sexta-feira, 6 de maio de 2022

Mãe de atleta: desafios e alegrias na vivência familiar e esportiva

relacionamentos entre mães e filhos que vão além de tudo que se conhece. Além de ser uma relação pautada pelo amor, carinho, dedicação e várias obrigações, o esporte também tem uma grande influência. Vamos citar exemplos nesta reportagem de mães que foram espelhos para os filhos seguirem na atividade esportiva. Mães que se dedicaram a vida toda em algum segmento esportivo, tiveram seus filhos e eles cresceram vendo a rotina da progenitora e resolveram seguir o mesmo caminho. Casos de Andréa Martins, responsável pelos projetos esportivos da Secretaria Municipal de Esportes, cujo filho vem se destacando no basquete. Miranel Domingos, que tem uma família de tradição no atletismo e vê seu filho Luiz Felipe ser uma das principais revelações na modalidade no Brasil. Já Maria Bernadete seguiu o caminho inverso. Ela se inspirou no filho Gustavinho Saraiva e resolveu aderir ao esporte como meio de uma vida mais saudável. 

Uma grande luta

Seguir a mãe Miranel Domingos no esporte não foi nada difícil para Luiz Felipe, um colecionador de títulos em competições de triatlo. Ele cresceu vendo a mãe acordando todas as madrugadas para ir aos treinos. Depois acompanhou as conquistas maternas em competições Brasil afora e decidiu que era isso que queria para sua vida. A mãe, claro, deu todo o apoio e suporte necessário para ajudar Luiz Felipe. E alguém acha que ela se arrepende? Jamais. Miranel disse que faria tudo exatamente igual.

“Foi muita luta, mas sou feliz pelo resultado que vejo hoje”, conta ela. O sonho do filho de ser atleta começou logo aos cinco anos de idade. “Foram diversas competições que a gente estava junto, incentivando, dando apoio, suporte em todos os aspectos, mas valeu a pena”, diz Miranel. O trabalho de mãe ficou ainda mais complicado quando ele completou 14 anos. Nesta fase de sua vida ele viu que poderia ir mais longe e resolveu ser triatleta. Miranel descreve que dali em diante a luta dobrou de tamanho. Para ajudar o filho nas disputas, ela lembra que foram várias ações, como rifas, para arrecadar dinheiro para proporcionar as oportunidades desejadas.  A luta é traduzida em resultados. Luiz Felipe vem conquistando números expressivos no Brasil e até mesmo no exterior. Mas hoje Miranel diz que ele corre por conta própria. A Lei de Incentivo ao Esporte também veio para ajudar bastante. Tem ainda apoio de empresas. E você pode estar questionando: a ajuda da mãe então agora não é mais necessária? Pode até ser que não, mas Miranel segue ao lado do filho contribuindo do jeito que pode. “Atualmente é uma luta em conjunto e agora ele é um ironman, mas estou junto na luta de seu sonho que é se profissionalizar como ironman. Vejo o apoio familiar como fundamental em qualquer aspecto da vida e neste sentido o Luiz Felipe não tem do que reclamar. Eu, o pai dele, a irmã somos seus principais fãs e incentivadores. Acho que se não fosse o apoio da família as coisas não aconteceriam para ele como aconteceram. Foi uma luta. Muitas vezes a gente deixa de comprar alguma coisa pra gente para ajudar ele, mas é assim que tinha que ser e foi assim que fizemos e por isso somos felizes hoje”, completou Miranel.


