Poços de Caldas, MG – O Poços de Caldas FC terminou no último domingo sua participação no Campeonato Mineiro da Segunda Divisão. O resultado em campo ficou longe de agradar o torcedor e, muito menos, a diretoria. Foram seis derrotas e um empate em sete jogos e a segunda pior campanha de todo o campeonato, além de ter sido a pior campanha da equipe numa competição desde sua fundação. O Mantiqueira conversou com Alessandro Gaiga, que lamentou o que se viu em campo, pediu desculpas para a torcida, lamentou a desastrosa parceria com um grupo da cidade de Nova Odessa, mas comemorou o saneamento das dívidas. Falou ainda de projetos fora do futebol profissional e vislumbrou horizontes melhores para o time laranja e preto de Poços de Caldas.
Mantiqueira – O que aconteceu com o Poços de Caldas Futebol Clube?
Alessandro Gaiga – Antes de mais nada não tenho como começar esta entrevista sem pedir desculpas para nosso torcedor. Desculpas também aos parceiros, aos amigos e à imprensa porque foi uma coisa surreal e totalmente fora de nosso planejamento e da nossa ideia. Falo abertamente que foi a pior campanha da história do Vulcão dos seus quinze anos de existência e não tenho nem como negar a decepção, não dá para tapar o sol com a peneira.
Mantiqueira – O que deu realmente errado e saiu do controle?
Alessandro Gaiga – A parceria foi um dos calcanhares de Aquiles, serviu para nos mostrar que não dá certo para nós e não vira. No primeiro ano de nossa gestão fizemos um campeonato com pouquíssimo dinheiro, era a segunda menor folha de pagamento do Campeonato Mineiro e terminamos em quarto lugar e a quatro pontos do time que subiu e a um ponto do Uberaba, time que tinha um investimento infinitamente superior ao nosso e fizemos um grande campeonato. Ano passado também fizemos um bom campeonato, classificamos, chegamos nas quartas de final, perdemos no último minuto do segundo tempo em Teófilo Otoni, tivemos a chance de chegar na semifinal, ficamos em sétimo lugar numa grande campanha, levando em conta o projeto do ano passado que tinha 80% de jogadores no time de Poços de Caldas, uma folha de pagamento bem baixa e a campanha foi bastante satisfatória.
Mantiqueira – Mas então por que fechar uma parceria para este ano?
Alessandro Gaiga – Em todas as reuniões de planejamento a diretoria não queria colocar o time em campo este ano e a prioridade seria terminar de pagar as contas, acabar de vez com as dívidas do clube. Ficou decidido que não abriria mão disto e por isto a gente teria pouco dinheiro para jogar este ano. Mas assumo que foi por minha insistência colocar o time em campo, já que alguns não aprovaram esta ideia, mas eu prometi para a torcida em 2020 que a gente não pararia mais, acabei sendo teimoso, cabeçudo e ido contra. Talvez se eu tivesse amarelado naquela hora, explicado a situação, a gente poderia não ter passado por este vexame. Enfim, minha insistência acabou fazendo a diretoria recuar na decisão de não jogar, acatou minha vontade e deu no que deu. O Fábio Paulista acabou conseguindo esta parceria, depois ele mesmo desistiu, não quis mais e novamente insisti e disse para a gente fechar e ir para o campeonato. Assumo a responsabilidade por tudo que aconteceu, mas a gente acreditou que com a parceria a gente poderia fazer um campeonato bom e isto acabou não acontecendo.
Mantiqueira – O que deu errado com a parceria?
