sábado, 24 de setembro de 2016

“Xerifão” Paulista fez história na Caldense e agora leva seu conhecimento aos jovens

Poços de Caldas, MG - Alguns jogadores marcam época, tornam-se eternos ídolos de suas torcidas e suas imagens acabam vinculadas a determinado clube. O zagueiro Paulista é um destes casos. Impossível não lembrar das atuações seguras dele na zaga da Caldense. Paulista fez parte do time campeão mineiro em 2002, que acabou sendo o principal de sua vitoriosa carreira. O jogador é um dos que mais vezes vestiu as cores da Caldense. Em 12 anos de clube ele passou por todas as categorias, do pré-mirim ao profissional, e atuou em 10 campeonatos mineiros, além do Brasileiro, da Seletiva para a Sul Minas, do Supercampeonato Mineiro, entre outros. O atleta participou de 304 partidas defendendo a Caldense e fez gols importantes, como o da vitória diante do América Mineiro em BH no Supercampeonato Mineiro, que colocou o time na decisão contra o Cruzeiro. Paulista ainda conseguiu a façanha de ser ídolo da torcida do Poços de Caldas FC. Além das duas equipes locais, ele vestiu as cores de União São João de Araras, Vila Nova de Goiás, CRB de Alagoas, Grêmio de Maringá, Mogi Mirim, Vila Nova de Nova Lima, América de Belo Horizonte, Ipatinga, Uberaba, Unitri, Democrata de Sete Lagoas, Atlético Tricordiano, Itapirense, Itaúna, entre outros.

Mantiqueira – Sua história dentro do futebol começou quando?
Paulista - Em 1992, com 17 anos, quando cheguei na Caldense, a concentração ainda era na rua Itabira. Ali aprendi muitas coisas da vida. A Caldense é parte da minha história, um clube muito importante. Sempre vesti com orgulho essa camisa e acabei sendo reconhecido tanto pelos dirigentes quanto pela torcida e isto para mim é uma grande honra. A Caldense me abriu portas e depois acabei atuando por 18 equipes, mas fiquei marcado por vestir a camisa da Caldense tantas vezes.

Mantiqueira – Destas 304 partidas, existe alguma especial?
Paulista – Pela sua importância, o jogo diante do Nacional em 2002, quando fomos campeões, é o mais marcante. Lembro-me de toda a campanha, foi muito difícil, chegamos ao estádio duas horas da tarde e vimos aquele lugar entupido de gente, foi de arrepiar. Chego ainda a sonhar com aquele jogo, lembrando quando o juiz apitou o final e a gente havia vencido por 2x0, a torcida invadindo o campo, a gente andando no caminhão do Corpo de Bombeiros, a grande amizade que se criou dentro do grupo, a união entre todos daquela equipe e a imprensa, o torcedor, diretoria. Tudo isto culminou neste título que marcou a todos na Caldense, na cidade e, principalmente, a mim que nasci para o futebol naquele time, nas categorias de base. Aquele dia sempre será muito especial em minha vida.


Mantiqueira – As amizades daquela época continuam até os dias de hoje?
Paulista – É muito difícil criar vínculos de amizade dentro do futebol. O dia-a-dia dificulta tudo, é muito corrido. Hoje você está aqui, depois ali e é complicado. Eu tenho muita amizade com o Gustavinho, que é da cidade, o Gilberto, o Clayton Arrabal. Tenho certeza que todos daquele grupo sempre vão querer bem um ao outro, pois foi uma conquista muito sofrida, muito difícil. As vitórias foram conquistadas pelo grupo graças a muita dedicação de todo mundo.

Mantiqueira – Quando você viu que daria para ser campeão daquele Mineiro?
Paulista – Quando a gente foi jogar em Andradas diante do Rio Branco. Aquele dia o grupo demonstrou ser guerreiro e o clima era tão bom que na ida para Andradas já tínhamos certeza da vitória. Foi uma semana de concentração, houve muito auxílio do psicólogo Gilmar Galo e eu tinha certeza que a gente não sairia de Andradas sem a vitória. Realmente, vencemos o jogo que foi uma verdadeira batalha e o título acabou vindo pouco depois.

Mantiqueira – Você teve a experiência pouco antes do final de sua carreira de jogar no Poços de Caldas, rival da Caldense, e acabou também tendo uma afinidade grande com a torcida deste time. Como você vê isso?
Paulista – Foram fases distintas da minha vida profissional. Quando sai da Caldense passei por algumas equipes antes de ir para o Poços de Caldas. Jogar neste time para mim foi gratificante. Era minha vontade voltar a jogar em Poços de Caldas, onde eu estaria mais perto de minha família, e surgiu a oportunidade de ir para o Vulcão. Tive uma grande satisfação de jogar para o Poços de Caldas, sabendo que o time havia sido formado recentemente e já tinha uma grande torcida na cidade. Agradeço muito as pessoas que me deram esta oportunidade e vai ficar na minha história ter sido jogador pelos dois times de Poços. Minha consciência é tranquila porque em todos os times em que passei sempre procurei fazer o melhor.

