela conta que os trabalhos estão sendo muito bons e vão deixar o time bem preparado para os campeonatos. “Estamos trabalhando intensamente e com muita motivação e acredito que teremos boas chances de representar bem o Brasil”, finalizou Lara.
A volta
Matt conta que com a pandemia os projetos realizados em Poços de Caldas, São João da Boa Vista e Aguaí estão com mais de quatro mil praticamente parados. Ele diz que os professores de cricket estão preparados para a volta e assim que forem liberados os treinos e a volta ao normal, o cricket novamente movimentará estes jovens. “Infelizmente, uma situação que ainda não sabemos por quanto tempo vai se arrastar, mas estamos preparados para a volta. Quando tudo voltar vamos trabalhar mais forte para recuperarmos o tempo perdido”, falou Matt Featherstone. Ele conta que já conversou com os prefeitos das cidades envolvidas e eles disseram que precisam esperar um pouco mais até que a situação seja amenizada.
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