quinta-feira, 12 de maio de 2022

Atleta poços-caldense é a única tricampeã da Volta ao Cristo

 Paulo Vitor de Campos

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Poços de Caldas, MG - Voltamos com a terceira parte retratando a história da Volta ao Cristo. Vamos falar de um pouco mais das pessoas que ajudaram o evento a se tornar uma das principais corridas de rua do mundo. A Volta ao Cristo tem uma peculiaridade que poucas corridas possuem. Além de uma corrida de rua, ela pode ser classificada também como um cross country. O grau de dificuldade é tamanho que muitos participantes se assustam e dizem que não voltam jamais. Não conseguem. Ano seguinte estão aqui novamente buscando completar o desafio feito pelo vencedor em pouco mais de 50 minutos. Isto mesmo, cinquenta minutos, ou seja, não é prova para qualquer ser humano. 


A campeã 

A marca alcançada por Miranel Domingos parece inatingível para uma poços-caldense, pelo menos nos próximos anos. Dona de três títulos da Volta ao Cristo, ela faz parte do evento como poucos. Miranel é hoje integrante da equipe da Secretaria Municipal de Esportes e uma das responsáveis pelo Projeto do Amanhã, ao lado de Joana D’Arc. Na época das primeiras provas da Volta ao Cristo ela era apenas uma menina sonhadora que não tinha disputado nenhuma grande corrida. Sua estreia foi logo na Volta ao Cristo e com direito a pódio. “Comecei a correr aos 10 anos e apenas distâncias curtas. Dos 100 até 3000 metros eu ia em tudo’, conta Miranel, que competia pela equipe do Pelicano. O problema é que eram poucas corridas na cidade, as opções eram escassas com uma corrida ao ano. Ela queria mais e viu na Volta ao Cristo a grande oportunidade. “Me disseram que estava para acontecer esta corrida, um desafio grande, uma subida até o Cristo. Fiquei encantada, olhava para a estátua lá em cima e me imaginava participando daquela prova”, conta Miranel. “Muito louca, encarei, mesmo sem muito treino e fui terceira colocada. Isso foi o estopim para que eu continuasse a minha trajetória como atleta”, conta Mineral. As dificuldades da prova, a adrenalina e o lindo cenário fizeram com que Miranel se animasse e se tornasse um dos principais nomes da Volta ao Cristo. “Depois da primeira prova, toda vez que olhava para o morro dizia comigo mesma que aquela era a minha praia”, conta ela. O primeiro título veio quando ela tinha apenas 18 anos. Aos 19 e 20 anos ela emendou mais dois títulos, se tornando a única tricampeã da Volta ao Cristo. As conquistas foram nos anos de 1986, 1987 e 1988. 


Figuras 

Mas a Volta ao Cristo não é feita só para campeões ou super atletas. É para todos e por isso o evento se torna uma grande festa. São corredores que sobem e descem o morro do Cristo de tudo quanto é jeito. Tem aqueles que querem apenas completar o percurso, tem aqueles que querem aparecer mesmo e literalmente colocam uma melancia no pescoço. São fantasias de todos os tipos e cores. O que vale é participar da festa. Há ainda os veteranos. Quem não conhece Vitor Camilo da Silva. Aos 80 anos, ele ama a Volta ao Cristo, prova que disputou em quase sua totalidade de edições. Se recuperando de um infarto, Vitor Camilo não estará competindo como gosta, mas já avisou que vai acompanhar o evento de perto.  


Favoritos 

Poços de Caldas tem um histórico de poucas vitórias na Volta ao Cristo, mas a lista de favoritos é grande. Entre os homens, nomes como Fernando Sandi, Robson Alvarenga, Jonathan Barboza, Lucas dos Santos, entre outros, sempre chegam em ótimas condições. Já entre as mulheres, Márcia Gisele de Jesus e Milene Paiva estão voando e podem surpreender. Mas as disputas pelos primeiros lugares são bastante acirradas e geralmente vencidas por atletas de fora. 


