Ex-lateral que viveu os grandes momentos da Caldense dentro e fora de campo, Paulo Roberto Caldeira Brant faz um resumo de sua carreira como jogador e usa seu conhecimento como crítico esportivo para analisar o esporte em Poços de Caldas, as expectativas para o ano que vem, quando a Caldense retorna à elite do Estado e seu ponto de vista sobre a Copa do Mundo. Paulo Roberto hoje atua no futebol amador da cidade e defende a Caldense no campeonato de master da LPF.
Início
“Minha vida inteira foi voltada para o futebol. Desde criança em Pirapora, minha terra natal. Com 15 anos fui até Pedro Leopoldo e foi quando tive um convite para treinar no Cruzeiro Esporte Clube. Em fevereiro de 1972 comecei minha carreira como jogador no Cruzeiro de Belo Horizonte, que tinha nomes de destaque no futebol brasileiro, como Raul, Pedro Paulo, Dirceu. Cheguei junto com Nelinho, porém eu no juvenil e ele no time profissional. O Procópio foi meu primeiro treinador. Em 1974 comecei a jogar pela equipe C do Cruzeiro, que era composta por aspirantes a uma vaga no time principal. Na minha posição de lateral esquerdo o Cruzeiro só tinha o Vanderlei e o próprio Nelinho. Eu era reserva imediato deles. Em 1975 disputei a Libertadores como reserva do Vanderlei e também de Nelinho e em 1976 fui emprestado para o Araxá, onde fiquei seis meses. Depois, ao retornar a Belo Horizonte, fui novamente emprestado, desta vez para o América de Ribeirão Preto. Disputei dois campeonatos paulistas pelo América, inclusive no ano em que o Corinthians foi campeão e saiu de um longo jejum sem títulos.”
Idas e voltas
“Cheguei na Caldense em 1978 onde joguei por seis anos antes de ser emprestado para o Primavera de Indaiatuba, juntamente com Edinho e Jânio Joaquim. Em 1982 me casei em Poços de Caldas e aí criei raízes definitivamente nesta cidade. Em 1983 joguei mais uma temporada pela Caldense, depois fui jogar na Paraisense, quando atuei ao lado de Ivanildo e Gilbertinho, que também eram atletas da Veterana e estavam emprestados ao time de São Sebastião do Paraíso. Outro nome conhecido em Poços de Caldas que atuou naquele ano pela Paraisense foi o Dácio. Dia 30 de abril de 1984 fiz minha última partida como profissional na cidade de Juiz de Fora contra o Tupi. Quando terminou meu contrato com a Paraisense tive uma grande decepção com aquela equipe que não pagou meu salário. Resolvi seguir a carreira de administrador de empresas, curso que havia concluído em Poços de Caldas, e deixei o futebol definitivamente. Trabalhei depois disso na Celbrás, depois montei uma empresa de telefonia antes de ser um militante da imprensa esportiva de Poços. Dentre todos os jogos e campeonatos que disputei, destaco o Brasileiro de 1979, quando a Caldense esteve atuando. Faço parte daquele time que enfrentou o Internacional - campeão invicto naquele campeonato - de igual para igual e empatou em 1x1 aqui em Poços. São 30 anos de histórias maravilhosas dentro do futebol que muito me orgulham.”
Dois lados
“Vivi os dois lados da moeda. Tive meu tempo como jogador de futebol e minha história recente me levou a estar fora das quatro linhas, analisando um jogo tática e tecnicamente. Estar de fora de campo é mais complicado. Hoje vejo que muitos falam sem conhecimento de causa. Um ex-jogador de futebol sabe falar o que realmente está errado ou certo durante uma partida, sabe analisar uma substituição, uma atitude de um atleta ou de um técnico. É diferente, você tem mais conhecimento do que está fazendo. Eu analiso tudo, como um jogador toca na bola, o jeito dele passar a bola, efetuar um passe, como se coloca dentro da área. Fica fácil analisar uma partida com essa visão. Vejo críticas que às vezes não são compatíveis com o que acontece realmente dentro de campo”.
