sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Poços-caldense chega ao “Fim do Mundo” de bicicleta

Existem atletas que sentem necessidade de algo mais, uma grande aventura, uma sensação de liberdade que apenas o esporte mais ousado pode proporcionar. Adilson Dorvalino Fernandes, veterano ciclista de Poços de Caldas, é um destes exemplos. Vivendo para o esporte desde criança, ele gosta da adrenalina nas alturas e não mede esforço para ter aventuras sensacionais em várias partes do Brasil e das Américas. Sua última viagem radical foi até a Patagônia, inóspita região situada ao sul da Argentina e do Chile, e cortada pela Cordilheira dos Andes. Ela vem sendo um dos novos destinos de aventureiros do mundo todo em busca de superação de desafios.
A Transpatagônia tem início no litoral do Chile, na cidade de Puerto Montt, no Pacífico, e termina em Puerto Madrín, no litoral da Argentina, no Atlântico.
Foram vários dias dormindo em barracas, hospedarias ou albergues e até em postos de gasolina, sem qualquer conforto e enfrentando temperaturas próximas de zero grau à noite e calor de deserto durante o dia. ''Pedalar debaixo daquele sol escaldante, sem enxergar nenhuma árvore num raio de quilômetros, foi difícil. Mas o sentimento era de vitória ao concluir cada etapa. Valeu a pena'', disse Adilson.
Sua aventura começou no dia 14 de outubro com a viagem de São Paulo para Santiago no Chile, primeiro de avião e depois de ônibus. No dia 15 ele iniciou sua aventura de bicicleta num trajeto cheio de obstáculos mas de uma beleza muito grande, segundo ele conta. Ao todo o aventureiro de Poços de Caldas pedalou 3.100 km partindo da cidade de Temuco no Chile até Ushuaia na Argentina. “Realizei um sonho antigo de conhecer a Patagônia, principalmente a Argentina. Vi lagos, florestas e vulcões numa região de uma beleza que com palavras não tem como definir”, disse Adilson.
Um dos pontos mais destacados por ele durante a travessia foi a solidariedade e amizade de pessoas que encontrava pelo caminho. “Sempre havia um lugar para comer, um lugar para dormir e um calor humano que faz qualquer sacrifício valer a pena”, disse.
Com os dias contados, a aventura teve de ser muito bem calculada. Segundo Adilson, logo nas primeiras pedaladas as dificuldades criadas pelas condições climáticas já davam uma amostra das muitas dificuldades que estariam por vir. “Tive que dormir quatro noites num albergue pois era impossível pedalar, a neve estava muito forte e a estrada coberta por uma grossa camada branca”, contou.
Para registrar tudo Adilson tinha um diário em que todos os detalhes eram descritos da forma mais fiel possível. Muitas fotos também foram tiradas para que amigos e familiares pudessem desfrutar um pouco da sensação da viagem do poços-caldense. “Passei muito frio, o vento era forte demais e diversas vezes tinha que parar para que não fosse arrastado. Outra grande dificuldade foram algumas estradas com piso de pedra. Este tipo de piso aumenta o risco de uma queda pois o pneu fica mais exposto e pode estourar proporcionando uma queda,” disse.
Depois de passar por muitas dificuldades, vento e frio, Adilson disse que a parte final da viagem compensou todas as dificuldades. A paisagem composta por imensas montanhas brancas de gelo, lagos maravilhosos e florestas à beira da estrada é algo de uma beleza tão grande que jamais alguém consegue esquecer.
“Cheguei em Ushuaia num sábado, debaixo de uma chuva, gelo e temperatura muito baixa, parei para me aquecer em bares, postos de gasolina e pontos de ônibus. Quando cheguei na cidade e finalmente consegui um abrigo só queria saber de um belo banho e cama. O domingo lembrava aqueles natais que a gente só vê em filmes norte-americanos. Muita neve, árvores brancas e chaminés enfumaçadas. Um dia lindo, um cenário de cartão postal”, lembra o cilcista. Depois desta bela imagem Adilson pegou novamente a estrada, em mais um dia inteiro tendo com parceira sua amiga bicicleta até chegar ao Parque Nacional do Fim do Mundo. “Nunca vi um lugar tão belo. Mesmo com um frio insuportável, coberto até os olhos, fiquei encantado”, disse ele.
Durante o relato de sua aventura, Adilson não se cansa de falar dos amigos que fez. “Conheci muita gente, me surpreendi com a educação dos chilenos e argentinos que me trataram muito bem. Parecia que a gente era conhecido de longa data. Quando eu chegava numa cidade, numa vila, lugarejo, pessoas me incentivavam a continuar com buzinas e gritos de “arriba Brasil” e foi emocionante”, conta ele que levava uma bandeira brasileira na sua bicicleta.