Mantiqueira – Que diferenças existem em jogos de módulo I e módulo II?
Paulista – O que pesa bastante é a própria mídia, que foca sempre mais nos times que estão na primeira divisão. Eu disputei pelos dois campeonatos e vi que de uns anos para cá cresceu o interesse pelo módulo II. Para um jogador que está disputando um módulo II o sentimento de ajudar seu time a subir para o módulo I é muito bom, uma boa sensação. Tive a oportunidade de subir duas vezes, uma com o Uberaba e outra pelo Tricordiano, que subiu da terceira para a segunda divisão.

Mantiqueira – Você se espelhou em algum grande jogador?
Paulista – Por ser zagueiro a gente começa a analisar e sempre gostei muito do estilo do Adilson Batista. Ele tinha uma técnica muito boa, apesar de não ter defendido muito a seleção brasileira, mas sempre o tive como um espelho. Eu tive a felicidade de trabalhar com ele depois que deixou de jogar e tornou-se técnico e eu passei a admirá-lo mais ainda. É um grande profissional, uma pessoa que admiro muito.

Mantiqueira – Que treinador você destaca dentre os muitos com quem trabalhou?
Paulista – O principal para mim é o Zezito, que foi com quem trabalhei o maior tempo de minha carreira. Sempre tive bom relacionamento com todos os outros. Me dei bem com o Walter Ferreira, que foi campeão aqui na Caldense, junto com o Zezito, o Adilson Batista que já citei, enfim, tive a oportunidade de trabalhar com grandes técnicos, como Vantuil Rodrigues, Vantuir Galdino, Cassiá, Mazinho, Carbone, Ailton Lira, que foi o técnico que me deu a primeira oportunidade, Zé Maria Pena, além do meu amigo Marcos Vinícius, o Marcão.

Mantiqueira – Quem foram seus principais parceiros durante sua carreira?
Paulista – O primeiro de todos foi Deus, que nos momentos mais difíceis sempre esteve do meu lado. Em contrapartida, nos melhores momentos de minha vida pude engrandecer e exaltar este mesmo Deus através do meu trabalho e do meu testemunho. Não posso esquecer da minha família, sempre do meu lado, meus amigos, torcedores de todas as equipes que joguei, imprensa, dirigentes, tanto de Caldense quanto do Vulcão, que sempre acreditaram em mim e me deram oportunidades. Meu sentimento é de gratidão, pois foi através do futebol que me tornei uma pessoa realizada. Quero dar sequência fazendo um pouco do que aprendi ensinando uma nova geração e quem sabe fazer todos vencedores da vida e se possível dentro do esporte.

Mantiqueira - E como é o trabalho com crianças?
Paulista - É maravilhoso. A principal finalidade deste trabalho é passar para os meninos que eles precisam ter bons seguimentos na vida. A formação do cidadão está sempre em primeiro lugar. Depois se vier a formação do atleta é ótimo. Graças a Deus, desde que comecei a trabalhar com crianças consegui tirar muitos meninos da frente do computador e trazer para o saudável mundo do esporte.

Mantiqueira - E como é sua avaliação da escolinha da Coopoços, projeto que você começou em 2010 e continua até hoje.
Paulista - A escolinha é um sonho que virou realidade. Começamos este projeto em 2010, ao lado do amigo André Oliveira, e o tempo mostrou que foi uma aposta acertada. Desde que comecei este trabalho podem ter certeza que ofereci o meu melhor e ensinei para a garotada um pouco do que aprendi nos anos que joguei futebol. Mas destaco que o apoio dos pais também é fundamental para o sucesso da escolinha.


Mantiqueira - Você tem a pretensão de um dia ser técnico de futebol profissional?
Paulista – Estou muito focado no trabalho com a escolinha. Poderia até almejar coisas maiores, mas creio que o que Deus preparou para mim foi este trabalho na Coopoços e com os garotos da cidade. Se amanhã ou depois eu demonstrar capacidade de vida para alçar novos rumos quero estar preparado.

Mantiqueira – Qual seu método de ensino com os meninos da escolinha?
Paulista – Minha preocupação inicial é passar uma base de fundamentos, que é o que acho que o garoto que quer seguir no futebol vai precisar mais. Mas a preocupação não gira nem tanto em procurar desesperadamente novos valores, mas uma contribuição em ajudar a formação do jovem como cidadão. Esta é a proposta da Coopoços e tanto eu quanto os professores Zé Carlos e Marcela Carvalho, meus auxiliares, nos baseamos nisto. Sempre me considerei um jogador técnico e priorizo a ofensividade no futebol. É perfeitamente possível manter um time que defende bem e ao mesmo tempo é perigoso no ataque, ou seja, futebol precisa de equilíbrio para dar certo.

Nenhum comentário: