sábado, 4 de fevereiro de 2017

Técnico Thiago Oliveira fala sobre família, viagens e expectativas

Poços de Caldas, MG - O técnico Thiago Oliveira disputa seu primeiro Campeonato Mineiro pela Caldense. O treinador, nascido no Rio de Janeiro, começou a carreira no Vasco, ficou conhecido no futebol brasileiro pelo São Paulo e faz parte da nova geração de comandantes adeptos ao futebol moderno. Nesta edição o Mantiqueira faz um raio-x de Oliveira, que tem como missão manter a Caldense entre os principais time do Estado e conquistar classificação para a Série D e Copa do Brasil de 2018.

Mantiqueira - Como foi seu início no futebol?
Thiago de Oliveira Santos - Comecei no Vasco da Gama, onde fiquei aproximadamente três anos. Depois o São Paulo se interessou pelo  meu futebol e comprou meu passe quando eu ainda era juvenil. Tentei ir para o São Paulo na época a custo zero, mas o Eurico Miranda não me liberou e todo este processo até que eu ficasse definitivamente durou um ano. Depois disso meu futebol foi se destacando até que acabei convocado pela seleção brasileira para disputar o Campeonato Mundial sub-20. Depois começou minha experiência internacional quando fui para o Qatar e joguei com o Guardiola, onde aprendi muito. Uma pessoa muito inteligente, sabe muito de futebol e me ensinou muito. Após um período fora do Brasil retornei para o São Paulo, que acabou me liberando. Rodei por times como Portuguesa de Desportos, Brasiliense, Caxias, Itumbiara, Rio Branco de América. Antes de abandonar o futebol ainda tive outras passagens internacionais. Fui para a Suécia, fui campeão por lá, voltei ao Qatar, joguei mais um pouco no Brasil até encerrar a carreira de vez.

Mantiqueira - E os primeiros passos como treinador como foram?
Oliveira - Primeiro foram dois estádios importantes. O primeiro no Botafogo do Rio de Janeiro e no São Paulo e fui à luta. O primeiro time como treinador profissional foi o Sinop, da cidade do Rogério Ceni, depois passei por vários clubes até chegar no Batatais, onde tive uma campanha histórica. Tivemos o menor orçamento de todo o campeonato mas mesmo assim conseguimos dominar boa parte e eliminar times como o Bragantino que estava muito bem com o Léo Condé.

Mantiqueira - Como se deu a vinda para a Caldense?
Oliveira - A campanha no Batatais acabou chamando a atenção do Alex Joaquim, que me convidou. Não pensei duas vezes e aceitei o desafio por saber que a Caldense é um time que vem crescendo ano a ano.

Mantiqueira - E a adaptação em Poços de Caldas?
Oliveira - Uma cidade muito boa, acolhedora, que me conquistou. Cidade bonita, com vários lugares de muita qualidade e com ótimos restaurantes. Esta parte Poços de Caldas não fica devendo em nada para São Paulo, onde moro. Já sobre o clube,  dizer o que? Toda uma estrutura à disposição, bons campos para treinar, pagamento em dia. Fica fácil trazer jogadores para cá com a qualidade que temos no Ninho dos Periquitos e estou muito feliz. Confesso que tive propostas de outras equipes, mas minha prioridade foi sempre a Caldense. Aqui o trabalho é perfeito, temos uma diretoria muito boa, liderada pelo presidente Antônio Bento Gonçalves, Alex Joaquim e Victor Hugo, então estou muito satisfeito e quero retribuir toda a confiança fazendo uma boa campanha com a Caldense e levando o time a um lugar de destaque em todas as competições.

Mantiqueira - Nos últimos anos a Caldense se destacou e com isto sua torcida ficou mais exigente. Como lidar com este fator que pode ser positivo ou negativo.
Oliveira - Cresci no futebol e sou acostumado com pressão, aliás, gosto desta pressão e acho que a torcida tem que cobrar e esta cobrança faz muito bem. A torcida tem razão em querer que a Caldense conquiste sempre coisas melhores, isto é muito importante. Em 2015 o time foi vice-campeão mineiro e a Caldense precisa manter a mentalidade vencedora para crescer cada vez mais e mais. Até nisto a pressão da torcida é importante porque nos motiva a não deixar a peteca cair. A Caldense tem que buscar uma série C, B e até mesmo uma A no futuro. A pressão da torcida é louvável, eu gosto. Mas o apoio do torcedor é de fundamental importância. Time nenhum consegue vencer nada sem o carinho, o incentivo, o apoio da torcida. Times grandes são assim. Já vi a torcida do Corinthians, do São Paulo pressionar, cobrar postura dos jogadores e dar certo. Claro que tudo nos limites, sem partir para a violência, mas o torcedor é que faz o sucesso ou insucesso do seu time.