Um grande desafio

“Ser mãe já é um grande desafio com todas as circunstâncias que este papel traz. Ser mãe de atleta então bem se fala”. As palavras são da professora Andréa Martins, responsável pelos projetos esportivos da Secretaria Municipal de Esportes, mãe de Enzo Cândido Martins e Silva, jogador de basquete da Associação Atlética Caldense e que em quadra mostra um talento fora do comum. Talento este que faz de Enzo uma das promessas do clube, que já revelou nomes como Raulzinho, hoje destaque da NBA e seleção brasileira. “Nas minhas várias conversas com o Enzo sempre deixei claro que ser atleta é muito difícil, já que é preciso abdicar de coisas importantes, como lazer, da vida social, enfim, ter uma vida diferenciada”, conta Andréa. “É preciso ter dedicação total”, completa. Mas a professora conta que este foco nunca foi problema para Enzo, que desde muito pequeno se mostrou interessado no esporte e na possibilidade de ser atleta. Esta vocação esportiva ajudou Andréa em sua rotina. Quando ela saía para dar aulas e afazeres diversos, deixava o filho em alguma atividade esportiva. Ele também a acompanhava em eventos e com isso o interesse só foi aumentando. “Ele sempre praticou alguma atividade esportiva para que dessem certo meus horários de trabalho, ou seja, foi uma ajuda mútua. Enquanto eu ajudava o Enzo a realizar seus sonhos, ele me ajudava a ter mais liberdade nos meus afazeres”, conta a professora. Enzo praticou modalidades como capoeira, judô, jiu-jitsu, futebol, futsal, tênis de mesa, mas foi no basquete que se encontrou. São quatro anos na modalidade e diversos títulos regionais com a Caldense. Tudo isso acompanhado de perto nas arquibancadas e de casa pela mãe Andréa e toda a família. Depois de um período em Belo Horizonte, Enzo retornou este ano para a Caldense. “Ser mãe de um atleta é estar ali do lado na alegria e na tristeza, no pódio ou na última colocação, é estar junto num momento difícil como uma lesão e depois na recuperação. Estar junto na suplementação alimentar e na bobeirinha do doce que não pode comer. Ser mãe de atleta é algo surreal. Acredito que tenha muitas mães por aí que sabem perfeitamente o que estou falando e o que é ter um filho atleta dentro de casa. Quando a família está junto, quando se tem fé, um propósito, existe um foco e um objetivo, todas as dificuldades são vencidas, todas as adversidades são superadas. O esporte é ingrato. Tem um dia que você vence e no outro é derrotado, você chora de alegria ou de muita tristeza e é assim mesmo que a vida caminha”, destaca a mãe professora.

Andréa sabe que muitos objetivos ainda vão passar na vida do filho. Com apenas 16 anos, ele ainda é um menino sonhador, com muitas coisas aflorando em sua cabeça, então neste momento o apoio da mãe e dos familiares se faz muito importante. “Claro que sei do sonho de ser atleta de alto nível e tal, mas também acredito que as coisas vão acontecendo da forma que é preciso. Tudo tem sua hora certa. Hoje o Enzo é referência para os colegas de equipe, para os colegas de escola e, principalmente, referência para a irmã Hanna. Quando voltou para as quadras este ano, depois de ter passado por momentos mais complicados, teve um reflexo na irmã que também resolveu voltar para a prática esportiva. É um menino muito bom, um menino de referência. Eu, como mãe, onde eles decidirem ir, com meu marido estaremos juntos. Ser mãe neste momento, nesta formação do cidadão, é algo surreal, é a encrenca mais maravilhosa que uma mulher pode ter em sua vida. Ser mãe e sempre estar junto dos filhos nas escolhas, orientando e encaminhando, tudo é espetacular”, falou Andréa, que deseja muita força para todas as mães nesta data especial, principalmente para as mães de atletas como ela. “Fácil não é, mas temos que estar juntos neste propósito. Uma hora o que tiver que acontecer, com a graça de Deus vai acontecer. Se não for para ser atleta, que seja um cidadão de bem, uma pessoa honesta, trabalhadora, leal, profissional porque é isso que o esporte traz para nossa vida e de nossos filhos”, falou a professora.

