terça-feira, 6 de setembro de 2016

Associação Atlética Caldense: a Veterana no esporte da estância

Paulo Vitor de Campos
Delma Maiochi
redacao@mantiqueira.inf.br


Poços de Caldas, MG – A primeira década de 1900 foi marcada, entre tantos eventos, pelo voo do 14-bis de Santos Dumont, pelo início da mineração de zircônio em Caldas e Águas da Prata e pela criação da prefeitura de Poços. A chegada do futebol na estância sulfurosa também é comemorada nesta década, mais especificamente em 1904, quando foi fundado o Foot-ball Club. A atividade esportiva apareceu no Brasil trazida por um grupo de ingleses que morava em São Paulo. Um dos fundadores do Foot-ball Club, Paulino de Souza, estudante de medicina, trouxe de São Paulo, meses antes, uma bola de futebol, até então objeto desconhecido dos moradores da vila. Porém, o primeiro campeonato local só foi disputado em 1920, dois anos após a morte de Paulino, vítima da gripe espanhola.

Polêmica
A fundação da Caldense ocorreu em 3 de abril de 1926, conforme esclarecem a ata da Assembleia Geral e a edição do jornal A Folha de 21 de abril de 1927. Outro esclarecimento feito recentemente por pesquisadores dá conta de que a fusão ocorrida em 1928 não foi com o Internacional Futebol Clube, mas sim com o Gambrinus Futebol Clube. Foi neste ano que o presidente João Porfírio Bueno Brandão resolveu antecipar para o dia 7 de setembro de 1925 a data de fundação da Caldense, com a justificativa de ser uma importante data cívica e coincidir com o feriado nacional. Somente em 1943, quando João Coelho da Silva presidia o clube, é que esta data foi oficializada pelo Conselho Deliberativo, criado naquele ano.

Gambrinus
O time poços-caldense já havia sido criado, mas o grêmio social e esportivo Associação Atlética Caldense passou a existir após uma reunião em 3 de abril de 1926, quando houve a fusão com o Gambrinus Futebol Clube. Dessa reunião saiu a primeira diretoria eleita, constituída pelo presidente honorário capitão Afonso Junqueira, presidente Fosco Pardini, vice Ulpiano César Mine, tesoureiro João de Moura Gavião, primeiro secretário Cherubim Borelli, segundo secretário Lourenço Batiston, orador oficial Hugo Sarmento, cobrador Arthur Cherchiai.

Internacional
Conforme matéria de Alfeo Gentili, no jornal O Idealista, de 7 de setembro de 1964, o Internacional era um time dominador, soberano, impetuoso, dono absoluto de sua posição. Ostentava as cores vermelha e preta e seus mentores eram Astolphinho, Eliglio e João Gavião, dirigidos por Afonso Junqueira. O presidente era Nico Duarte e o secretário, Fosco Pardini. A sede do clube, os fundos do bar do Mendonça. O Internacional contava com uma enorme e entusiasta torcida, mas as dificuldades de manter o time funcionando eram enormes. “A luta para se conseguir algo para o futebol era áspera, ingrata, desumana, difícil”, dizia o jornalista Gentili em seu artigo. Ele conta que a diretoria do Internacional resolveu construir uma praça de esportes. Sugestões, planos, ideias, tudo foi discutido em cima das mesas do bar do Mendonça, e também as maneiras de arrecadar os recursos para o projeto. Seriam necessários 70 contos de réis. Foi resolvido que se faria uma grande quermesse no futuro local da praça de esportes (onde atualmente é o Palace Casino), com barracas com as cores de diversos clubes esportivos, luta greco-romana (com a presença do lutador Rocchetti, o ídolo da época), pau-de-sebo, corridas de sacos, futebol, sessão de cinema no Politeama, a presença do célebre ilusionista Dr. J. Duarte (que apresentou um número de ser enterrado vivo), balões manipulados por Guilherme Schifer, apresentação da banda Biju, do major Trindade, e com a presença do prefeito Lourenço Baeta Neves para cortar as fitas simbólicas. Foram convidados os times de São João da Boa Vista (os tigrinhos da Mogiana), Casa Branca, Cascavel e Mogi Mirim para realizar competições de futebol nos dias de quermesse. Para enfrentá-los o Internacional contava com Mine, Ricardo, Bisdé, Felício, Ari, Octávio, Lourenço, Atílio, Matias, Vitúrcio e Maia. A entrada para os jogos, que dava direito de permanecer no recinto da quermesse, custava 600 réis. Mas, nem tudo correu como pensavam os integrantes do Internacional e o saldo financeiro do projeto foi de apenas 17 contos de réis. O naufrágio do sonho de construção da praça de esportes e outros acontecimentos precipitaram o desaparecimento do time em 1925.

