segunda-feira, 9 de maio de 2022

Volta ao Cristo: como nasceu a difícil competição de Poços de Caldas

Poços de Caldas, MG – O Mantiqueira inicia hoje uma série de reportagens sobre a tradicional corrida Volta ao Cristo. No próximo domingo (15), a cidade recebe a 39ª edição deste evento que é considerado um dos principais do mundo, segundo revistas especializadas. Até sexta-feira vamos trazer matérias e entrevistas com pessoas que fizeram desta corrida motivo de orgulho para toda a cidade e que movimenta atletas de diversas partes do Brasil e do mundo para desafiar seu difícil percurso. 

A primeira prova 

O início da década de 1980 foi um dos mais importantes para o esporte de Poços de Caldas. Seu Chico Corredor já era um dos nomes de destaque na cidade, respeitadíssimo e corria competições em todo o Brasil. E foi numa destas suas aventuras em corridas de rua que nasceu a Volta ao Cristo. Seu Chico foi a até a cidade paulista de Leme. Lá já existia uma corrida de alto grau de dificuldade. Era a Volta ao Morro. Isto mesmo, foi esta corrida que deu origem à Volta ao Cristo. Depois de competir em Leme Seu Chico veio para Poços de Caldas empolgado. Por que não fazer uma corrida daquele porte? Daí em diante foram diversas conversas com pessoal influente do esporte. Na época o secretário de Esportes era Lázaro Walter Alvisi. Carlos Alberto dos Santos, o Lelo, Margareth Stano e Schirley Correa Franco já estavam na Secretaria. E foram eles que participaram das primeiras reuniões para discutir a criação da Volta ao Cristo. Lelo chegou a ir até Leme para conhecer um pouco daquela corrida que tanto encantou Seu Chico. “Foram muitas reuniões até que chegamos à conclusão que Poços tinha condições de fazer a prova. Mas aqui tivemos um diferencial, tínhamos um morro com uma estátua do Cristo, e aí veio o nome”, lembra Lelo. Os saudosos Marcelo Castelano e Luiz Cagnani também faziam parte da equipe da Secretaria de Esportes na época e foram fundamentais na criação da corrida. 

Parceiros 

Lelo destaca que parceiros foram fundamentais no projeto que se iniciava. Um destes parceiros foi o grupo Jovens Unidos por um Amanhã Melhor (Jupam). Ele conta que com a ajuda do pessoal do Jupam foi se desenvolvendo o projeto até que em 1983 aconteceu a primeira edição da Volta ao Cristo. No início a prova tinha largada na rua Assis Figueiredo, os competidores iam até a estátua do Cristo Redentor, retornavam pelo mesmo caminho e a chegada era na praça Pedro Sanches. O evento era daqueles que fazia com que todos saíssem de casa para ver os corredores desbravarem a serra São Domingos. Na largada e na chegada a festa do público com os atletas era contagiante. Quem presenciou aqueles momentos jamais esquece. 

Percurso 

Lelo lembra que foi juntamente com Seu Chico ver o percurso da prova que era todo de terra. O asfalto ia até o fim da rua Assis, mas depois era terra pura. “Fizemos o percurso e gostamos muito do que vimos. Depois averiguamos as condições técnicas para a realização da prova”, destaca. 

Números artesanais 

Quem vê a tecnologia de hoje não imagina nem um pouco como era difícil realizar eventos antigamente. Os números de identificação dos atletas eram feitos artesanalmente. Margareth Stano lembra que era até uma terapia pintar um a um. O problema era quando chovia, já que como eles eram feitos com tinta guache costumavam se apagar. “A gente comprava o tecido, desenhava os números e pintávamos, era uma época muito bacana já que a equipe se divertia muito fazendo este trabalho”, conta Margareth. 

Espeto 

Outra curiosidade era os espetos que marcavam a ordem de chegada dos competidores. Cada atleta tinha dois números de identificação, aquele pintado à mão na camiseta e um número menor que era colocado na manga da camiseta. Ao cruzar a linha de chegada este número era tirado pela equipe da Secretaria e colocado no espeto. Depois era só conferir a ordem dos papéis para ter certeza da colocação de cada um. “Esta era uma forma da gente conseguir corrigir algum possível erro”, conta Margareth. 

Cordões 

Para saber se o atleta realmente cumpriu todo o percurso e evitar aqueles engraçadinhos que pudessem tentar enganar a organização, cordões eram distribuídos no trajeto. O atleta precisava chegar com os três cordões, caso contrário era desclassificado. “Estes cordões eram segredo total. O atleta não sabia onde eles estavam e nem as cores deles. Então, apenas quando chegavam no percurso é que descobriam este segredo”, conta Lelo.  A primeira edição da Volta ao Cristo contou com cerca de 200 competidores. 

Primeiros vencedores 

Poços de Caldas esteve no pódio logo na primeira edição, Miranel Domingos e Joana D´Arc fizeram bonito. Enquanto Joana ficou em segundo, Miranel terminou em terceiro. “Foi minha primeira grande corrida, me surpreendi com o resultado e depois disso não deixei de disputar outras edições da Volta ao Cristo. Sempre estive presente nesta linda competição”, destacou Miranel, que é tricampeã da Volta ao Cristo. Ela é a única atleta campeã três vezes consecutivas da Volta ao Cristo. 

A primeira Volta ao Cristo foi vencida por Clésio Araújo e a prova feminina por Lucimara. 

Confira mais sobre a história da Volta ao Cristo na próxima edição do jornal Mantiqueira. 


 

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