Poços de Caldas, MG – Tânia Maria de Miranda Alcântara é um daqueles exemplos de pessoa que descobre o esporte mais tarde na vida. Ela tem 63 anos, completa 64 em novembro. Não é feio revelar a idade de uma mulher? Neste caso estamos fazendo por uma boa causa, uma causa que prova que nunca é tarde para mudar. Mudar é pouco, transformar a vida. No caso de Tânia a mudança é tão radical que os tempos que ela vem fazendo nas provas que participa já a coloca entre as melhores atletas do Brasil em sua categoria.
Saúde
Tânia descobriu ser pré-diabética e teria que mudar hábitos. O caso é de família, já que seu pai tinha diabetes. O conselho que recebeu da médica era ir para o esporte, buscar uma vida saudável para tentar ter mais qualidade no seu dia a dia. De uma hora para outra ela se viu nas corridas. No início era descompromissada de resultados, mas com o passar do tempo viu que tinha o chamado “jeito para a coisa”. Aos 61 anos ela participou de sua primeira corrida e seu primeiro pódio. “Corri sem expectativas, somente pelo prazer e pensando apenas na saúde, mas acabei me vendo subir no pódio e, melhor, em primeiro lugar na categoria”, contou Tânia. O resultado era o que faltava para a empolgação total. Dali em diante ela começou a disputar tudo que vinha pela frente, mas faltava uma orientação. “Nesta época não tinha a assessoria da Pé Q Voa que tenho hoje, não tinha técnica alguma. Eu só pensava que as corridas eram o caminho para minha qualidade de vida, para minha boa saúde, mas pensava também nos pódios, nos resultados”, conta. Onde tinha uma corrida lá estava Tânia, que acabou se especializando no percurso de cinco quilômetros.
Acidente
Mas a falta de técnica começou a atrapalhar e certo dia Tânia sofreu um acidente que a obrigou a ficar longe de sua mais nova paixão. Uma fratura na mão assustou. Ela correu três quilômetros com a mão quebrada e a dor foi mais uma superação que teve que enfrentar. Mesmo com a mão quebrada ela concluiu a prova e subiu no pódio como campeã da categoria. O resultado da fratura foram dois pinos na mão e quatro meses sem correr. “Acendeu uma luzinha e achei que era momento de procurar ajuda, um especialista em corrida para me ajudar na parte técnica e foi aí que apareceu o Zé Luiz e a Pé Q Voa na minha vida”, conta a atleta.
Os treinos
Orientada por Zé Luiz Azevedo, da Pé Q Voa, Tânia começou a ter conhecimento de novas técnicas e os caminhos corretos para não ter mais problemas nas corridas. “Comecei a aprender como correr, saber das técnicas e com isso fui deslanchando, melhorando e os resultados, que já eram bons, se tornaram ainda melhores”, conta. Já assessorada por Zé Luiz Azevedo a atleta foi campeã da Volta ao Cristo em sua cat egoria. Depois disso, vencer se tornou sua marca e viu ainda que seus tempos estavam cada vez melhores.
Melhor no geral
Com o ganho de rendimento, a atleta passou a ficar entre as melhores no geral. Na cidade de Vargem Grande ela foi campeã geral, resultado impressionante e que poucos atletas em sua faixa etária conseguem alcançar. Na Corrida da Apae ela foi quarta colocada geral e no último final de semana ficou na quinta colocação geral na Corrida do Imperador. “Minha cabeça entrou em parafuso, falei para mim mesma que consigo, que posso me tornar melhor ainda. Se sou competitiva comigo mesma, se consigo ser melhor no que faço, por que não tentar? E estou indo. Me sinto bem, uma boa assessoria ajuda muito e recomendo aos iniciantes”, destacou. Para Tânia quem começa precisa ter alguém para mostrar o caminho, uma boa academia de musculação que respeite a pessoa como corredor e uma boa alimentação, além de um bom tênis, para evitar lesões.
Internacional
Tânia é também atleta internacional. Ela correu em Punta Del Leste, Uruguai, e terminou na sétima colocação geral e 28ª entre homens e mulheres. “Foi sensacional, mas não posso esquecer de uma pessoa que me incentiva o tempo todo, está sempre comigo, me impulsiona, me acompanha em todas as competições , é meu amuleto da sorte, meu marido Daniel. Sem ele não sei se estaria onde estou e meu marido é uma pessoa muito importante pra mim”, falou. “Correr hoje pra mim é vida, fico feliz a cada corrida concluída, o sentimento de cheguei é indescritível e o mais importante é você não querer pensar que a vitória é uma obrigação. O importante é você conseguir vencer no seu limite, se sentindo bem, principalmente pela minha idade”, terminou a atleta. Questionada se começou tarde no esporte, Tânia esbanja sabedoria e diz que tudo tem seu tempo. Ela acredita que talvez se tivesse começado nova mão estivesse preparada e poderia ter desistido pelo caminho. Aliás, o amor com que Tânia fala das corridas dá até vontade de pegar o tênis guardado no armário e arriscar alguns quilômetros. Tânia conta que o amadurecimento é muito bom e lembra que quando jovem era tímida, medrosa e isso ficou para trás, assim com os outros corredores que ela se depara pelo caminho.
Melhor do Brasil
O Mantiqueira conversou com Zé Luiz Azevedo, da Assessoria Pé Q Voa e responsável pelos treinos de Tânia. “Quando ela me procurou com o histórico de pré-diabetes elaborei todo um planejamento, mas ela acabou me surpreendendo e mostrando ser uma pessoa muito competitiva e rapidamente se tornou uma das melhores corredoras da região em sua faixa etária e isso é maravilhoso. Hoje vejo a Tânia como a maior revelação brasileira master dos últimos tempos. Acho que no Brasil não tem nenhuma corredora com 63 anos que corra distância até cinco quilômetros e tenha o desempenho que a Tânia tem”, disse Zé Luiz. Ele destaca que existe um projeto para 2023 para Tânia correr o Campeonato Brasileiro master. “Tenho certeza que na faixa etária dela hoje ela é a melhor corredora”, finalizou.
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