Sedes provisórias
Várias outras agremiações foram surgindo, motivando a juventude poços-caldense, mas desapareceram logo depois. Alguns remanescentes dessas equipes se uniram e criaram a Associação Atlética Caldense. A sede provisória do time era na Photographia Selecta, na avenida Francisco Salles, perto do hotel Lafaiete. Dia 16 de novembro de 1925, João de Moura Gavião e mais alguns jovens esportistas elegeram a primeira diretoria, que ficou assim constituída: presidente João de Moura Gavião, vice-presidente professor Hugo Sarmento, primeiro secretário Romeu Chiacchio, segundo secretário Cherubim Borelli, tesoureiro Caetano Pereira, procurador Flamínio Maurício, diretor esportivo Octávio Mantovani. A comissão de sindicância ficou composta por João de Oliveira Carmo, Antonio Ricci Junior, Domingos Lamberti, Victor Fortunato e Adolfo Guetti.
Outras sedes provisórias abrigaram a agremiação. Por pouco tempo ela ficou no palacete Cobra, na praça Pedro Sanches. De 1938 a 1942, no cassino Gibimba, de 1942 a 1959, no Politeama, teatro que foi demolido, na avenida Francisco Salles, em 1959, no andar térreo do edifício Bauxita, conjunto A, de 1960 a 1962, no edifício Imperial, e finalmente, a partir de dezembro de 1962, junto ao estádio Cristiano Osório.

Dificuldades
A recém-criada associação provocou um forte entusiasmo na mocidade poços-caldense e, mesmo com as dificuldades iniciais, o clube trabalhou com afinco para que a Caldense possuísse o melhor plantel da cidade. Apesar de perder para o campeão local, o Cruz Vermelha, em dezembro de 1925, por 3 a 2 (uma chuva impertinente estragou o espetáculo), os jogadores não desanimaram e, no ano seguinte, depois de encontros amistosos com times de cidades vizinhas, consagraram a equipe nos meios esportivos regionais. O falecimento do fundador João de Moura, em 1927, trouxe luto e desânimo para a associação, que passou algum tempo sem atividades. Aos poucos, porém, os integrantes retornaram ao ritmo.

Procópio
No início o clube não possuía sede e campo próprios. Existia na cidade o campo do Internacional Futebol Clube, sem grama e de chão escuro, no atual jardim da fonte luminosa (parque José Affonso Junqueira), onde, não havendo arquibancada nem gramado, os torcedores ficavam em pé.
Mas, antes mesmo da fundação do time os jogadores tinham escolhido o terreno do chalé Procópio para suas práticas esportivas de domingo. A partir de 1926 a diretoria deu os primeiros passos para adquirir a área do coronel Cristiano Osório de Oliveira, na época um grande brejo onde os meninos iam caçar rãs. Em 1929, uma comissão chefiada por Carlos Pinheiro Chagas foi a São João da Boa Vista pedir ao coronel Osório a cessão do imóvel. O terreno foi então drenado e cercado com madeira e nos anos de 1930 abrigava uma rústica arquibancada. Em 1947, a diretoria, com o presidente José Anacleto Pereira, conseguiu um comodato da família Osório, por um prazo de 20 anos, para a instalação do clube.

Cristiano Osório
Durante a presidência do Dr. Antonio Megale, em 1962, houve a doação definitiva, por Cristiano Osório, e a Caldense tornou-se proprietária do terreno que compreendia o campo de futebol e as demais dependências esportivas. A transação foi efetuada pelo prefeito Dr. David Benedito Ottoni, com aprovação da Câmara Municipal. Em troca, Cristiano Osório ganharia o arruamento da chácara Osório.

Melhorias
Com a posse do imóvel, muitas melhorias puderam ser feitas, como a construção das piscinas, da sede social, dos ginásios, saunas, entre outras. Com a inauguração do estádio municipal, em 1979, o campo de futebol da Caldense foi desativado e em seu lugar foram construídas duas quadras de tênis e de peteca, um parque infantil, uma nova piscina e a sede ganhou novas reformas. Uma área foi adquirida, na saída da cidade, denominada Ninho dos Periquitos, onde os atletas do time profissional pudessem treinar e se preparar para os jogos. Outros presidentes, mais recentemente, ampliaram as instalações e proporcionaram outros melhoramentos para os sócios, com construção de quiosques, piscina aquecida, biblioteca.

