“Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha, e que gollllllll...” Essas expressões durante uma partida marcou a carreira de um dos principais narradores esportivos do Brasil, Osmar Santos. Ele parou de narrar futebol depois que um trágico acidente de carro deixou profundas sequelas mas seu trabalho continua admirado até hoje por inúmeros brasileiros que se aventuram na locução esportiva do rádio. Júlio Garcia, da Rádio Cultura, é um deles. Confira na entrevista de hoje como este jovem narrador está se preparando para mais uma temporada do futebol profissional em Poços de Caldas.
Início
“Comecei no rádio em 1993 com apenas 13 anos de idade, em Caldas, na Rádio Sul de Minas FM, que hoje é a rádio Renascer em Cristo. Eu apresentava programas musicais mas minha vontade era ser locutor esportivo. Trabalhei por oito anos lá e depois fui para a Rádio Prata, em Águas da Prata, para também apresentar programas musicais. Passado algum tempo o Ildeu Pereira, da TV Poços, me deu a primeira oportunidade para narrar uma partida de futebol em Poços de Caldas. Foi uma partida do Campeonato Amador. Meu sonho era ser locutor esportivo no rádio. Minha referência sempre foi o Osmar Santos e a cada dia minha vontade de seguir os passos dele aumentava”.
Rádio Cultura
“Depois de alimentar o sonho de ser locutor esportivo no rádio durante muito tempo apareceu a oportunidade de minha vida. Recebi um convite do Chico de Assis para realizar um teste na emissora dele e aquilo para mim foi a grande chance, que tratei de pegar com unhas e dentes. Minha primeira experiência no rádio esportivo em Poços de Caldas foi ano passando quando a Caldense foi feliz e conquistou o acesso à primeira divisão do Campeonato Mineiro. Trabalhar na Rádio Cultura estava no meu destino pois era a emissora na região que eu mais ouvia e tinha vontade de trabalhar. Passados 10 anos ou mais tudo aconteceu do jeito que eu sonhava e chegava a não acreditar na sorte que eu estava tendo”.
Mostrando o jogo
“Narrar jogo de futebol no rádio é muito complicado, o locutor tem que passar exatamente o que está acontecendo no campo para o ouvinte, é uma função difícil. Na TV existe um tempo para você narrar, o que acaba favorecendo mas no rádio este tempo não existe. A TV ainda tem outra vantagem que são vários monitores que são colocados ali justamente para facilitar a vida do profissional. Acho que minha rápida adaptação só teve uma explicação: Foi por Deus! Acho que Deus olha para a pessoa e a encaminha para o setor onde terá mais sucesso ao longo de sua vida, não tenho outra explicação para minha rápida ascensão no rádio esportivo. Além disso, é preciso muita concentração, estar muito ligado no jogo e até no momento de ler um texto de uma propaganda você não pode se desligar do jogo pois tudo acontece muito rápido dentro de campo. Dei ainda a sorte de estar na Rádio Cultura, uma emissora que tem 76 anos e é referência no esporte na região e até no Brasil. E só na Rádio Cultura tem o Chico de Assis, um repórter conceituado no Brasil todo, trabalhou anos e anos na Rádio Bandeirantes, tem Copas do Mundo no currículo e sua experiência me ajudou muito. Temos uma equipe de profissionais competentes, tudo isso facilitou. Não existe uma fórmula mágica para narrar futebol e sim muita vontade, determinação e o dom dado por Deus. O Chico de Assis me passou todos os “toques” para se narrar futebol. Existe certa vaidade entre os locutores esportivos e os mais velhos não gostam de ensinar o ofício aos mais novos. Acho que em toda área é assim, às vezes muitos não querem ensinar os mais jovens até por medo de abrir espaço para um adversário que futuramente pode tomar o seu emprego. Mas o Chico é muito aberto com seus profissionais, sempre dá dicas e mostra o caminho para uma boa locução de uma partida de futebol. Vou agradecer ao Chico eternamente por todas as dicas que ele me passou. Ele tem um conhecimento grande no mundo do futebol e ensina isso para a gente de graça, não segura nada apenas para ele, e isso é assim com todos os funcionários que estão na Rádio Cultura”.