Exposição
Em 2009 Adilson completou 15 anos de muitas viagens. O aventureiro tem um material muito grande e rico dessas aventuras e um dos planos é fazer uma exposição. “Tenho esse projeto para mostrar tudo o que já consegui através do esporte e também divulgar o ciclismo que para mim é uma atividade sensacional, fonte de saúde e também de inclusão social”, disse.

Apoio
A aventura de Adilson só foi possível graças à ajuda de alguns parceiros. “Não posso esquecer meus amigos e empresas, como a Casa de Carnes Frimer, O Boticário, Sudeste Móveis Escolares, Vila Shop e, em especial, ao Lelo, secretário de Esportes, que, juntamente com sua equipe, me ajudou muito nesta inesquecível viagem. Lembro ainda o pessoal da Pedal Poços que através do Elber e do Derson também teve um papel importante na minha jornada. Não posso esquecer de agradecer meus familiares. Minha esposa Stella e meus filhos, razão de minha vida e que me incentivam o tempo todo”, finalizou Adilson.

Aventuras passadas
Além do esporte de aventura Adilson participa ativamente do calendário esportivo de Poços de Caldas. O ciclista compete no mountain bike e ainda se arrisca em provas de atletismo, contabilizando 15 participações na Volta ao Cristo, tradicional prova local. “Tenho orgulho de ter corrido a primeira edição da Volta ao Cristo. O esporte é a melhor forma de manter corpo e mente sãos”, fala ele.
Ainda dentro do esporte de Poços de Caldas, Adilson ostenta um importante feito. Ele é um dos maiores campeões das Olimpíadas dos Trabalhadores nas modalidades de atletismo e ciclismo.
Adilson já viajou por todo o litoral brasileiro, do Oiapoque ao Chuí, quando percorreu aproximadamente 8.500 km de bicicleta. Chapada Diamantina (15 dias), Serra da Bocaína (8 dias), Serra da Canastra ( 8 dias), Serra Gaúcha e Serra Geral-SC (18 dias) e Rio do Rastro, São Joaquim (15 dias) são as principais aventuras do ciclista pelo Brasil, que ainda pedalou cerca de 4.500 km pela Cordilheira dos Andes, percorrendo Santiago, Argentina, Uruguai, sul do Brasil até Poços de Caldas.
Adilson ainda pedalou de Corumbá-MS até o altiplano boliviano, como lago Titicaca, foi até a cidade de Cuzco no Peru e Machu Pichu, num trajeto de 3.500 km enfrentando uma altitude de até 4.950 metros.
O ciclista de Poços de Caldas também tem um grande respeito na região já que participa de algumas provas pelo sul de Minas. Nacionalmente, Adilson também busca seu espaço e possui alguns títulos no mountain bike.
“Acho que toda minha história no esporte é o maior incentivo para novas aventuras”, fala.

O diário da aventura de Adilson

14/10 – Saída de São Paulo para Santiago (avião) depois Temuco (ônibus)
15/10 – Saída de bike de Temuko (Chile) até Villarrica (Chile)
16/10 – Vilarrica (Chile), Passo Tromem (Vulcão Lanin-Argentina)
17/10 – Vulcão Lanin a San Martin de Los Andes
18/10 – San Martin até a Villa de La Angustura (Argentina)
19/10 – Villa de La Angustura a Bariloche
20/10 – Bariloche a El Bolson (Argentina)
21/10 – El Bolson a Esquel-chuva-Argentina
22/10 – Esquel-neve
23/10 – Esquel-neve
24/10 – Esquel-neve
25/10 – Esquel a Tecka
26/10 – Tecka a Facundo
27/10 – Facundo a Ryo Mayo
28/10 – Ryo Mayo a El Pluma a Las Heras
29/10 – Las Heras a Pico truncado
30/10 – Pico Truncado a Porto San Julian

NOVEMBRO
01/11 – Porto San Julian a Piedra Buena
02/11 – Piedra Buena a Paraje a Le Marchand
03/11 – Le Marchand a Rio Gallegos
04/11 – Rio Gallegos a Mont Aimond (Chile) a El Sombrero
05/11 – El Sombrero a Rio Grande (Argentina)
06/11 – Rio Grande a Tolhuin (Lago Escondido)
07/11 – Tolhuin a Ushuaia-neve
08/11 – Ushuaia ao Parque Nacional Lapataia (Fim do Mundo)
09/11 – Volta-neve
10/11 – Volta-neve
11/11 – Volta-neve – Pedalando aproximadamente 3.000 km
12/11 – Volta
13/11 – Volta
14/11 – Volta
15/11 – Chegada a Poços de Caldas às 2h da manhã

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