sábado, 22 de outubro de 2016

Sucesso no futsal mundial, Rubinho tem projetos importantes para Poços

Poços de Caldas,MG - Rubio Guerra Júnior se tornou o principal responsável pela evolução do futsal no Golfo Árabe. O ex-jogador da GM Costa, time histórico do futsal de Poços, e com passagens importantes pelo futebol de campo da Caldense, Rubinho deixou o Brasil em 1996, mas chegou aos Emirados Árabes em 2007. Foi o primeiro brasileiro a chegar no Qatar, onde ficou três anos. Depois foi para o Kuait e Emirados Árabes Unidos. Lá ele começou a desenvolver o futsal num trabalho pioneiro que rendeu muitos frutos e amizades importantes. Rubinho ficou 10 anos na região, mas acredita que o ciclo chegou ao fim e volta a Poços de Caldas com projetos ambiciosos e quer colocá-los em prática na Associação Atlética Caldense. Mas Rubinho não abandona o trabalho internacional e esta semana segue para a África do Sul para um período de 15 dias. “Vou em busca de novos horizontes, novos mercados e acredito que posso ajudar um pouco com meu conhecimento, ver o que os africanos estão pensando em fazer no futsal para tentar ajudar”, disse Rubinho, que está na entrevista especial deste domingo do Mantiqueira. Técnico das seleções do Canadá, Qatar, Kwait e Emirados Árabes Unidos, campeão argentino como jogador do News Old Boys e com passagens pelos principais clubes do Brasil, Rubinho conta dos planos para a volta a Poços e da possibilidade de assumir um importante cargo no futsal da Caldense.

Mantiqueira - Nesta sua volta a Poços de Caldas quais são os projetos? O futsal da Caldense seria sua nova casa?
Rubinho - Estamos conversando com a diretoria eleita da Caldense. O sr. Antônio Bento Gonçalves se interessou bastante pelas ideias e vamos nos reunir em breve para conversar como colocar na prática tudo que estou pensando. Vamos nos reunir e conversar sobre o cargo de gerente de futsal da Caldense e quero levar competições importantes com times do Brasil e do exterior. Durante esta minha viagem para a África do Sul vou fazer os contatos iniciais e tentar trazer algum clube de lá para Poços de Caldas, levar gente importante do futsal para fazer palestras no clube. A Caldense tem muita estrutura e será bem mais fácil trabalhar agora e fazer o futsal da cidade e do clube voltar a ser forte nacional e internacionalmente. Estou muito feliz com a possibilidade deste projeto dar certo, pois tenho muitos contatos no mundo do futsal e tenho tudo para ajudar o futsal da Caldense a crescer muito nos próximos anos.

Mantiqueira - Você pensa em trabalhar com os garotos?
Rubinho - Com certeza, pois tenho o projeto Mané da Pinta, que vai trabalhar com meninos de 19 anos para baixo. Acredito que se fizermos um trabalho sério, bem desenvolvido com os meninos na faixa de 5 a 19 anos, logo teremos times capacitados e representando bem a Caldense e Poços de Caldas em qualquer competição. Neste projeto poderemos aproveitar meninos da cidade e da região e disputar campeonatos importantes representando a cidade.

Mantiqueira - Como foi seu início na vida esportiva?
Rubinho - Comecei no futsal com o sr. Mané da Pinta na Caldense, clube que sempre foi minha casa.  Joguei profissionalmente na Caldense por seis anos, cinco como titular do time principal. Não me considero um grande jogador. Fui um jogador mediano, porém, quando estava em campo, demonstrei muita vontade e, principalmente, amor pelo clube e sua camisa. Joguei na Caldense em uma época em que o clube não tinha dinheiro. Fazia-se futebol na raça. Hoje, o clube tem dinheiro, pode pagar bem aos jogadores, possui uma estrutura maravilhosa que antes não existia. Hoje a Caldense oferece uma estrutura para o jogador de primeiro mundo. É uma estrutura que deveria colocar o time em uma série B ou C do Brasileiro e acredito que isto vá acontecer em breve.

Mantiqueira - Como é estar tanto tempo longe de Poços de Caldas?
Rubinho -  Desde que saí de Poços de Caldas consegui um espaço muito bom fora do Brasil como treinador de futsal adulto. Claro que viver longe de minha cidade por tanto tempo foi muito ruim. Às vezes, ao mesmo tempo em que estava feliz batia uma saudade muito grande. Teve benefícios também. Minha filha fala inglês, espanhol e teve contato com muitas culturas diferentes da nossa, mas acredito que chegou o momento de voltar, ficar perto dos familiares, dos amigos. Tenho muita experiência e tenho certeza de que tudo que aprendi nestes anos fora do Brasil me dá suporte para desenvolver um bom trabalho em minha cidade.


