sábado, 16 de julho de 2022

Campeoníssimo no BMX, Renato Rezende migra para o mountain bike

Poços de Caldas, MG – Com três olimpíadas no currículo, diversos títulos de campeão brasileiro, títulos internacionais conquistados em várias partes do mundo e nada mais a provar. Nada a provar no BMX, mas Renato Rezende acaba de colocar para si um novo desafio, buscar novos horizontes em uma nova modalidade de ciclismo. Recentemente, ele migrou para o mountain bike e já vem mostrando que pode chegar tão longe quanto no bicicross. O Mantiqueira conversou com o ciclista, que se mostrou muito motivado com os novos rumos da carreira, mas claro que vem sentindo um pouco a diferença, já que enquanto uma prova de BMX chega a durar apenas segundos, no mountain bike é preciso bem mais tempo pois uma competição completa leva cerca de uma hora e meia para ser concluída. Rezende faz parte da equipe Loop de Ciclismo.


Mantiqueira – Por que a decisão de não seguir no BMX? Uma quarta olimpíada saiu de seus planos?

Renato Rezende – Disputar uma olimpíada sempre é a meta de qualquer atleta. Fiquei muito feliz com meu desempenho em Tóquio, a gente já falou sobre isso e tive o meu melhor desempenho, o melhor da história do BMX brasileiro em olimpíadas, mesmo com uma dificuldade muito grande.


Mantiqueira – Quais dificuldades?

Renato Rezende – Imagina, você está prestes a ir para os jogos, mas a pandemia no seu país está no auge, você fica preso em casa sem poder treinar enquanto os outros competidores estão treinando normalmente e competindo em alto nível. Quando fui liberado para treinar na pista não tinha hospitais e isso era uma preocupação, já que se tivesse uma lesão não teria para onde ir. Isso sem contar a dificuldade de saber se conseguiria ir para as provas finais que valiam pontos. No final, mesmo ficando quinze dias de quarentena sem treinar, deu tudo certo e foi tudo muito intenso e fiquei muito feliz com o resultado. Depois voltei ao Brasil e resolvi tirar o resto daquele ano para refletir sobre o futuro, descansar e ficar um pouco com minha família.


Mantiqueira – E a mudança para o Mountain Bike. Como veio esta decisão?

Renato Rezende – Foi uma decisão tranquila, comecei a migrar para o Mountain Bike em janeiro, a grande diferença é a bike, bem diferente da usada no BMX, uma bike aro 29, conta com suspensão, marcha, canote retrátil, mas a grande diferença é a prova, pois fiquei acostumado com provas de BMX de 40 segundos e a prova olímpica do mountain bike leva uma hora e meia. Temos outras provas com duração menores, mas mesmo assim é tudo mais longo que as corridas de BMX. São provas de 20 minutos de duração e acredito que serão nestas provas de duração menor que vou chegar na alta performance antes e conseguir alguns bons resultados. Meu objetivo e chegar em alto nível nas provas de grande performance também, mas isto vai levar mais um tempo. O importante é que estou curtindo muito e Poços de Caldas é privilegiada para este esporte, já que a cidade é cercada por montanhas, uma bela pista de XCO no Cristo, e aí elogio o ótimo trabalho feito pelo pessoal da cidade, aproveito para mandar um abraço para o Paulinho, que é o cara que mais cuida da pista. Tem ainda o trabalho da Associação dos Ciclistas de Poços de Caldas, enfim, temos muitas trilhas, muitos lugares para pedalar, mas respondendo mais diretamente sua pergunta, o principal motivo foi estar no esporte e também estar perto de casa, agora tenho filho, responsabilidade maior e no BMX precisava estar viajando para treinar e esta era a maior dificuldade, também pela questão financeira. Sei que tinha condições de tentar mais uma olimpíada, mas ficar longe do meu filho e de minha esposa, longe de casa achei que seria um alto preço pois quero ficar com a família. Estou adorando este novo desafio, claro que todo começo é muito difícil, mas estou disposto a batalhar tudo novamente.


Mantiqueira – E fisicamente, como você tem se sentido?