Grandes times
“A Caldense viveu dois grandes anos. Em 1979, o time passou a jogar em sua nova casa, o Ronaldão, e disputou dois campeonatos brasileiros. Aqueles times de 1979 e 1981 foram duas grandes equipes que tenho na memória como jogador de futebol. O time de 1981 tinha o jovem Casagrande. Depois que parei de jogar destaco o time de 1996 e a equipe de 2002, que foi campeã mineira, e depois disputou o Super Mineiro com o Cruzeiro e foi vice. Esses quatro times (79, 81, 96 e 2002) foram os grandes destaques da Veterana no meu ponto de vista”.
Temporada 2010
“Acho que a cidade em geral está decepcionada com o Vulcão. Vejo que disputar a Taça Minas Gerais foi uma precipitação. O trabalho não pode ser usado como laboratório já que no grupo montado não dá para destacar ninguém. Para não ser totalmente injusto, o Everton foi bem, os outros foram abaixo da crítica. O Júlio César não jogou nada, foi uma decepção, assim como o Lucas. Que haja força e ano que vem façam um planejamento melhor. Esse time que jogou a Taça Minas não serve como laboratório. Já a Caldense está bem reforçada, manteve todos os jogadores que disputaram o Módulo II e ainda está contratando novos nomes, o que deve tornar o time mais forte ainda. Eu coloco a Caldense como uma boa equipe na primeira divisão de ano que vem e vejo que o time pode até brigar pelo título em 2010.
,Esporte local
“O esporte em Poços de Caldas ainda peca em termos de organização. Precisa que haja um pouco mais de aproveitamento na realização dos torneios. Hoje os campeonatos são muito “inchados”, com muitas equipes, desde o infantil ao veterano. Não acho que seja culpa da LPF, mas sim dos clubes, que preferem investir em jogador e não na estrutura da equipe. Para se ter uma ideia, no campeonato de veteranos tem jogador que ganha para defender determinado clube. Não vejo que esta seja a finalidade do campeonato. Acho que o amador tem que ser um futebol de lazer, tentar profissionalizar os atletas não é o caminho certo. No rural hoje é liberado atletas da cidade, o que descaracterizou o campeonato. Algumas equipes também pagam jogadores neste campeonato e isso é lamentável. O mesmo acontece no amador. Isso causa ainda um desnível entre os times. Uma equipe é forte e a outra frágil, compromete todo o trabalho da própria Liga, que depende dos clubes. Este clubes preferem investir em jogadores e deixam de ajudar a entidade”.
Futebol brasileiro
“Na derrota brasileira para Gana no Sub-20 vi os jogadores brasileiros cabisbaixos ao baterem as penalidades. Isso é inadimissível. Não se deve ir desta maneira para a cobrança, tem que ir firme, olhando para o goleiro. O atacante cabisbaixo tem 99% de chance de perder a cobrança. Faltou treinamento, vontade, determinação. Pênalti batido com competência é convertido. Hoje os goleiros estão bem treinados e por isso o batedor tem que ser preciso e determinado. Não admito essa derrota do Brasil para Gana. Eles são o futuro do futebol brasileiro e precisam honrar essa posição que ocupam. A seleção atual brasileira não tem um grande treinador. O time se classificou graças ao grupo de jogadores, que é bom, forte e deve fazer uma boa Copa. O Dunga não é técnico para a seleção brasileira. Não acredito que nosso time seja favorito para conquistar a Copa do Mundo. Vejo no time brasileiro muito mais o estilo do Jorginho que é um grande auxiliar e “conserta” os erros de Dunga, um treinador que peca muito na formação da equipe. Dunga gosta de jogar com três volantes, isso fragiliza o setor ofensivo do Brasil. Se nosso treinador na Copa fosse o Vanderlei Luxemburgo, por exemplo, eu não teria dúvidas de que seríamos favoritos. Para mim o Luxemburgo é o treinador ideal para a seleção nacional. O Dunga é medroso e precisaria ganhar mais experiência para comandar uma seleção nacional numa competição tão importante.
Campeonato Brasileiro
“O campeonato está embolado, sem uma equipe que desponte como favorita ao título. Palmeiras e São Paulo bobearam, deixaram os outros crescerem, assim o título está aberto. O Flamengo é uma das equipes que podem chegar, está embalado. Atlético Mineiro e Inter também podem levar o caneco. O Palmeiras e o São Paulo podem ficar a ver navios, mas ainda estão com tempo de retomar a trajetória de vitórias e voltarem a ser favoritos”.
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