sábado, 17 de setembro de 2016

Com duas olimpíadas no currículo, Renato Rezende almeja Tóquio 2020

A entrevista especial do Mantiqueira deste domingo é com Renato Rezende. O piloto, que começou a praticar o BMX na pista do parque municipal, virou ídolo das crianças, disputou duas olimpíadas e agora sonha disputar mais uma. Ele quer estar em Tóquio em 2020. Rezende conta ao Mantiqueira as dificuldades enfrentadas para chegar aos jogos do Rio, os planos para trazer uma pista profissional para Poços de Caldas, sua ligação com a família e os planos de casamento.

 Mantiqueira - Com duas olimpíadas na bagagem, que avaliação você faz de sua participação no Rio de Janeiro?
Renato Rezende - Apenas pelo fato de representar o Brasil em duas olimpíadas me sinto muito vitorioso. Competir em casa especialmente foi muito bom e durante quatro anos me preparei muito. Deixei quase tudo de lado focando nos jogos. Passei dois anos e meio fora do Brasil à procura de uma estrutura melhor e um desempenho melhor e consegui este objetivo. Cheguei aos jogos do Rio muito bem, mesmo tendo um ano muito difícil. Tive duas lesões sérias, não quero que interpretem como desculpa, mas atrapalhou muito. Por isto o balanço de minha participação foi uma grande vitória. Para ter ideia uma lesão ainda me incomoda e estou tentando me recuperar para entrar bem no próximo ciclo olímpico. Enfim, minha preparação para a disputa no Rio de Janeiro foi muito dolorosa por causa de uma clavícula quebrada e uma lesão na coluna. Mas foi muito bom participar dos jogos, pois consegui vencer todas estas etapas de dores e sofrimento e treinei bem, disputei os jogos e estou muito contente. Na tomada de tempo fiquei em 16° entre trinta e dois competidores e tentei o tudo ou nada nas quartas de final. Foi complicado, não tive muito espaço e até um pouco de azar. Como tive um pneu furado em uma das baterias entrei na última para o tudo ou nada e tentei passar onde era praticamente impossível. Era o que eu tinha que fazer, mas infelizmente acabei caindo e fiquei fora das finais. Fiz tudo o que podia para desenvolver o melhor, contei ainda com uma grande ajuda da torcida, da minha família, que estava toda lá. Foi lindo, por isto o balanço é muito positivo. O mais importante foi o carinho que veio depois, principalmente aqui em Poços de Caldas e em todo o Brasil de pessoas que nem conhecia me mandando força e parabenizando. Todos viram o quanto me dediquei e dei tudo o que eu tinha para representar bem meu povo. Infelizmente não deu, mas as pessoas entenderam e ninguém me criticou por não chegar às finais. Todos estavam orgulhosos e me agradecendo. Fiquei feliz porque é fácil elogiar um atleta que ganha uma medalha, mas no meu caso, mesmo sem esta medalha e nem mesmo a classificação para a final, senti uma energia muito positiva da torcida brasileira e isto será inesquecível. Estou muito honrado com tudo o que aconteceu e este apoio da torcida, o incentivo de todos foi o que me levantou e me deu forças para continuar.

Mantiqueira - Na disputa final você foi tocado pelo piloto Holandes Niek Kimmann. Você sentiu maldade dele?
Renato Rezende - De forma alguma. Ele defendeu a pista dele, não tive como passar e acabei caindo. Tentei passar no meio, entre ele e outro ciclista da Nova Zelândia. Sabia que as chances ali eram poucas, mas eu precisava tentar para seguir na disputa. Se ele não tivesse fechado a porta talvez eu tivesse passado, mas ele estava com mais estabilidade e por isto acabei caindo. Ele é meu amigo, defendeu sua prova, o que qualquer um faria. O BMX é muito imprevisível e no Rio de Janeiro muitos favoritos acabaram de fora. É um esporte de contato e por isto tudo pode acontecer. Tem esporte em que o mais rápido vence, caso do Bolt, que sempre larga atrás, mas não tem ninguém para atrapalhá-lo. No BMX é todo mundo embolado e as possibilidades de ser atrapalhado são grandes.

Mantiqueira - O que muda você ter tido a chance de disputar uma Olimpíada em casa?
Renato Rezende - Primeiro o Brasil me surpreendeu por ter proporcionado ao mundo um grande espetáculo. Poucos estavam esperando que fosse um evento tão bonito e temos que sentir muito orgulho do nosso país. O lado pessoal claro que conta muito e será uma honra contar para meus filhos e netos que participei de uma Olimpíada na minha casa, o que poucos atletas poderão ter a chance de conseguir. Foi tudo muito legal, fazer parte deste evento, um dos maiores do mundo, será inesquecível.

Mantiqueira - E agora? Quais os planos?
Renato Rezende - Agora vou descansar, me recuperar da lesão nas costas e até o final deste ano só quero descansar. Não tenho nenhum compromisso oficial e vou me dedicar apenas aos treinos e quero terminar a temporada completamente recuperado. Em dezembro vou começar a pré-temporada e iniciar um novo ciclo.

