Paulo Vitor de Campos
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Poços de Caldas, MG - A Associação Fonte de Vida Nova ganhou a mídia recentemente devido a um lamentável ocorrido. Tendo direito a explorar o estacionamento do show do grupo Roupa Nova e ficar com toda a renda angariada, a entidade acabou inexplicavelmente ficando sem o dinheiro, quase doze mil reais,que foram para as mãos de pessoas indevidas. A entidade colocou o caso na justiça. Paralelamente ao caso a entidade e segue com suas ações que beneficiam toda a cidade.
A entidade
A Associação Beneficente Fonte de Vida Nova foi fundada em 2 de maio de 2007 e sua sede fica na rua Pindorama, 415, Jardim Paraíso. A Associação é uma pessoa jurídica de direito privado de caráter filantrópico, assistencial, promocional, recreativo, cultural, educacional, sem fins econômicos, sem cunho político ou partidário e de âmbito nacional, com finalidade de atender pessoas em situação de vulnerabilidade social, independente de classe social, nacionalidade, sexo raça, cor e crença religiosa.
A reportagem conversou com a presidente da associação Luciene Rabelo Egídio Padovan, que destacou todo o trabalho realizado pela entidade em Poços de Caldas.
Mantiqueira - Quando começaram os trabalhos da entidade?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Em 2007 iniciamos com um trabalho que era feito no Santuário Mãe Rainha junto com as irmãs. Em 2012 as irmãs se separaram e assumimos o trabalho social que era feito até então e montamos uma associação sem o vínculo com o Santuário. Foi então que começamos com a Casa Lar Fonte de Vida Nova localizada próximo ao Sesc e no local acolhemos dez crianças com idades variadas. Temos crianças de 0 a 17 anos, depois, ao completarem 18 anos elas têm que sair da casa por terem atingido a maioridade.
Mantiqueira - Estas crianças são atendidas de que maneira?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Temos convênio com a prefeitura através do Serviço de Atendimento Institucional para Crianças e Adolescentes. Hoje temos duas casas que recebem estas crianças, que são a Casa Lar Fonte de Vida Nova, perto do Sesc, e outra no Cascatinha, a Casa Maia. As crianças atendidas nestas casas são encaminhadas pelo juiz ou pelo Conselho Tutelar. São meninos e meninas que foram retirados de suas famílias por alguma questão grave, como casos de violência, abusos, ou seja, direitos violados de forma grave. Nas casas lares as crianças recebem todo tipo de atenção que precisam até completarem a idade para irem embora ou até que o juiz avalie que elas podem retornar para suas vidas de antes.
Mantiqueira - Quais as atividades oferecidas?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Nossa sede, localizada no Parque Esperança, atende setenta crianças no socioeducativo. As crianças que estudam de manhã frequentam nossa sede no período da tarde e as que estudam à tarde são atendidas no período matinal. Temos ali um trabalho de oficinas, artesanatos, brinquedos, dança, dinâmicas, atividades lúdicas para que elas não fiquem na rua. Estas crianças chegam em nossa sede geralmente 7h30, uma hora depois é servido um café e antes de irem embora, por volta das 11h, elas almoçam e muitas seguem direto para a escola. No período da tarde a mesma coisa. As crianças almoçam logo que chegam e depois tomam café. Elas vão embora às 17h.