Mantiqueira - Falando do Campeonato Mineiro, como você analisa o peso da derrota na estreia para a URT e como reagir?
Oliveira - Uma derrota que não estava nos planos. Na nossa contagem interna fomos para buscar os três pontos. Foi um jogo difícil, começamos bem, tivemos chances de gols, mas eles foram felizes e abriram o placar. Na minha avaliação, o jogo foi igual e o resultado poderia ser melhor. Tivemos chances, não fizemos e isto não pode. O que vale é bola no gol e precisamos melhorar neste setor.

Mantiqueira - A chegada do Luiz Eduardo resolve a falta de gols do time?
Oliveira - Tivemos problemas no ataque. Jogadores lesionados, improvisações, ou seja, nada deu certo. Mas estou aqui para resolver estes problemas. Tivemos baixas importantes como o Wellington Rato, Rafamar e Cristiano e isto atrapalhou muito a pré-temporada. Tanto o Rafamar quanto o Cristiano foram para o jogo em Patos de Minas no sacrifício, mas acredito que as coisas vão clarear agora. A chegada do Luiz Eduardo é muito importante. É um jogador que tem muita identificação com o clube, sabe fazer gols e será muito importante.

Mantiqueira - Ele chega para jogar desde o início?
Oliveira - A disputa será intensa, boa e válida. São todos jogadores de muita qualidade, todos em condições de ajudar a Caldense, mas só revelo quem joga momentos antes do jogo. Antes disto tudo que é dito é especulação. Temos ainda o Diego Clementino que está em fase final de recuperação e logo estará disponível e quem ganha é a Caldense. Teremos em breve um time muito forte em termos ofensivos.

Mantiqueira - Mudando de campeonato, como será enfrentar o todo poderoso Corinthians?
Oliveira - Cresci enfrentando o Corinthians e sei a dificuldade de se enfrentar este time. Sabemos das dificuldades, mas sabemos de nossas possibilidades. Temos um orçamento infinitamente inferior ao deles, mas sabemos que este é um dos jogos mais importantes da história da Caldense. Será também um dos jogos mais importantes da minha carreira como treinador, o mais importante para os jogadores e vamos trabalhar para fazer um bom jogo.  Vamos lutar, dificultar o máximo para eles e tentar achar um gol que nos dê possibilidades de passar por eles. É um sonho, mas estamos aqui para realizar os sonhos. Nada é impossível.

Mantiqueira - Que dimensão teria uma vitória sobre o Corinthians?
Oliveira - Importantíssimo para a Caldense no cenário nacional. Eliminar o Corinthians daria uma repercussão muito grande e boa para a carreira de todo mundo. Mas antes vamos nos focar no Villa Nova, no jogo de hoje, descansar depois e só então voltar a sonhar com o Corinthians.

Mantiqueira - Como você vê o trabalho da imprensa?
Oliveira - Me dou muito bem com a imprensa. Não tenho barreiras que muitos treinadores têm. Críticas fazem parte e eu nunca vou ficar bravo, desde que não seja uma crítica maldosa. Respeito o trabalho de todos, tenho amigos na imprensa e acho que tem que ter um bom diálogo entre todos. Eu costumo absorver o que é bom e descartar o que é negativo e assim levamos a vida em frente.

Mantiqueira - Na parte pessoal como é trabalhar longe da família?
Oliveira - Não é fácil. Tenho dois filhos, um de seis anos e outro de treze e procuro ir a São Paulo em todas as folgas. Como a distância não é grande fica mais fácil, mesmo assim a saudade é sempre grande, ainda mais com as viagens longas deste Campeonato Mineiro. Estamos aqui por eles, sempre trabalhei pela minha família e hoje a Caldense é minha seleção mineira. Daqui sai o sustento de todos e por isto é compensador.

Mantiqueira - Vocês ficam muito tempo na estrada e até mesmo em aviões, caso do Brasileiro que vem por aí. Depois da tragédia da Chapecoense como fica o sentimento cada vez que tem uma viagem pela frente?
Oliveira - Ainda não peguei nenhuma viagem de avião após a tragédia. Realmente abala um pouco pois viajamos muito e é preciso muita reza e pedido de proteção divina cada vez que pegamos estrada. A tragédia da Chapecoense nos abalou muito. São colegas de profissão que deixaram órfãos seus familiares. Conhecia pessoalmente o Caio Júnior, o Paixão, enfim, companheiros que se foram. Não é fácil e oramos para que todos eles estejam em paz, que suas famílias se confortem e nós aqui ficamos apreensivos, mas temos que seguir nossa vida e torcer para que tudo dê certo.

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