Poços de Caldas, MG – Quem foi ao parque municipal no último domingo e acompanhou a Copa Renato Rezende de BMX presenciou disputas acirradas, saltos espetaculares, brigas pneu a pneu por um lugar ao pódio e tantas outras emoções, como a homenagem para a ex-presidente do Bicicross Poços Clube Terezinha Moreno. Quando se fala em tradição nesta modalidade, Poços de Caldas é a referência, sendo responsável pela formação de campeões como Renato Rezende, Bruno Cogo, Guilherme Ribeiro, Kaike Milani, Luciano Roque, entre outros muitos nomes que ficaríamos horas citando. Mas não é só dentro das pistas que o nome da cidade vem sendo reconhecido no BMX nacional. Um locutor da terra vem ganhando destaques nos eventos. O empresário Adriano Moreno foi o responsável pela narração das duas etapas da Copa Renato Rezende, uma realizada em Andradas. O talento do rapaz, de voz firme e narração rápida, lembrando locutores antigos do rádio esportivo e de corridas de cavalo, tem conquistado tanto espaço que Moreno chegou longe. Há duas semanas ele foi o narrador oficial do Campeonato Brasileiro disputado em Londrina. Moreno vem recebendo diversos convites e pode se tornar o locutor oficial do BMX brasileiro, posto que era ocupado por Carlos Correia, o popular Rick Locutor, que faleceu ano passado. O Mantiqueira conversou com Adriano Moreno e questionou se ele realmente está interessado em seguir a profissão. Talento para isso ele tem de sobra.
Família do BMX
Adriano faz parte da implantação do BMX em Poços de Caldas, lá nos anos 80. A cidade não tinha nenhuma estrutura, mas este início da modalidade justifica bem o sucesso que os pilotos daqui conseguem até hoje. “No final da década de 70, início dos anos 80, um grupo de garotos iniciou em Poços de Caldas as atividades e eu estava dentro deste grupo. No início era apenas diversão, mas entre os anos 88, 89 começamos a competir em peso e com bons resultados”, disse Moreno. Ele destaca que naquela época sua mãe Terezinha Moreno participava e até mesmo arriscava entrar na disputa. Terezinha foi uma das pioneiras nas disputas femininas de BMX. “Minha mãe viveu e vive no BMX e com isso acaba nos influenciando. Costumo dizer que faço parte da geração “dinossauro do bicicross”, pegamos a época de ferro, tudo era arcaico, pesado, uma pista que praticamente não tinha paredão, tudo muito simples”, conta Moreno. Ele acompanhou toda evolução do esporte em Poços de Caldas e acredita que estes tempos foram primordiais para fazer do bicicross de Poços o que ele é hoje. “Hoje temos um bicicross de nível internacional com participações em olimpíadas, como o exemplo de Renato Rezende, e acredito que ainda teremos muitos outros ciclistas saindo daqui e ganhando cada vez mais espaço’’, destacou.
Envolvimento
Moreno deixou de competir no início dos anos 2000. Ele chegou longe, aquele menino que começou em pistas improvisadas chegou na elite, ganhou troféus no Brasil e até mesmo em outros países. Mas uma hora chegou o momento de parar, e este momento veio forçado. Depois de uma queda o jovem piloto com seus 20 e poucos anos resolveu não competir mais. Aquela queda acabou trazendo certo medo e por isso resolveu deixar as pistas. Mas Moreno não deixou o BMX, sempre estando ligado ao esporte, seja na organização, seja de alguma outra forma. “Deixei de correr, mas fui uma pessoa realizada no esporte. Sempre com incentivo da minha mãe busquei dar o melhor, conheci diversas cidades do Brasil, viajei pela América do Sul, colecionei muitos troféus, algumas fraturas também, não só de glórias a gente vive, mas quando deixei de competir foi uma decisão certa na hora e momento certos.
Locução
Ficar ao lado de Adriano Moreno é saber que você vai falar pouco. O empresário é muito comunicativo e qualquer assunto pode durar horas e com os detalhes que praticamente só ele fala. Aí se percebe porque ele vem se tornando num dos principais locutores do Brasil. Mas questionamos quando ele viu que tinha este dom, quando percebeu uma veia que poderia ser explorada profissionalmente. “Sempre fui muito comunicativo, brincalhão, e sempre busquei estar interagindo com as pessoas, competidores, enfim, com todos. Foi aí que comecei a pensar que poderia ser locutor de algumas provas menores’, disse. O fato de Terezinha Moreno seguir ativa no BMX como presidente do clube também manteve Moreno perto das competições. As primeiras narrações vieram como brincadeira em campeonatos regionais. Ali o empresário narrava as corridas, mas nada com muito compromisso, era como uma diversão mesmo. O fato de ser comunicativo e não ter problemas em lidar com o público também era outro diferencial. “As pessoas gostaram, fiz algumas participações em alguns campeonatos importantes, como Paulista e Brasileiro, mas nunca levei pra frente a ideia de ser um locutor oficial”, contra Moreno.