Mantiqueira - Você pensa em disputar a próxima Olimpíada em Tóquio?
Renato Rezende - Claro que sim, vou estar em Tóquio. O Brasil está formando um time bom e acredito que a gente consiga até mais de uma vaga.

Mantiqueira - Poços de Caldas faz parte de seus projetos?
Renato Rezende - Totalmente. Quero voltar a morar aqui e fazer os dois primeiros anos do ciclo olímpico na cidade.

Mantiqueira - Mas e a estrutura da cidade não seria um empecilho?
Renato Rezende - Atualmente não temos estrutura, mas quero mudar isto, mas ainda não sei como. Sei que nenhum prefeito pode nos prometer nada, mas vou esperar as eleições e aquele que vencer para prefeito de Poços quero conversar e tentar apoio para uma estrutura boa para a cidade. Sei que é um sonho muito grande, mas quem sabe eu consiga trazer uma pista de supercross e uma pista olímpica. O local ainda não sei, a pista do parque deve ficar lá na formação dos jovens, e precisamos buscar local para uma pista de alto rendimento. Poços é a cidade que eu amo, o clima é o melhor de todos e quero minha preparação aqui. Caso não consiga tenho que ir para fora. No Brasil temos algumas opções de treino, como em Londrina. Espero que a pista montada no Rio de Janeiro continue. Não quero sair do Brasil, minha prioridade é treinar em Poços, se não der, que seja no Brasil.

Mantiqueira - Como você vê o atual nível técnico do BMX mundial?
Renato Rezende - O nível técnico do BMX está crescendo cada vez mais e eu me vejo mais experiente hoje para tentar competir de igual para igual com os principais pilotos do mundo. Acredito que teremos um ciclo olímpico muito forte e estou preparado para fazer parte dele. Como disse quero ficar a maior parte do tempo no Brasil e participar das principais competições fora. Vejo-me no mesmo nível técnico dos principais pilotos do mundo e já venci os principais nomes do mundo pelo menos uma vez na vida. Por isto me sinto em condições de ir bem em Tóquio. Sinto-me bem técnica e mentalmente para isto.

Mantiqueira - Você sempre foi muito ligado à família. Agora está prestes a se casar e iniciar um novo ciclo em sua vida. Como andam estes planos?
Renato Rezende - Graças a Deus o esporte só me proporcionou coisas boas. Desde criança que estou neste mundo e sem o apoio da família certamente não teria conseguido nada do que tive até hoje. Agora estou noivo, vou me casar com minha amada Nathane, quero filhos, netos e continuar o legado da família Rezende no esporte. Meu pai é meu maior incentivador e numa época em que o dinheiro era muito curto ele lutava para que eu participasse dos campeonatos e queria garantir o futuro. Sou muito grato a ele, minha mãe, meus irmãos, tenho muito orgulho de todos que são muito importantes para mim. Quero seguir este exemplo e mostrar para meus filhos o que de maravilhoso o esporte pode fazer em suas vidas, assim como fez para mim. Quero agradecer ainda o incentivo da família de minha noiva que também foi muito importante. E, principalmente, ela, que soube entender este lado. Estamos juntos há sete anos, mas neste período ficamos perto apenas um ano morando na mesma cidade e os outros seis foram longe. Sem o esporte eu não seria nada. Tudo que consegui foi através do BMX e estou completamente realizado. É difícil isto no Brasil, mas consegui apoio e estou fazendo minha vida graças ao esporte. Mas foi tudo com muito treino, quedas, suor, sangue, dor e dedicação. Não me arrependo de nada e se tivesse que fazer tudo novamente faria com certeza.

Mantiqueira - Você é o maior incentivador do BMX em Poços de Caldas. Como foi ver a pista local recebendo um grande evento no final de semana passado?
Renato Rezende - Muito bacana ver nossa pista receber um grande evento nacional. O Campeonato Paulista recebe grandes pilotos de todo o Brasil e a equipe de Poços está muito bem. Conheço todos os meninos de Poços que treinam naquela pista e todos são especiais. Quando apareço na pista vejo muito meninos e isto é muito legal para nosso esporte. Fui a algumas escolas da cidade e todos conhecem o esporte, a pista do parque e querem fazer parte do BMX. Estou conseguindo deixar meu legado e conseguindo incentivar muito meninos. Chegam a mim e dizem que sou o espelho deles e isto me realiza e mostra que tudo que fiz até hoje valeu muito a pena.

Mantiqueira - A quem você gostaria de agradecer?
Renato Rezende - A todos os parceiros, como a Caixa Econômica Federal, Comitê Olímpico Brasileiro, Confederação Brasileira de Ciclismo e o Programa Bolsa Pódio do Ministério do Esporte, Nissan, Oakley, Shimano, GT Bicycles, Tioga, Sylde e Monreale Hotel, além do apoio da Beone e da Pro1 Sports. Todos estiveram comigo, com lesão ou não, minha família, Academia Olimpo, meu centro de treinamento, imprensa, que sempre está do meu lado, enfim, a todos que acreditam em mim e no meu potencial.

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