Renato Rezende está de volta ao Brasil após a quinta colocação nos Jogos Pan-americanos do México. O atleta esteve na redação do Mantiqueira e contou que o momento mais emocionante foi ver o grande apoio de amigos e torcedores que enviaram mensagem de incentivo.
Renato Rezende competiu com o ombro fraturado e mesmo assim foi o melhor brasileiro na categoria de elite do BMX.
Mantiqueira - Qual foi a emoção de disputar os Jogos Pan-americanos, uma prévia do que está por vir nas Olimpíadas?
Renato Rezende - Primeiramente foi um prazer disputar uma competição tão importante como um Pan-americano. Estar na vila olímpica, no meio de grandes estrelas do esporte brasileiro e
mundial, foi maravilhoso. Ali estava a nata esportiva do Brasil em todas as modalidades. Só isso valeu demais a pena eu ter ido.
Mantiqueira - Você correu sem estar recuperado de uma contusão séria no ombro. Mesmo assim, foi o melhor brasileiro na prova. Como avalia este resultado?
Renato Rezende - Na corrida eu não estava nada bem. Vinha de três semanas parado, sem fazer nenhuma atividade, sem poder treinar, com o ombro imobilizado e isso pesou muito na hora da competição. Para se ter uma ideia, tirei a tipoia no aeroporto, apenas no dia da viagem.
Na realidade nem sabia se ia dar para competir, a dor era grande e aumentava muito a expectativa. Entrei na pista porque, ao chegar ao México, realizei vários exames e eles constataram uma pequena melhora. Os médicos garantiram que eu não corria nenhum risco de piorar a contusão, apenas sentiria muita dor. Eles alertaram que a dor seria muito grande e eu teria que ter uma superação muito grande. Corri e realmente a dor era insuportável.
Mantiqueira - Até que ponto esta dor prejudicou seu desempenho?
Renato Rezende - Em tudo. Minha principal qualidade nunca foi a
largada. Eu sempre tenho que fazer uma prova de recuperação do meio para frente, usando uma técnica de empurrar a bicicleta e ganhar velocidade. Com minha contusão, este movimento ficou completamente limitado e por isso fiquei sem minha melhor qualidade. Tive que correr mais com a cabeça do que com as pernas. Tive que mudar minhas estratégias. Durante as classificatórias terminei a primeira prova na terceira posição, a seguinte fiquei em segundo e na terceira me poupei bastante para chegar bem nas semifinais e terminei em quarto. Nas
semifinais acho que acabei agravando minha contusão pois estava em quinto, esta colocação não me levaria para a final. Me esforcei muito e na última reta ultrapassei o quarto colocado e consegui minha classificação para uma final de Pan-americano. O problema é que fisicamente eu estava muito debilitado. Nesta hora a dor era muito grande, pois o esforço que fiz foi maior do que podia fazer. Tudo que os médicos pediram para eu não fazer tiver que fazer, caso contrário eu não chegaria na final.
Mantiqueira - Qual foi o pior momento?
Renato Rezende - Enquanto aguardava a prova final foi de muito sofrimento. A dor era intensa, passei uma pomada no ombro, mas mesmo assim a dor era muito grande.
Mantiqueira - O que passou pela sua cabeça quando você alinhou para a largada na finalíssima dos Jogos Pan-americanos?
Renato Rezende - Quando alinhei no gate meu pensamento já era de missão cumprida. Rezei para tudo dar certo e que não sofresse nova queda. Chegar na final já me dava o sentimento de que a meta estava feita e o que viesse pela frente seria lucro. Na prova final não forcei muito, até porque nem dava mais para buscar forças, não tinha mais o que fazer. Fui tentando, buscando posições e consegui chegar na quinta colocação. Larguei em uma raia por fora por ter me classificado em quarto. Terminar a prova entre os cinco melhores, depois de tudo que enfrentei, foi um resultado muito bom.
Mantiqueira - Qual foi a repercussão após a prova?