A mudança
Aquela ideia de não levar adiante e não explorar a locução de forma profissional foi mudando aos poucos. Com a morte do amigo Rick Locutor, o BMX perdeu muito e ficou sem um locutor oficial. Em Andradas, Adriano Moreno fez a locução da primeira etapa da Copa Renato Rezende. O evento foi transmitido ao vivo pela internet e isso mudou a vida do poços-caldense. Ele mandou muito bem em Andradas, ganhou fãs e a transmissão acabou sendo vista por diretores da Confederação Brasileira de Ciclismo, como José Luiz Vasconcellos. Moreno conta que se surpreendeu quando recebeu uma ligação deste diretor convidando para ser o locutor oficial do Campeonato Brasileiro de BMX disputado em Londrina. “Depois da narração em Andradas as pessoas me procuraram e elogiaram bastante e disseram que eu consegui transmitir toda a emoção de uma prova de BMX. Foi muito bacana”, disse Adriano. “Foi uma surpresa a ligação de um diretor da CBC dizendo que vinha me acompanhando e veio este convite. Topei na hora representar Poços neste meio da locução e graças a Deus todos gostaram, consegui me sair bem, mas é um pouco tenso, não é fácil”, disse Moreno. Ele conta que narra por muitas horas numa competição que contou com mais de 700 pilotos. “Foi muito gratificante estar neste grande evento, hoje sou empresário, me dedico muito ao meu trabalho, mas claro que o esporte, o BMX, está no sangue e foi sensacional estar presente. Foi uma experiência bacana. Independentemente do tipo de esporte que você faça, o importante é estar no meio do esporte. Faz bem para a saúde, para a família. Levar o filho para praticar qualquer atividade física é muito importante. No meu caso, fazer narração e conviver com atletas é meio um modo de manter esta ligação com o esporte que é maravilhosa”, destacou Adriano.
Próximos campeonatos
Depois de narrar a Copa Renato Rezende e o Brasileiro, Adriano Moreno aguarda convites da CBC para próximos campeonatos. “Acredito que dá para conciliar o BMX e a empresa. Os campeonatos não acontecem todos os finais de semana e minha empresa tem uma equipe bem estruturada e isso me permite algumas datas para me ausentar. Tudo se encaixa muito bem, sem contar que encaro o esporte como uma válvula de escape, uma diversão”, falou Moreno. Ele conta que já conversou com a CBC e acredita ser fundamental a formação de novos narradores. “Infelizmente o Rick veio a falecer, ele ficou 25 anos à frente das locuções oficiais e deixou o BMX órfão. Não teve um legado, não teve pessoas interessadas em narração. Precisa de novos profissionais, pessoas que se interessem. Vou tentar contribuir o máximo que puder, vou aceitar os próximos convites, mas é importante mais pessoas entrarem neste meio, trazer a emoção. Vou fazer de tudo para ajudar”, disse Moreno.
Estilo
A veia de locutor de Adriano está no dia a dia. Ele conta que no trânsito, ao levar os filhos para a escola, narra tudo que acontece. “Meus filhos adoram, pois narro tudo, narro aquele carro lento na minha frente, aquela pessoa que atravessa fora da pista, uma ultrapassagem, enfim, até chegar na escola faço do percurso uma grande locução. Meus filhos chegam na escola gargalhando. É muito natural este meu estilo de narração”, conta Moreno. Ele conta que em dez anos nas pistas observou diversos locutores que narravam as competições. Ele destaca que para o piloto é bacana durante a disputa escutar seu nome, ouvir uma situação que pode ajudar na disputa. Sobre a velocidade da locução, Moreno diz que é natural, já que o BMX é um esporte muito rápido e o locutor precisa passar a emoção aos pilotos e público. “Não sei se todos gostam, mas meu estilo agrada a maioria das pessoas”, falou. “Meu estilo de falar rápido vem da minha vida pessoal, das conversas com amigos, de palestras e, o principal, filho da Terezinha, quando ela pega a falar não para mais, faz tudo ao mesmo tempo, chupa cana e assovia”, finalizou Moreno.
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