Alessandro Gaiga – O fato da pré-temporada ter sido realizada fora daqui foi fundamental, isso tirou dos nossos olhos o dia a dia. Talvez se o Fábio tivesse identificados os problemas, ele que tem um entendimento muito grande do que é um Campeonato Mineiro da Segunda Divisão, as coisas poderiam ter dado certo. O pessoal do Nova Odessa não tem noção do que era este campeonato e na boa intenção montou um time que achavam que daria para jogar, mas não deu. Acredito que se estivéssemos próximos no dia a dia o Fábio teria tempo hábil para identificar os problemas e tentar corrigi-los. Ficamos longe e quando o time chegou já estava praticamente tudo definido, a maioria dos atletas inscritos e a gente pouco tinha a fazer. Tudo é muito caro e este ano só em taxas de transferências e inscrições foram mais de R$ 40 mil e por isso não tinha como a gente mudar muito o elenco, mesmo assim ainda tentamos de última hora, trouxemos o Davy, o Gui, mas tudo saiu errado e não era o que a gente imaginava. Além do mais o campeonato é forte, times que a gente viu que tem investimento de empresários e vieram para subir de divisão, investimento alto e a gente também não esperava por isso. O exemplo é que os líderes do campeonato são times pouco conhecidos, que acabaram de surgir, como o caso do Villa Real, Itabirito, Norte, entre outros. São nomes desconhecidos de times que já vieram com dinheiro para o acesso.
Mantiqueira – Mas, e as contas? A situação é realmente melhor?
Alessandro Gaiga – Apesar de tantas derrotas dentro de campo, apesar de tantas dificuldades, fora de campo a gente está conquistando muita coisa e conseguimos muitas vitórias este ano. Já preparamos toda a documentação, a assembleia já foi feita para o Poços de Caldas se transformar numa Sociedade Anônima do Futebol [SAF]. Chegamos num ponto de quitação das dívidas como proposto no início do ano e acredito que podemos mudar para 2023 como um dos poucos clubes profissionais do Brasil sem dívida. Temos alguns projetos já encaminhados para o ano que vem e novidades estão vindo. Alguns destes planejamentos estão começando agora numa antecipação que nunca foi feita antes. Como disse, fora de campo muita coisa boa acontecendo, investidores querendo chegar, estamos em várias negociações e fora de campo estamos conseguindo nos estruturar e cada vez ficando mais forte.
Mantiqueira – O grande problema de se tornar SAF é justamente o investidor. O que se pode falar neste sentido?
Alessandro Gaiga – Por enquanto nosso grupo continua o mesmo, mas temos algumas conversas bem adiantadas com possíveis investidores. Inclusive hoje, quinta-feira, dia 22, temos uma reunião geral com a diretoria, uma reunião com hora marcada para começo e sem hora para acabar e muita coisa será definida. Esta semana tive uma longa reunião com o Fábio Paulista, vice-presidente, preparamos a pauta da reunião de hoje e acredito que teremos muita lavagem de roupa suja, vamos apurar todos os pontos que deram errado, o que deu certo, sei que foram poucas coisas, e já começar o planejamento para 2023. O que posso garantir para o torcedor é que não vamos passar mais vergonha.
Mantiqueira – Como anda o Poços de Caldas FC fora do futebol?
Alessandro Gaiga – A menina dos olhos da nossa diretoria é o futebol feminino. Chegamos a dar o pontapé inicial no futsal, tivemos que dar uma parada agora no Campeonato Mineiro e estamos retomando os projetos. Queremos levar adiante o futsal feminino e posteriormente o futebol de campo das mulheres. Queremos prioridade, será uma das grandes pautas da reunião de hoje, são as categorias de base, sub-20 e sub-17. Temos também o projeto da escolinha, que era para ter sido inaugurada em agosto, mas foi adiada devido a todos os problemas que passamos no profissional, mas a escolinha vai sair e levar futebol para alunos a partir dos cinco anos de idade até 14 anos, e vamos conseguir cobrir todas as faixas etárias. Quero ainda destacar o nosso futebol de mesa, pouco divulgado, mas fazendo bonito. Nossa equipe de futebol de mesa está disputando etapas do Campeonato Mineiro, vai disputar o Brasileiro e nas diversas competições que vem participando conseguiu ótimas colocações. São nove jogadores do futmesa representando o Poços de Caldas Futebol Clube com muito destaque. Outro projeto que continua andando muito bem é o E-Sports, o Bruno continua com a equipe fazendo um grande trabalho.
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