Renato Rezende - Existia uma expectativa muito grande da minha
participação nos Jogos Pan-americanos. Todos me diziam que queriam ver a medalha, que eu não poderia voltar sem medalha, coisa e tal. Fiquei preocupado por não conseguir, pois a galera poderia ficar triste com meu desempenho. Voltei para a vila olímpica desanimado, com receio de ligar o computador para ver as mensagens. Para minha surpresa, quando entrei pra ver a repercussão não acreditei. Eram inúmeras mensagens parabenizando, incentivando, dando força, moral. Muitos diziam que meu desempenho foi heróico, que eu vesti a camisa do Brasil como um atleta deve vestir, todos reconhecendo meu esforço, como foi difícil estar lá, correr com o ombro fraturado. Me emocionei, chorei muito ao ler as mensagens de amigos, familiares, foi maravilhoso, valeu mais que qualquer medalha. Depois disso fiquei tranquilo e com uma sensação de alívio muito grande. Neste momento até a dor desapareceu. Era muita pressão, muita cobrança de minha parte por uma medalha, mas acabei vendo que ir para a final já era uma grande vitória.
Mantiqueira - Como ficou sua situação após os Jogos Pan-americanos na Seleção Brasileira?
Renato Rezende - Tudo normal, continuam acreditando no meu trabalho, continuo sendo um dos pilotos da seleção e continuamos na briga por uma vaga nas Olimpíadas de Londres, porém, o principal foco é 2016 no Rio de Janeiro. Estamos lutando para estar em Londres, que daria bagagem para realizarmos em 2016 uma grande olimpíada no Brasil. Neste momento temos os pés no chão, pois o trabalho está apenas no início. Aprendi muito durante o período em que estive treinando na Suíça, quero voltar para lá no início do ano e queremos aproveitar bem o bom momento do BMX nacional. Acredito que seremos uma potência mundial na modalidade.
Mantiqueira - Você recebeu a solidariedade de seu parceiro após a prova no México. Como foi aquele momento?
Renato Rezende - O Deivlim Balthazar é um grande parceiro e sempre me deu força. Tem mais experiência e isso sempre ajuda. Me ajudou muito durante todo o Pan. Quando comecei ele já era campeão na elite e passou muito do que sabe para mim. É uma pessoa de boa conduta, um espelho que sempre tive como referência. Desde pequeno eu via ele vencendo, sendo campeão e hoje corro com ele, é muito bom, não dá nem para descrever.
Mantiqueira - Você já encerrou a temporada?
Renato Rezende - Não. Devo participar de duas provas ainda este ano, que valem pontos para o ranking latino e serão realizadas na Colômbia. Espero estar recuperado até lá, pois são muito importantes na briga por uma vaga olímpica. Minha equipe é composta pelo Thomas Allier, que é da Suíça, meu pai Paulão Rezende, Guilherme Pussieldi, técnico da seleção brasileira, Marcelo Jáculo, do Projeto Soma, Paulo Romualdo, e a Confederação Brasileira. Quero aproveitar o espaço para agradecer a todos que me deram força, agradecer ao Bill, Projeto Soma, Capacete Vaz, Oackey, ao Dr. Luiz Augusto Carlini, ortopedista que me examinou e acreditou em mim. Ele me disse que o esporte me "quebrou", mas minha recuperação iria ser muito mais rápida graças ao esporte. "Te quebrou e vai te recuperar", disse ele antes de minha viagem. "Você vai conseguir por ser um atleta, caso contrário não seria tão rápida a sua recuperação", disse ele. Não posso deixar de agradecer a dona Terezinha do Bicicross Poços Clube que está dando uma força muito grande, ao Comitê Olímpico, ao Ministério dos Esportes e à Confederação Brasileira de Ciclismo. Tem ainda minha família, meu irmão Duda que treina comigo, meu pai Paulão Rezende, minha mãe Sandra Sarmento, minha madrasta Paula, meus alunos, o Leozinho. Somos uma equipe e estes resultados são de todos.
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