Campeã
Entre 1960 e 1961, o futebol da Veterana ficou famoso nos meios esportivos pela campanha das 57 partidas invictas, o que proporcionou uma onda de entusiasmo entre os associados e moradores da cidade.
Muitos anos depois, em 2002, os torcedores puderam comemorar o maior título da história do clube, o de campeão mineiro de futebol.


Primeira divisão

A Caldense estreou na primeira divisão em 1972 e se tornou uma “pedra no sapato” para os grandes da capital. Foram jogos memoráveis contra Atlético e Cruzeiro ao longo dos anos. O futebol da Caldense ainda proporcionou aos seus torcedores um desfile de craques eternizados no futebol mundial. Nomes como o capitão Mauro Ramos de Oliveira, Ailton Lira, Buzuca, Jota Lopes, Casagrande, Caio Cambalhota, Mirandinha, entre outros, defenderam o verde e branco de Poços de Caldas. Em 1979, o time disputou a Série A do Brasileiro e fez bonito vencendo sete jogos, empatando três e perdendo outros seis. Naquele ano o Internacional de Porto Alegre sagrou-se campeão invicto, mas não conseguiu vencer a Caldense no recém-inaugurado Ronaldão. O jogo terminou 1x1.



Conquistas

No início dos anos 1980, um time formado por grandes craques, entre eles o atacante Casagrande, lotava o Ronaldão frequentemente. Ir ao estádio naquela época era certeza de ver o fino do melhor futebol. Em 12 de março de 1981, a Caldense enfrentou a seleção brasileira, em um amistoso que servia como preparação do time de Telê Santana para a Copa do Mundo do ano seguinte. A equipe verde-amarela venceu pelo placar mínimo de 1 a 0, com um gol de pênalti marcado por Zico aos 15 minutos do segundo tempo. O placar pequeno para o selecionado brasileiro retratou bem como a Veterana era um duro adversário. Ainda nos anos 1980 a Caldense foi campeã do Torneio Esperança. A competição reuniu equipes como Flamengo de Varginha, Paraisense, Alfenense, Uberlândia, Tupi, entre outros. A Caldense terminou com 20 pontos, três a mais que o vice-campeão Uberlândia.



As maiores conquistas

O futebol da Caldense tem em seu currículo três grandes conquistas. A primeira foi o título estadual em 2002, quando venceu o Nacional de Uberaba por 2x0. Com o título, a Veterana foi disputar o super campeonato mineiro em Belo Horizonte e terminou com o vice-campeonato, perdendo a decisão para o Cruzeiro. Ano passado, o time de Poços, comandado pelo excelente Léo Condé, chegou novamente na final do Estadual, desta vez contra o Atlético Mineiro, mas acabou perdendo por 2x1 - gol impedido de Jô para o Atlético - e ficou com o vice-campeonato.



Atualidade

A Caldense vive hoje um momento especial no futebol. Depois do vice-campeonato do ano passado, o time conquistou três anos seguidos de calendário cheio. O vice-presidente Franco Martins é um dos responsáveis por esta evolução, mas pede mais reconhecimento para o clube, que é um dos maiores divulgadores da cidade. “A Caldense é um patrimônio para Poços e teria que ser mais valorizada pelo poder público, pois o clube leva o nome de Poços para o Brasil e o mundo.  É a segunda casa de muitas famílias poços-caldenses, inclusive a minha. Cresci dentro do clube e hoje trabalho mais de 12 horas diárias para o clube sem receber um real, só para ver a Caldense crescer e evoluir. Sou vice- presidente pelo terceiro mandato consecutivo e contribuí muito para o crescimento da associação nesses anos, principalmente no setor esportivo. E o futebol profissional tem mais caminho para evolução. A caldense é muito maior do que o muro que a cerca. Sócios, diretores, conselheiros têm que entender a imensidão que esse clube representa, além das suas estruturas físicas. O potencial que tem para evoluir, a paixão que move pelo Brasil é imensurável.


Força em todas as modalidades

Basquete
O clube oferece aulas para associados e representa Poços de Caldas em várias competições estaduais e nacionais. Atletas da Caldense frequentemente são convocados pela Seleção Mineira de Basquete. A Caldense está entre as melhores equipes de Minas Gerais, disputando de igual para igual com os times da capital. Em 2013, o atleta Raul Togni Neto, revelado pela Caldense e treinado pelo técnico Julio Cesar de Freitas, foi selecionado pela NBA, maior liga de basquete do mundo. Raulzinho, que é filho de Raul Togni, também ex-atleta da Caldense e seleção brasileira, esteve com o time brasileiro nas Olimpíadas de Londres em 2012 e do Rio em 2016.

