Entre 10 e 16 de Agosto de 2018 Mestre Renê esteve em Poços de Caldas, na companhia do Contramestre Kong, que produziu um encontro de valorização e fortalecimento cultural através da capoeira, reunindo capoeiristas e estudantes para o aprendizado e troca de saberes em Minas Gerais.
A abertura do evento Vivências Afro-brasileiras aconteceu no Centro Cultural Afro-brasileiro Chico Rei, ancestral escravizado das Minas de Ouro Preto que comprou sua liberdade, de companheiros e familiares, escondendo ouro em seu cabelo.
Para saudar o dono da casa cheia de axé, junto com capoeiristas e alun@s presentes, Mestre Renê cantou, propôs movimentos e músicas, trazendo a ancestralidade da ACANNE, o Mestre Paulo dos Anjos e o jeito ACANNE de ser.
O encontro seguiu no fim de semana com atividades voltadas para o básico, o primário, o fundamental da capoeira. Mestre Renê chamou atenção para a importância de movimentos que normalmente são deixados de lado por conta do modismo massificado pelas mídias e redes digitais “(...) só alunos novos aprendem. Depois de três meses de capoeira, acham que já não precisam do movimento básico”, alertou o Mestre. No segundo dia a turma inteira almoçou no mesmo lugar, mantendo a energia concentrada no aprendizado da capoeira e cultura popular na cidade das águas termais.
Além de reforçar a importância dos movimentos básicos para o entendimento e desenvolvimento prático, Mestre Renê falou sobre as raízes étnicas e o privilégio do povo não negro de estar no meio e ter o direito de jogar capoeira. Lembrou que o povo negro é grato pela presença e apoio de toda pessoa na luta em prol das tradições afro-brasileiras, desde que estejam realmente na mesma luta e cientes dos privilégios que desfrutam neste e em outros espaços. Lamentou a presença de poucos negros na capoeira de Poços de Caldas e compartilhou estratégias utilizadas pela ACANNE Salvador para atrair e manter a negritude em presença e firmeza junto à sua cultura ancestral. Ele costuma afirmar que não há nenhum problema em ter não negr@s na capoeira, mas é um problema não ter negr@s nela.
No dia 12 uma roda mais que especial em praça pública, compartilhando e democratizando a capoeira, seguida do samba de roda. O Mestre Renê falou oportunamente desta manifestação ancestral que tem sofrido muito com a folclorização, da sua importância para nossa história e dos cuidados necessários com suas tradições. Apresentou a perspectiva do samba como religião e referência de um povo, da musicalidade, rituais e variações de samba de roda, “já que está na moda e tem muita gente ignorando o sagrado e as tradições. ” Disse ele.
No decorrer da semana Mestre Renê acompanhou o Contramestre Kong em escolas da Zona Rural. Um encontro muito rico para conhecer, dar aula, contar histórias e aprender com a juventude local. Compartilhou com as turmas a sua origem, sobre ter vindo da roça e as dificuldades enfrentadas para chegar onde chegou. Uma referência motivadora para que elas e eles não desistam de seus sonhos e possam alimentá-los através da capoeira.
Para encerrar, um IÊ bem forte! As crianças se reuniram em celebração ao encontro com teatro, palestra, aulão e um Festival de Vozes muito bonito onde apresentaram, em ritmo de capoeira, músicas diversas da cultura popular brasileira. Por fim jogaram junt@s e ganharam seus troféus de vencedores da vida.
Parabéns ao Contramestre Kong pela organização do evento, a tod@s capoeiristas que contribuíram para a maestria deste encontro e especialmente ao Mestre Renê por estar disponível a compartilhar reflexões, inquietações e saberes que transformam vidas. Como ele mesmo diz, não nasceu pra jogar capoeira, foi enviado. É a sua missão. Um viva a Paulo dos Anjos que acreditou e ensinou nosso Mestre, que hoje retribui, espalhando pelo mundo a sua capoeira, levando seu legado aonde ele não pôde estar, aonde não deu tempo de chegar, uma beleza de capoeira. Um jeito – todo especial – ACANNE de ser.
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