Profissionais 

Mas a Volta ao Cristo tem outros profissionais interessantes e dedicados, todos membros da Secretaria de Esportes. Margareth Stano é até hoje uma dessas pessoas que se dedica muito para a Volta ao Cristo. Este trabalho ela faz desde a primeira edição e conta que é um dos eventos pelo qual nutre maior carinho. “Participo deste evento desde sua primeira realização com muito prazer. A Volta ao Cristo é uma prova que particularmente gosto muito de fazer, já que o contato com as pessoas é muito bom, pessoas de Poços, aquelas que vêm de fora e acabam até mesmo criando um vínculo. É muito legal rever estes atletas”, destaca Margareth, que se orgulha quando fala da organização da corrida. “Todo mundo elogia, tem uma palavra de carinho e isso é motivacional para cada vez a gente fazer melhor ainda”, pontua. Ela conta que mesmo a edição deste ano estar completando 39 anos, o carinho de toda a equipe na organização é como se fosse a primeira corrida. “A gente vivencia de tudo na Volta ao Cristo. Pessoas que numa corrida não vão bem, voltam no ano seguinte e conseguem melhorar o tempo, momentos de alegria e tristeza num desafio de 16 quilômetros que só quem vive numa esquece. O prazer de ter uma medalha no peito, mesmo que seja só de participação, é indescritível”, conta Margareth. 

Outra profissional da Secretaria de Esportes que vive a corrida é Schirley Correa Franco. Para ela, fazer parte do desafio da Volta ao Cristo é um prazer imenso, uma grande honra e coleciona histórias que leva para o resto da vida. 


“A mulher do dinheiro” 

Para elaborar esta reportagem, o Mantiqueira conversou ainda com a empresária Lúcia Longo. Hoje ela não faz mais parte da Secretaria Municipal de Esportes, se aposentou como funcionária pública, mas os tempos de Volta ao Cristo ficaram marcados. Lúcia era literalmente a “mulher do dinheiro” e trabalhava diretamente como assistente do secretário de Esportes, que durante a primeira edição da Volta ao Cristo era Lázaro Walter Alvisi. Ela ainda trabalhou com Luiz Antônio Campos, entre outros. Lúcia requisitava o dinheiro, pagava os atletas e emitia os recibos. Uma responsabilidade grande que ela fazia com maestria. “Me lembro de todo o processo de criação da Volta ao Cristo com as reuniões entre seu Lázaro e o Seu Olivino, conversas demoradas. Lázaro e Olivino estavam sempre juntos, seu Olivino tinha uma cabeça maravilhosa e trazia muita coisa, muitas ideias e foi importante demais não só para a Volta ao Cristo, mas para o esporte em geral, para as crianças que ajudou a tirar das ruas”, conta. Entre as criações de Lázaro Walter Alvisi na Secretaria de Esportes Lúcia destaca o Banho à Fantasia, evento que passou para a Secretaria de Turismo e isso contraria a ex-servidora da Secretaria de Esportes, que diz não se conformar. Voltando a falar da Volta ao Cristo, Lúcia se recorda de histórias já contadas, como a distribuição de fitas pelo percurso, o espeto com a ordem de chegada e a premiação em dinheiro, da qual era a responsável. “Vinha gente de todos os cantos, de todos os lugares, cidades que a gente nunca tinha ouvido e era tudo muito caseiro, muito doméstico, muito amador. A Secretaria não tinha estrutura, a cidade era muito pequena e a prova cresceu de um jeito que ninguém esperava”, conta Lúcia. Para ela, a Volta ao Cristo seria apenas mais um evento esportivo na cidade, recebendo corredores locais e um ou outro de fora, mas o que se tornou foi uma grande surpresa. Questionada do porquê ter deixado a Secretaria de Esportes, Lúcia disse que havia cumprido seu tempo e precisava de novos desafios de vida. Ela deixou o esporte em 1997, mas as histórias serão eternas. “Funcionário público é muito visado, lidando com dinheiro então fica mais difícil. Tenho muitas saudades das pessoas, mas ser funcionário público não é para qualquer um”, finaliza. Lúcia entrou na Secretaria em 1977 e esteve ao lado de secretários como Gaspar Eduardo de Paiva Pereira, Sebastião Vieira Romão, Lázaro Walter Alvisi, Luiz Antônio Campos e Luiz Carlos Veronesi, o Cao. 


 

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