Mantiqueira - A entidade atende apenas crianças e adolescentes?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Não. Temos também um grupo de convivência de idosos que atende cerca de 12 pessoas, que fazem artesanato, passam momentos com a psicóloga, grupos de atendimentos. É um momento de lazer para que estas idosas não fiquem em casa e não desenvolvam problemas como depressão, entre outros. Prestamos ainda um trabalho de fortalecimento de vínculo que é feito por nossas psicólogas que atendem em três regiões da cidade, zonas oeste, leste e sul. Este trabalho e feito com as famílias e elas tentam fortalecer as bases para que não se quebre o vínculo entre eles e as crianças. Isto previne que não se quebrem direitos das crianças e que elas não precisem chegar até as instituições. Este trabalho é realizado com grupos no Cras, nas escolas ou onde tiver uma demanda carente, em parceria com a prefeitura. Temos ainda no Itamaraty 5 a Casa de Passagem, onde atendemos 50 pessoas em situação de rua. São homens, mulheres, famílias, todos em situação de rua que buscamos dar soluções para cada caso. As crianças só são atendidas se estiverem com o responsável. Nesta casa eles recebem café da manhã, almoço, café da tarde e lanche antes de dormir. Temos atividades para todos, buscamos inserir eles no mercado de trabalho. Para aqueles que possuem familiares na cidade é feito um trabalho para tentar reinserção no meio familiar. São casos bastante complicados e não é nada fácil lidar com as pessoas em situação de rua, mas é muito gratificante.
Mantiqueira - Precisa de muita gente para ajudar a entidade ir adiante?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Temos muita gente envolvida neste trabalho. Neste final de ano vamos realizar nossa festa de Natal e para isto precisamos de um padrinho para cada criança e precisamos de uma faixa de oitenta pessoas para atender todas as crianças. Mas a cidade abraça a causa, temos parceiros importantes, como Alcoa, Danone, Sesc, Curimbaba, enfim, muita gente boa. Já fomos contemplados em vários editais de Furnas. Recentemente, fomos contemplados com um valor em dinheiro pela Alcoa e este dinheiro serviu para a gente comprar todas as camas da Casa de Passagem. Compramos estas camas de ferro, modelo hospitalar. Compramos ainda os colchões hospitalares, material que dura muito mais. Compramos ainda um armário de aço para cada morador.
Mantiqueira - Como este morador chega até vocês?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Este trabalho tem uma política nacional e por isto não podemos passar por cima da lei e sair pegando gente pelas ruas da cidade. Não é assim que funciona. Existe o Plano Nacional Serviço de Acolhimento de Criança, de pessoas em situação de rua e esta política é toda construída em cima do SUS. É uma política única de assistência social. A constituição garante o direito de ir e vir para todo o cidadão, inclusive para aquele em situação de rua, e isto não pode ser violado de forma alguma. Quando a pessoa em situação de rua é abordada o trabalho para convencê-la a ir conosco, que será bom para ela, não é fácil. É um trabalho árduo. A pessoa em situação de rua tem uma dificuldade muito grande em aceitar regras, a rua não tem regra. Ali ele dorme onde quer, levanta quando bem entende, vai onde deseja. Dentro da casa tem regras e esta é nossa maior dificuldade. Recebemos os moradores em nossas casas através do Centro Pop, um serviço prestado pela prefeitura. Se eles colocarem estas pessoas na kombi obrigadas é uma violação de direitos e tanto a prefeitura, como nós, podemos ser acionados. Então, é um trabalho que tem que ser feito com muito cuidado, respeitando toda a lei para não acontecer problemas. Os portões da casa são abertos, não podem ser trancados. Eles têm seus horários de entrada e saída, mas o portão está aberto. Tentamos colocar regras, mas é muito difícil.
Mantiqueira - Como são os atendimentos no escritório central?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Temos neste escritório localizado no centro, com psicólogos e assistentes sociais que atendem as famílias das casas lares. As casas lares precisam chegar o mais perto possível de um lar e estas profissionais precisam trabalhar as famílias para que elas entendam que violaram direitos de seus filhos a ponto do juiz retirar a criança do seu lar. Esta criança tem o direito de estar com seu pai, com sua mãe, e as meninas tentam fazer este trabalho de aproximação. Se a família entender isto e a gente percebe que a família aderiu e está interessada em receber seu filho de volta fazemos um relatório de todos os acontecimentos e entregamos para o Judiciário. O juiz vai determinar depois se devolve ou não para a família.
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