domingo, 30 de outubro de 2016

“A dedicação é o caminho”, garante o veterano atleta Luiz Lotti Neto, o Gijo Gijo

Poços de Caldas, MG - O entrevistado deste domingo é Luiz Lotti Neto, o Gijo, atleta veterano de Poços de Caldas, referência para os atletas. Ele conta um pouco de suas aventuras e o amor pelo ciclismo. Gijo tem títulos importantes tanto no Brasil quanto no exterior. Campeão Pan-Americano, Brasileiro e Paulista são  um dos exemplos da capacidade do ciclista de Poços de Caldas. Gijo faz parte da Comissão Municipal de Incentivo ao Esporte e tem apoio da Incorpe e patrocínio da Climepe Total, Hotel Nacional Inn e Hard Rock Bike.

O início
“Comecei em 1982 com o bicicross, sendo um dos pioneiros deste esporte em Poços de Caldas. A primeira corrida aconteceu no pátio da antiga Vemisa, onde improvisamos uma pista. Depois de algum tempo acabei deixando o bicicross, fui para os Estados Unidos, onde passei uma temporada. Quando voltei, nos anos de 91/92, o Brasil vivia a era do mountain bike e novamente fui o primeiro organizador de uma prova da modalidade em Poços. A primeira competição na serra do Cristo foi organizada por mim e pelo Carlinhos da Poços Peças. Sempre estive envolvido em qualquer esporte que tinha bicicleta. Em 1995 migrei para o triátlon e novamente fui pioneiro na cidade nesta modalidade, competi várias provas, tanto em Poços quanto fora, até que mudei de esporte, mas continuei em duas rodas, pois passei a competir no motocross. Mas no motocross não teve como ficar por muito tempo, já que o investimento era muito alto. Então voltei definitivamente para o mountain bike”.

Desafio
“Antes eu não buscava resultados. Competia mais pelo prazer, sem me preocupar se ia ou não chegar em primeiro. Certo dia uma pessoa me desafiou e disse que eu não tinha condições de buscar um bom resultado numa competição internacional. Isto me incentivou a treinar cada vez mas forte e mudei o foco. Ao invés de correr apenas por correr passei a buscar os resultados para provar para todos e para mim mesmo que eu era capaz sim de vencer provas no mountain bike. Hoje posso dizer que sou um atleta de alto nível e devo isso a mim mesmo, a minha dedicação ao esporte, que envolve desenvolvimento pessoal, mental, físico, fundamentais para ser um vencedor. Se você não tiver com a cabeça boa não adianta querer competir pois não vai conseguir se sair bem. Além do mais, o investimento numa bike é muito menor que numa moto”.

Aventuras
“Graças a Deus através de uma bicicleta já conheci muitos lugares do Brasil e até mesmo do exterior. Minha primeira aventura de bicicleta foi uma viagem até Aparecida, indo por Campinas, pedalei 400 quilômetros em dois dias. Quando fiz esta viagem não tinha nenhum preparo e quando cheguei em Itatiba estava com muitas câimbras e não conseguia nem andar. Ainda tive que pedalar mais 200 quilômetros, chegando a Aparecida às oito da noite. Fui pegando gosto pela coisa, percorri o caminho da fé, sendo que todo o percurso é dentro do mato e fiz em três dias e meio. Depois não parei mais e com os treinos ficou mais fácil. Estive no deserto do Atacama, subimos a cordilheira, saímos de uma altitude de 2 mil metros e fomos para quase 4 mil e oitocentos metros em duas horas e meia de travessia. Uma aventura que jamais vou esquecer. O visual é inexplicável e maravilhoso e apenas por fotos não dá para contar o que a gente sente numa aventura assim. Vale a pena fazer uma viagem deste tipo, que fica marcada para o resto da vida.”

Evolução
“Sou um grande crítico de mim mesmo. Antes, quando eu ia para as competições apenas para participar não valorizava os resultados, mas hoje é diferente e não sou apenas mais um, como anteriormente. Hoje tenho um ciclo de treinamento que começa pela fase de volume, a de treinos específicos e a fase de polimento. Este ciclo tem que ser feito todo o ano e se por acaso o atleta não completa um destes ciclos não irá se dar bem na temporada. Isso exige uma grande disciplina, que não pode ficar gripado, não pode dormir tarde, tem que respeitar os dias de descanso e não querer treinar o tempo todo. O corpo tem um limite que precisa ser respeitado. Não é fácil seguir o rigor dos treinamentos que exigem muita dedicação. O atleta tem que treinar inclusive nos dias de tempo ruim e em condições desfavoráveis, mas somente assim vai crescer dentro do ciclismo. No meu caso é mais complicado, já que não sou um profissional e tenho que trabalhar para ganhar meu sustento. Por isso preciso arrumar horários para cumprir os ciclos de treinamentos. Não é fácil, mas é muito gratificante. Treino uma hora ou uma hora e meia ao dia e as pessoas ficam admiradas pelo meu nível técnico com tão pouco tempo pra treinar. Chegar aonde cheguei não é fácil, mas com treinamentos, disciplina e dedicação qualquer pessoa pode conseguir. Eu mesmo sou meu treinador. Faço planilhas, sigo livros, enfim, sou um grande estudioso do assunto e acho que está dando certo devido aos resultados que venho conseguindo no ciclismo. Cada dia aparece um item novo e é preciso estar ligado para não ficar atrás no tempo. O que tento frisar para todos que me perguntam o segredo da vitória é que a dedicação é o caminho, pois ninguém é melhor que ninguém”.

Benefícios do ciclismo
“A prática do ciclismo só traz benefícios aos seus praticantes. Uma grande vantagem do ciclismo é que ele não causa lesões e muita gente de outros esportes migra para o ciclismo justamente por isto. É possível ir do centro ao Bortolan em uma hora enquanto que um corredor vai em cinco horas e ainda corre risco de lesões graves. Ainda tem os benefícios para o coração, para a mente, você fica com o corpo mais leve. Você esquece a vida sedentária, começa a querer sempre percorrer grandes distâncias, ajuda a deixar de fumar para melhorar seu desempenho. Às vezes você vê que seu colega perdeu barriga por estar praticando o ciclismo e você vai querer seguir este caminho. Resgatar a saúde e o bem-estar também está ligado ao ciclismo que ainda te dá inúmeras vantagens. Você faz um caminho bonito, no meio do mato, com cachoeiras e em meio a amigos. Poucos esportes conseguem este feito. Conheço gente que antes era drogada e hoje tem outra mentalidade graças ao esporte e principalmente ao ciclismo. Eu mesmo não vejo minha vida sem o ciclismo. Não tem jeito de parar mais até porque sou um espelho para muitos”.

Esporte acessível
“O ciclismo de alto nível é caro. Uma bicicleta top de linha e todos os equipamentos necessários são para poucos, mas para se fazer um ecoturismo já é bastante acessível e com pouco dinheiro pode se ter um bom equipamento e se divertir bastante. A travessia do Chile, por exemplo, fiz com uma bike de baixo valor exatamente para mostrar que o que manda é você, sua determinação, sua vontade e a bike é apenas um acessório. Claro que para competir tenho uma bike mais top de linha, que já não é tão acessível”.

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