Andréa vive dentro das quadras desde os 13 anos de idade defendendo Campestre, sua cidade natal, e após deixar as quadras se formou e há 25 anos trabalha na Secretaria de Esportes de Poços de Caldas. Este grande envolvimento com o esporte fez toda a diferença na sua vida e de seus filhos. “Minha casa respira esporte. Meu marido jogou futsal durante muitos anos e, claro, nossos filhos não ficaram de fora. A cultura esportiva traz diversos benefícios, mas também abre portas para o mundo. Atrás de um simples correr, atrás da bola, vem junto o conhecimento da modalidade, a responsabilidade, o respeito às regras, respeito à diversidade. O esporte nos educa a conviver como cidadão dentro de um mesmo espaço. Tenho que te respeitar, você respeita o outro e assim o respeito sai numa corrente do bem. Este compromisso com o esporte, esta vivência da prática da atividade física só tem a contribuir com as famílias. É isso que estamos vivendo hoje. Quando se tem o esporte incluído no contexto familiar, a cultura, os projetos sociais que estão tão aflorados neste retorno pós-pandemia, acho que só têm a fortalecer as famílias e o vínculo social na construção do cidadão”, finalizou Andréa.

Superação

Mãe do lutador e professor de jiu-jitsu Gustavinho Saraiva, do ex-jogador profissional e um dos principais empresários de futebol Valdir Souza e de Luciane Adolfo Funchal, nutricionista, o que não faltou para Maria Bernadete Souza Adolfo foi incentivo para praticar esporte. Ela não só seguiu o exemplo que teve dentro de casa como se tornou uma das principais atletas de corrida de rua de Poços de Caldas em sua categoria. Hoje, a orgulhosa mãe e atleta tem em sua casa uma infinita coleção de medalhas conquistadas em competições disputadas em diversas partes do Brasil. “Sou mãe de três filhos maravilhosos e eles são completamente ligados ao esporte, o que me ajudou bastante na transição de minha vida”, conta Maria Bernadete.

Exemplos

Maria Bernadete conta que sempre vibrou com as conquistas dos filhos e cita como exemplo Gustavinho Saraiva, atleta que figura na ponta do ranking em sua categoria, com títulos importantes conquistados no Brasil e no mundo no jiu-jitsu. “Eu e meu filho Gustavinho temos uma parceria muito grande através do esporte. Vibro com as conquistas dele e com minha superação através das corridas de rua”, disse Bernadete. “O fato de ter começado tarde no esporte é para ele uma grande alegria. Na verdade, meus filhos são meu espelho e responsáveis pela superação que tive em minha vida. Neste Dia das Mães só tenho que agradecer a Deus pelos filhos que tenho”, finalizou Maria Bernadete.

Caçula

Caçula entre os irmãos, o lutador Gustavinho Saraiva se enche de orgulho ao falar de sua mãe. “Minha relação com ela sempre foi algo muito especial, sou o filho mais novo e desde pequeno recebi muito carinho e apoio para aquilo que desejei fazer”, contou Saraiva. Ele diz que quando era mais novo jogava futebol e os pais sempre o apoiaram. “Aliás, se tem uma coisa que nunca posso reclamar foi da falta de apoio. Primeiro de meu pai e minha mãe e depois que perdi meu pai, minha mãe seguiu firme sendo meu ponto de apoio e incentivando meus sonhos. Deixei o futebol e fui para o jiu-jitsu, onde tive minhas conquistas, mas nunca vou esquecer todo o suporte dado pelos meus pais. Tenho em minha mãe um grande exemplo de amor à família, exemplo que guardo e tento aplicar na criação de minhas filhas e no cultivo da minha família”, falou Saraiva.

Ele lembra que quando perdeu o pai, sua mãe teve um período de luto difícil, mas nunca desistiu de ser feliz. “Logo ela começou a fazer algumas caminhadas e pouco depois deu início a treinos de corrida, daí então não parou mais. Para mim é um orgulho poder acompanhar por toda a vida tudo que vivemos e todos os exemplos que pude ter da minha mãe e de minha família. Agradeço todos os dias a Deus por ser seu filho e poder receber dela todo carinho”, finalizou Saraiva. 


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