Mantiqueira - A que se deve o seu sucesso fora do Brasil?
Rubinho - Tive que trabalhar bastante o marketing pessoal. Cheguei aonde cheguei praticamente sozinho. Devo muito ao presidente da Federação Mineira de Futsal, onde fiz meus cursos de futsal, trabalhei durante seis anos, aprendendo a fazer projetos, lidar com escolinhas. A passagem que tive com meu irmão pelo News Old Boys da Argentina foi fundamental e me ajudou a ver como funcionava o futsal no mundo. Isto aconteceu em 1994 e ali tive uma noção do que era o futsal e como ele estava evoluindo. Ao me tornar treinador tentei colocar em prática o que tinha aprendido e consegui contatos importantes com pessoas, dirigentes e federações por todo o mundo a até hoje ajudo nos bastidores para que as coisas aconteçam.

Mantiqueira - Mas sua volta é definitiva ou as portas ficam abertas fora do Brasil?
Rubinho - Quero que os projetos em Poços de Caldas, na Caldense, sigam para frente. Neste caso fico aqui mesmo. Tive propostas para voltar ao Kwait, mas prefiro ficar aqui e tentar ajudar o futsal local a evoluir.

Mantiqueira - Porque o futsal ainda não é olímpico?
Rubinho - Vai precisar de novas regras para isto acontecer. Existem divisões que não fazem bem para nosso futsal e os dirigentes precisam se unir para acabar com isto e assim fazer o esporte crescer mundialmente. Fazer parte de uma olimpíada ainda depende desta união.

Mantiqueira - O Brasil acaba de fazer feio em um Mundial. O que você acha que está errado?
Rubinho - Foi eliminado pelo Irã, região onde ajudei a difundir o futsal. O Brasil passou por problemas, greve de jogadores, brigas com dirigentes e neste processo perdeu-se patrocínio e a preparação para o Mundial não foi adequada. Faltou ser equipe, preocupou-se muito em ajudar o Falcão a bater seus recordes e por isto acabou eliminado. Temos potencial para montar cinco grandes seleções, mas é preciso acabar com vaidades individuais para voltarmos a ser os melhores do mundo como sempre fomos.

Mantiqueira - Como você lidou com a diferença de culturas?
Rubinho - Tudo foi um pouco complicado, até mesmo as mudanças de clima. Deixei o Canadá com 30 graus negativos para ir para o Qatar com uma sensação de 60 graus positivos e isto já foi um obstáculo. No mais, me adaptei bem. Conheci o islã, os muçulmanos, vi que muito do que se falam por aqui sobre eles não é verdade. Existe um respeito muito grande, as mulheres se cobrem todas com roupas pretas, os homens usam roupas brancas, mas tudo é questão de saber respeitar. Não pode chegar querendo impor coisas. Cada um respeitando suas origens. O Canadá é um país muito à frente do Brasil em termos de esportes. Eu digo culturalmente. Lá o esporte não nasce no clube e sim nas universidades, nas escolas, enquanto aqui o surgimento vem em pequenas escolinhas, nas secretarias de esportes ou nos clubes. Acho que o Brasil deveria seguir o exemplo do Canadá e formar seus atletas nas escolas. Tenho certeza de que seríamos mais fortes ainda, principalmente individualmente. O Brasil é o país do futebol, mas acredito que está tudo errado na hora de formar o atleta. Se o atleta fosse formado nas escolas, quando ele fosse para um grande clube e fosse negociado, a escola formadora levaria parte do dinheiro da venda e não os empresários que hoje vivem e se enriquecem com altas negociações.

Mantiqueira - Fale um pouco da ligação de sua família com o esporte.
Rubinho - Minha família sempre esteve muito ligada com o esporte local. Meu irmão falecido, Luiz “Rubita”, jogou pela Caldense, meu pai foi jogador. Aliás, meu pai marcou o primeiro gol da Caldense no Cristiano Osório. Na noite em que o Cristiano Osório deu o terreno onde hoje é o clube social, houve um amistoso entre Caldense e Bahia, que terminou empatado em 1x1 e o gol foi do meu pai.  Tenho o registro desta partida contra o Bahia em casa e isto é história.

Mantiqueira - Aquele time da GM Costa foi o melhor da história de Poços?
Rubinho - Sem dúvida. Fomos campeões de tudo. Fomos campeões da EPTV, da Copa Record em São Paulo. Foi a melhor fase do futsal de Poços de Caldas. Ganhamos do Palmeiras em Poços por 8x1, em noite em que fiz cinco gols. Vencemos o Corinthians em Santos por 6x5. Jogávamos de igual para igual com todo mundo. Vinham alguns reforços de São Paulo, mas a maioria era jogador de Poços. Meu irmão Rubita montou um time de “amigos da rua”. O time tinha Marquinhos, o Ralf, Anderson, Rubinho, Conrado, Luiz da GM Costa.

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