quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Encontro valoriza capoeira e discute história afro-brasileira

Poços de Caldas, MG - Em Iorubá, “abayomi” significa encontro precioso. E foi imensamente precioso o encontro entre os alunos da rede municipal de ensino e o mestre Renê Bittencourt, referência internacional em capoeira, proporcionado pelo evento “Vivências Afro-brasileiras”. Nesta quinta-feira (16), na culminância do projeto, no Espaço Cultural da Urca, também se encontraram os atores da Cia. Ubuntu – Arte e Cultura Preta, do Centro Cultural Chico Rei, a secretária de Educação Flávia Vivaldi e a de Promoção Social Luzia Teixeira, o secretário de Esportes Wellington Guimarães, a diretora da Autarquia Municipal de Ensino Nanci de Moraes, o professor Luizinho, idealizador do “Vivências”, professores, gestores e interessados no poder transformador da cultura popular.

Desde o dia 10 de agosto, uma extensa programação integrou ações de formação de educadores, atividades diferenciadas com os estudantes e momentos com grupos de capoeira e ativistas culturais, em diversos espaços como escolas municipais, praças públicas, Centro Cultural Chico Rei e Urca.

O evento é a maior e mais importante ação da Secretaria Municipal de Educação para trabalhar com as leis que asseguram a necessidade e a importância de se considerar a história e a cultura afro-brasileira nos conteúdos escolares. “Temos o compromisso de permanência do trabalho com a cultura afro-brasileira nos nossos currículos e agradecemos as escolas que estão, de fato, reconhecendo a importância desse momento”, ressaltou a secretária municipal de Educação, Flávia Vivaldi.

A Cia. Ubuntu – Arte e Cultura Preta – apresentou a história da boneca “Abayomi”, símbolo de resistência. Para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros, navios que realizavam o transporte de escravos entre África e Brasil, as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de proteção. “Nós não queremos mais o negro nas correntes. Nós não queremos mais a chibata. Nós queremos o negro adiante na história e já temos ganhos, tanto que estamos aqui hoje. E sabemos que a ferramenta que temos contra o racismo, o preconceito e a discriminação é a educação”, defendeu a ativista do Chico Rei e coordenadora da Cia. Ubuntu Lúcia Vera.

Nesta terceira edição, o encontro teve como tema “O poder transformador da cultura popular”, assunto abordado na palestra do professor e coordenador do Centro de Referência do Professor da Secretaria de Educação, Cleiton Donizete Corrêa Tereza. “A história do nosso país é marcada profundamente pelo nosso passado de escravidão. Durante cerca de 300 anos, escravos trazidos da África para o Brasil foram os responsáveis por construir todas as coisas que eram necessárias aqui. A história do nosso Brasil não pode ser compreendida se não observarmos esse longo trajeto em que a mão de obra dos escravos negros foi utilizada para construir tudo que aqui está. E, mesmo com o final desse processo de escravidão, nós tivemos várias dificuldades para que os negros, seus filhos e netos pudessem participar, de fato, da sociedade brasileira”, destacou.

Capoeira
A capoeira é o ponto de partida do Encontro “Vivências Afro-brasileiras”, que está na sua terceira edição. O projeto foi idealizado por Luiz Henrique de Souza, o contramestre Kong, professor responsável pelo evento. “Fizemos essa vivência afro-brasileira para ficar mais claro o entendimento de que a capoeira não é só levantamento de pé e sim um jogo constante na vida de cada pessoa. Você joga capoeira também todo dia”, disse.

O mestre Renê Bittencourt, uma referência em cultura afro-brasileira e membro da Associação de Capoeira Angola Navio Negreiro (Acanne), colocou a molecada para cantar e um forte coro de vozes infantis tomou conta do Teatro Benigno Gaiga: “Vim no balanço do mar lá de Angola, vim no balanço do mar lá de Guiné, vim no balanço do mar de Moçambique, só quem veio sabe como é”.

Em seguida, os alunos participaram de um “aulão” de capoeira, no Salão Norte. No período da tarde, eles puderam demonstrar suas habilidades no Festival de Vozes e Orquestras de Berimbau e nas finais do “jogo de dentro” nas rodas de capoeira. As unidades e os grupos que se destacaram foram premiados com troféus. Participaram estudantes das escolas municipais Lúcia Sacoman, Carmélia de Castro, Rafael Sanches, Wilson Hedy Molinari e do PMJ Vilas Unidas.

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