O jogo
“A partida que marcou minha carreira até hoje é sem dúvida aquela que marcou o acesso da Caldense, faz parte da história. A Caldense é um clube de tradição, uma referência em Minas Gerais e eu tive a oportunidade de narrar o acesso da Caldense para a primeira divisão e vou guardar aquele momento com muito carinho pela vida toda”.
Futebol profissional/amador
Pelo fato de não ser torcedor, não ter um time do coração na cidade me facilita muito nas coberturas. Da mesma forma que faço o campeonato profissional eu narro um jogo do campeonato amador, sempre com o mesmo amor, mesmo carinho, determinação, profissionalismo. O jogo de futebol para mim tem o mesmo valor, narro da mesma forma qualquer partida, independentemente da cor da camisa ou da importância do campeonato. Procuro passar para quem está ouvindo a mesma emoção”.
Rádio ou TV
“Hoje posso dizer que não tenho nenhuma preferência em fazer jogo de futebol. Narro na TV e no rádio e gosto das duas funções da mesma maneira. O rádio às vezes te dá facilidades para criar bordões, como os de Osmar Santos, e na TV existem poucos narradores que criam bordões. Sempre fui um grande ouvinte de rádio e durante algum tempo minha preferência foi pelo rádio mas hoje, com as experiências que tive na TV, posso dizer que gosto igualmente dos dois veículos de comunicação”.
Outros esportes
“Brinco com meus amigos que narro até briga de galo. Já narrei rodeios, basquete, boxe, vôlei, enfim, não sou restrito ao futebol e aproveito bem esta condição que Deus me deu. Acho que o profissional do microfone tem que ter esta abertura para fazer tudo dentro de sua área, que no meu caso é o esporte. Você não pode ficar limitado apenas a uma modalidade até porque a emissora pode precisar de você em vários tipos de eventos e você tem que estar à disposição”.
Campeonato Mineiro
“A temporada começa agora e analiso muito o lado comercial. O início da temporada do futebol profissional é bom para o rádio, para a televisão, para o jornal. Acredito no sucesso da Caldense na primeira divisão e acho que seus torcedores terão muitas alegrias neste retorno à primeira divisão. Já o Poços de Caldas na segunda divisão, a meu ver, entra forte e é grande candidato ao acesso nesta temporada. Tomara que as duas equipes de Poços tenham sucesso em suas jornadas e todos na cidade vão ganhar com isso”.
Narradores comentaristas
“Acho que tudo tem que ser respeitado. Uma equipe é formada de vários profissionais e todos precisam ocupar seu espaço. Minha função é narrar, a do Ailton Fonseca é comentar, a do Zé Carlos é ser repórter. Não acho legal o narrador que se mete a comentarista, isso acaba até atropelando outro profissional e isso não é legal”.
Bate Bola na TV
“Além de ser narrador esportivo na Rádio Cultura hoje faço parte do programa Bate Bola da TV Poços, juntamente com o Marcelo Frison e o André Oliveira. Ali sou comentarista e vejo que é uma função delicada, pois ao comentar, emitir uma opinião, você acaba desagradando alguns setores, algumas pessoas, já que nem todos pensam da mesma forma. Não é difícil sermos mau interpretados. Até hoje não tive problemas pois tentamos colocar no Bate Bola a opinião da melhor forma possível e buscamos ser o mais justo”.
Agradecimento
Agradeço ao Ildeu Pereira da TV Poços, que me deu a primeira oportunidade na imprensa de Poços de Caldas, e também meus amigos de lá, ao Chico de Assis e Flávio Araújo, pessoas que me ajudaram muito, a todos da Cultura, que está montando uma equipe muito forte, ao meu amigo Ailton Fonseca, um dos repórteres mais experientes que conheço com mais de 30 anos de profissão, ao Zé Carlos, um grande profissional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário