PAULO VITOR DE CAMPOS
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Poços de Caldas, MG - Campeã da UD 120 km, em Passa Quatro, campeã da Ultramaratona Caminhos de Aparecida, 280 km, segunda colocada da Insane 100 km, disputada no Pico do Gavião, quarta colocada geral e campeã da categoria da Ultramaratona Brazil, em Caieiras com 162 quilômetros, ficando a apenas a oito quilômetros da classificação para o campeonato mundial. Estes resultados ilustram a dedicação e a força de vontade de uma mulher, que, até pouco tempo, sequer praticava o esporte e hoje vem se tornando uma das principais atletas de ultramaratonas do Brasil. Luciene Rabelo Egídio Padovan, 51 anos, pesava quase 94 quilos e sequer sonhava com as trilhas e montanhas nas quais convive hoje. Aconselhada a praticar esporte por motivo de saúde ela resolveu mudar de vida. Isto aconteceu em 2017. Com apenas três anos praticando esporte o resultado pode ser visto em seu corpo e nas conquistas das várias competições ao longo deste período. Mesmo com visível resultado, Luciene quer mais. Em março ela disputa a Ultramaratona 300 Km na cidade de Tiradentes e em julho o foco é conseguir o índice para o Campeonato Mundial. Ela faz parte da equipe Vogo Assessoria e os treinos são focados neste objetivo. Seu peso atual é de 64 quilos e ela não esconde um imenso sorriso ao falar desta mudança. “Com perseverança e determinação tudo na vida é possível”, diz ela.
Mantiqueira - O que levou você a entrar para uma modalidade tão difícil como a ultramaratona?
Luciene Rabelo Egídio Padovan - Estava acima do peso e me limitava a apenas fazer exercícios em academias. Era questão de saúde e fui aconselhada pelo médico a perder peso. Fui convidada por uma amiga a fazer parte de uma equipe e acabei aceitando. Confesso que no início fui contrariada, pois não era bem o que eu queria. Comecei a praticar corridas, no início cinco, depois dez, quinze quilômetros e fui gostando cada vez mais. Quanto mais eu corria mais o meu corpo pedia para seguir correndo.
Mantiqueira - E como foi a transição de uma atleta “comum” para uma ultramaratonista?
Luciene - Foi quando comecei a treinar com o Rafael Matos e a participar das ultramaratonas. Competi pela primeira vez a Maratona 25 Km em Águas da Prata e consegui um grande resultado ao terminar em quinto na classificação geral e campeã em minha categoria. Ali foi o início desta paixão e fui buscar outras provas, outros desafios, outras metas. Os resultados começaram a aparecer muito rápido. Fui campeã em Passa Quatro, sexta colocada geral na UP Hill em Florianópolis, onde consegui o título Samurai. Fui segunda da Insane, em Águas da Prata, e na última prova que disputei, em fevereiro, em Caieiras, fiz as 24 horas e por muito pouco não consegui o índice para o Campeonato Mundial. Foram 162 quilômetros completados, terminei na quarta colocação geral e faltaram apenas oito quilômetros para que eu conquistasse o índice para representar o Brasil no Sul-Americano e para o Campeonato Mundial. Estes são meus objetivos e vou voltar lá este ano e buscar esta meta. Não vou desistir.
Mantiqueira - Como é para você disputar uma ultramaratona hoje?
Luciene - Com certeza bem mais tranquilo que antes. No começo era horrível e muitas vezes questionava se era o certo a fazer. Perguntava o tempo todo o que fazia em determinada prova. Com orientações corretas e os treinos com o Rafael encontrei o jeito certo de competir em alto nível. Aprendi técnicas, os treinos eram mais específicos e hoje é bem mais tranquilo. Quando mais você corre, mais vai correr e foi o que aconteceu comigo. Teve ainda um trabalho de fortalecimento com diversos treinos como pilates, ioga, pole dance, onde consegui fortalecimentos nos braços e pernas, enfim, todo o corpo. Tudo tem que ser feito com responsabilidade e acompanhamentos. Eu sou acompanhada por nutricionistas esportivos, realizo exames do coração periodicamente, fisioterapeutas. Se hoje sou uma atleta preparada para grandes desafios isto não foi conquistado da noite para o dia, porém, meu desenvolvimento foi bem rápido.
Mantiqueira - A geografia de Poços favorece nos treinos?
Luciene - Com certeza. Quando vou para uma competição percebo que muitos sobem uma trilha com bastante dificuldades, mas eu faço de forma tranquila graças a nossas montanhas. Aqui temos diversos pontos de treinos que facilitam muito nossa vida na hora de uma corrida. Os treinos são bem fortes durante um período, mas quando está chegando a data da competição estes treinos são reduzidos gradativamente. Isto ajuda para um relaxamento dos músculos e para que no dia da corrida a gente esteja numa boa condição para correr.
Mantiqueira - Como é definido seu calendário de corridas?
Luciene - Antes eu me inscrevia nas provas e falava para o Rafael o que ia fazer e assim ele ministrava os treinos para aquela determinada competição. Quando a coisa começou a ficar mais séria busquei mais orientações com ele para realizar a programação de forma mais correta e profissional.
Mantiqueira - Como funciona sua equipe de suporte durante as provas?
Luciene - Minha equipe são meus filhos Felippe e Carlos. Durante as provas eles acompanham de carro o percurso e em determinados pontos me dão suporte para seguir na competição.
Mantiqueira - Aonde quer chegar?
Luciene - Correndo sempre e buscando desafios sempre. Adoro correr e quero fazer isto para sempre.
Retranca
Treinador de Luciene destaca força e determinação da atleta. “Poucas vezes vi algo parecido”
Poços de Caldas, MG - Rafael Matos tem mais de 30 anos competindo pelos mais diversos lugares do Brasil e nas mais difíceis maratonas. Ele é um dos treinadores da equipe de Luciene Padovan, que é acompanhada por vários profissionais. Rafael é o responsável pela aplicação direta dos treinos da atleta. Especialista em ultramaratonas, ele é um dos segredos do bom rendimento de Luciene num espaço de tempo tão curto.
O treinador destaca a força de vontade e determinação de Luciene. “Ela é um grande talento que se tivesse começado mais cedo no esporte certamente teria até mesmo representado o Brasil em Olimpíadas e campeonatos mundiais”, disse. “Em três anos ela saiu do anonimato e já disputa vaga para o Mundial. Sem dúvida, um grande feito para mais este talento surgido em Poços de Caldas”, conta Matos. Rafael está bastante otimista com a atleta na busca pela vaga no Mundial. Na primeira tentativa ela quase conseguiu, mas ele garante que agora vai. “Faltou experiência para a Luciene, infelizmente não pude acompanhá-la de perto, mas agora ela terá novas oportunidades e certamente vai conseguir com tranquilidade. Na minha vida vi poucas pessoas com a determinação que ela tem, isto já é um grande caminho para o sucesso”, finalizou o treinador.
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