Cricket
Em agosto de 2012 começaram as aulas de cricket na Caldense, realizadas no campo de futebol society. O segundo esporte mais praticado do mundo cruzou o Oceano Atlântico e desembarcou na sede do clube com a proposta de popularização entre crianças e adolescentes da região. E, pelo visto, a proposta de fazer da Caldense um clube pioneiro nesse esporte de origem britânica, bastante praticado em países como Inglaterra, Índia e Indonésia, vem sendo cumprida com excelência.
As aulas de cricket vêm conquistando grande número de crianças, adolescentes e adultos. Durante a programação, os praticantes do velho e conhecido jogo de betes do passado começaram a ter contato com esse esporte novo no Brasil, que tem como grande precursor o inglês Matt Featherstone, associado do clube, que também acumula as funções de jogador e técnico das seleções brasileiras masculina e feminina de cricket.

Futsal
Hoje no clube são disponibilizadas aulas gratuitas para associados em várias categorias. A Caldense tem a tradição de sempre revelar grandes jogadores e ser considerada favorita em quase todas as competições que disputa. Frequentemente são realizadas competições internas para associados, que movimentam o esporte no clube.

Judô
Com aulas para crianças a partir de 3 anos, jovens e adultos, o judô tem cerca de 60 praticantes no clube. Duas vezes no ano, todos os alunos participam de uma apresentação em que pais e familiares são convidados. Além do lado esportivo, a concentração e a disciplina são muito trabalhadas pelo sensei Ronaldo, responsável pela modalidade na Caldense. As aulas acontecem no prédio da academia do clube.

Natação
Atualmente, o clube oferece aulas para associados a partir de 2 anos de idade. Cerca de 300 alunos, sendo 250 crianças, participam frequentemente das aulas de natação.

Peteca
Duas vezes por ano o clube realiza competições entre os associados e o já tradicional Open Caldense de Peteca, que recebe os melhores jogadores dos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Cerca de 80 associados são adeptos da peteca.

Squash
O squash na Caldense foi implantado em 2004, com o término da construção das novas quadras. A inauguração foi realizada em novembro do mesmo ano. O esporte é conhecido como um dos mais completos, por somar parte física, mental e técnica. Em 2005 foi o que mais cresceu no Brasil. As quadras do clube são de proporções técnicas internacionais e recebem anualmente etapas profissionais e amadoras do Circuito Brasileiro e Mineiro de Squash. O Departamento de Esportes Especializados realiza também o Open Caldense de Squash e o Squash Solidário, competição que colabora com entidades assistenciais de Poços de Caldas. Cerca de 90 atletas praticam o esporte na Caldense. Atletas do clube participam frequentemente de competições por todo o Brasil, conseguindo sempre resultados expressivos. Franco Martins é o atleta de maior destaque do clube, estando entre os 20 melhores jogadores profissionais do país.

Tênis
O tênis começou quando o estádio “Christiano Osório” foi desativado. Desenvolveu-se entre os associados, não como competição, mas como lazer. Entretanto, alguns nomes se destacaram por suas habilidades com bons resultados em torneios. Hoje o clube oferece uma ampla estrutura com arquibancadas, vestiários e funcionários que zelam pelo bom estado das quadras. O Departamento de Esportes Especializados do clube frequentemente organiza competições que envolvem todos os praticantes da modalidade.

Tênis de mesa
O tênis de mesa é um dos esportes mais tradicionais da Caldense e o que conquistou o maior número de títulos para o clube. A Caldense oferece aulas gratuitas para seus associados.

Vôlei
Praticado desde 1956 na Caldense, o voleibol projetou grandes esportistas para o cenário nacional. O atleta de mais destaque foi Mário Xandó de Oliveira, atleta da Caldense que foi convocado para a seleção mineira em 1976 e posteriormente para a seleção brasileira. Mais tarde, Xandó foi um dos ídolos da geração do vôlei brasileiro dos anos 1980. Atualmente, a Caldense é uma das melhores equipes do Estado em todas as categorias femininas. Disputa competições estaduais e regionais, representando o clube e a cidade. O voleibol master da Caldense é muito forte, conquistando resultados importantes em competições nacionais.

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