PAULO VITOR DE CAMPOS
pvcampos@gmail.com
Poços de Caldas, MG – No último sábado, durante o curso de futebol organizado em Poços de Caldas pela Sociedade Esportiva Curimbaba, o Mantiqueira entrevistou o professor Bebeto Stival, um dos maiores formadores de talentos do Brasil e com passagem por grandes clubes do nosso futebol. Durante a conversa, ele destacou que o Brasil é o maior celeiro de craques do mundo, mas lamentou que “interesses maiores” tiram os meninos do nosso futebol cada vez mais cedo.
Mantiqueira – Qual a importância do trabalho de base que se realiza no Brasil?
Bebeto Stival – Este trabalho continua sendo super importante. Temos uma preocupação constante e eu, com 40 anos como professor e militando no futebol estou sempre atuante na área de formação. Hoje no Brasil a maioria dos técnicos de base sonha em fazer um trabalho e subir para o profissional, eu penso totalmente diferente. Pra mim o técnico de base é muito importante, deveria ser melhor remunerado para que tenhamos em nosso futebol uma formação satisfatória e uma resposta sadia.
Mantiqueira – Qual o maior problema do futebol brasileiro nos dias de hoje?
Bebeto – Nosso futebol está sofrendo muito no aspecto técnico e isto acontece justamente por causa da falta de formação, na falta de pessoas especializadas para trabalhar. Minha ideia sempre foi a de formar o melhor jogador e dar condições para que ele chegue pronto ao profissional.
Mantiqueira – Ainda temos os melhores jogadores?
Bebeto – Sim. O futebol brasileiro continua tendo bons conteúdos, mas falta o bom formador.
Mantiqueira – Por que nossos jogadores deixam o Brasil cada vez mais cedo?
Bebeto – Este é o grande problema do nosso futebol. O garoto ainda está na barriga da mãe e já tem empresário na cola. É incrível. O Santos foi meu último clube entre 2009 a 2012, quando fui supervisor de base e vi a loucura que é este assédio aos meninos. Andei por todo o Brasil fazendo captações, buscando jogadores, tentando trazer para o clube a melhor qualidade possível e sempre tinham os olheiros, observadores que ficavam o tempo todo atentos aos meninos que tinham um desempenho melhor para depois assediar o pai, a mãe e vir com ofertas e se apossar de um produto que pertence ao clube. Quando estava no Santos fiz uma proposta para criar uma empresa de gestão de carreira dentro do próprio clube, mas claro que mexi com os interesses de algumas pessoas que estavam lá dentro e acabei repreendido por ter dado esta ideia. Era inadmissível esta ideia, já que tirava o intermediário da parada. Hoje, infelizmente, quem ganha dinheiro no futebol é o intermediário, ou seja, aquela cara que não faz esforço algum, mas é ele que leva nossos meninos para longe. Este cara sequer vai ao campo, não derruba uma gota de suor, mas é ele que vem causando todo o problema do nosso futebol.
Mantiqueira – Há possibilidades de mudança neste cenário?
Bebeto – Não muda porque estes atravessadores estão, muitas vezes, ligados aos gestores de clubes e como a renda é interessante, satisfatória, salutar, os empresários se aliaram aos diretores para dividir este filão.
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