Renato Rezende – Quem se lembra de mim antes quando me encontra se surpreende, estou onze quilos mais magro, o corpo foi se adaptando com esta mudança de estilo, uma adaptação automática à rotina de treinos, mas estou me sentindo muito bem.


Mantiqueira – Você ganhou tudo no BMX. Onde quer chegar no mountain bike? Teremos o mesmo Renato Rezende campeoníssimo?

Renato Rezende – Quero ser campeão, quero competir em alto nível, quero chegar ao mais longe possível, só que ainda não consigo te dizer onde é possível chegar, mas estou mirando muito longe, a dedicação é a mesma nos treinos, a vontade é a mesma, está até maior, renovada, e isso é muito bom. Estou indo, onde vou chegar ainda não sei.


Mantiqueira – Você acredita ser possível chegar na seleção brasileira?

Renato Rezende – Estou filiado tanto no BMX quanto no mountain bike, mas estou começando esta corrida praticamente do zero, preciso ter resultados e sei que vai ser demorado, tenho feito algumas provas grandes, ainda encontro dificuldades, algumas provas nem consigo completar, isso é normal. Estou com a parte técnica muito avançada, mas a parte de resistência ainda não. Ainda falta muito, nas provas menores estou conseguindo me sair melhor, estas provas estão me dando ritmo, fiz até alguns pódios nestas provas menores e estou curtindo muito. Outra coisa legal é que tenho andado muito em ciclismo de estrada, já que o treino é feito na bike de speed, com pneu fininho. Fizemos uma prova em Mococa e a minha equipe Loop trabalhou muito bem e ganhei esta prova, indo no bolo até o final e na chegada dei uma sprint de BMX e deu certo. Está sendo muito legal, estou aproveitando todo o processo, realmente é difícil, mas ao mesmo tempo muito proveitoso e convido a todos a acompanharem minhas redes sociais, onde tenho mostrado um pouco desta transição, um pouco dos treinos. Ali também é possível acompanhar um pouco do meu filho Leandro, minha esposa Nath, uma pessoa muito especial que está nesta caminhada comigo, me apoiando muito.


Mantiqueira – Como você recebeu uma homenagem como a Copa Renato Rezende que acontece neste final de semana?

Renato Rezende – Muito especial ter uma competição com meu nome, muitos acham que eu sou organizador, mas não, estou ajudando um pouco na divulgação, mas realmente é bacana ter seu nome lembrado. Como você mesmo diz, os meninos se espelham em mim, querendo chegar aonde cheguei. Sempre passo na pista, converso com vários meninos, sou muito grato por tudo que aconteceu em minha vida e passar um pouco disso para aqueles que estão começando é uma obrigação. Muitos chegam até mim e dizem que só entraram no BMX por minha causa, porque viram algum vídeo meu e resolveram procurar o clube aqui no parque. Isto é especial.


Mantiqueira – Você perdeu apoiadores com a troca de modalidade?

Renato Rezende – Alguns mudaram, estou buscando novos apoiadores e alguns de Poços de Caldas estão chegando. Tenho projeto da Secretaria Municipal de Esportes com apoio da prefeitura, tenho o Bolsa Atleta, Bolsa Atleta Minas, Hotel Monreale, Grupo Soitic, Oakley, Academia Olimpo, Arstop, meu primeiro patrocínio conquistado pelo mountain bike, PKS, Shimano, Penks e uma novidade de Poços que é a Casa Salles e a Poços Tec, além da Associação dos Ciclistas de Poços de Caldas, na qual sou filiado, tenho muito orgulho de representá-los. Apesar de não ser filiado ao Bicicross Poços Clube tenho uma parceria legal com eles, estamos sempre juntos.


Mantiqueira – Você segue fazendo clínicas de BMX?

Renato Rezende - Sigo fazendo sim, recentemente fiz uma em Andradas, também faço consultorias técnicas e isso me mantém no BMX, não quero sair dele e através deste trabalho estou sempre presente. O BMX é meu sangue. Sou o cara do BMX no mountain bike, que sempre vai fazer parte da minha vida e sempre vou estar presente no BMX. É importante ainda a presença do meu treinador Daniel Jorge, que muito apoio está me dando nesta transição. 

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