A.A.Caldense
PAULO VITOR DE CAMPOS
pvcampos@gmail.com
Poços de Caldas, MG - No início da noite de domingo (13), faleceu o ex-jogador da Caldense Almir Ramos Barbosa. Miro, como era mais conhecido, atuou pela Veterana de 1978 a 1980 e 1983. Anos mais tarde, treinou as categorias de base do clube e cobriu o cotidiano da equipe alviverde como repórter para a Rádio Cultura.
Miro Ramos estava tratando uma hepatite C e cirrose hepática desde o início de março deste ano, mas não resistiu. No jogo de domingo contra o Linense, os jogadores da Caldense inclusive entraram em campo no Ronaldão carregando uma faixa com os dizeres: “Estamos juntos amigo, na torcida, hoje e sempre”, em apoio à sua recuperação.
Nascido em Caldas-MG em 30/10/58, Miro é irmão de Altair Ramos, que foi preparador físico do São Paulo e Nei, que atuou pelo América-MG e Guarani-SP. Começou como jogador profissional na Caldense e recebeu o apelido de “Miro Guerreiro” devido à sua raça. Passou por times como Uberaba, XV de Novembro, Nacional, Guaxupé, Ceres, Novo Horizontino, Rádium de Mococa e Flamengo de Varginha, quando sofreu uma contusão séria no tendão de aquiles e teve de encerrar a carreira.
Em 1993 montou a escolinha de futebol Bola na Rede, onde treinou crianças com idade entre 4 e 16 anos e conquistou inúmeros títulos municipais e regionais ao longo de 25 anos. Foi treinador das categorias de base da Veterana, sendo inclusive o último a ocupar o cargo, antes do encerramento das atividades no início de 2010. Em 2014 começou a trabalhar como repórter esportivo na Rádio Cultura e cobriu jogos e treinos da Caldense durante quatro anos.
O corpo foi velado no Velório Municipal de Poços de Caldas e depois transportado para Caldas-MG, onde aconteceu o enterro. A Associação Atlética Caldense manifesta os sinceros sentimentos aos familiares e amigos e agradece profundamente todos os serviços prestados por Miro à instituição.
Entrevista
Como forma de homenagem o Mantiqueira coloca parte de uma entrevista feita com Miro em 2009.
“Meus primeiros passos no futebol foi em Caldas, minha terra natal. Joguei futebol amador durante um bom tempo. Aos 14 anos passei a treinar com o Mané da Pinta na Caldense todos os sábados nas categorias infantil e juvenil. Depois de algum tempo retornei a Caldas e joguei o campeonato da cidade pelo Grêmio. Na época fomos vice-campeões amadores jogando contra o Rio Branco de Andradas em Poços de Caldas no lendário Cristiano Osório. O professor Arnaldo me viu atuando em Caldas e me colocou diretamente nos juniores da Caldense. Treinei pouco mais de um ano com o Arnaldo, um excelente treinador, meu amigo até hoje. Nesta época o treinador do profissional da Caldense era o João Francisco, que realizou um jogo amistoso contra o Pouso Alegre e deu oportunidade para todos os garotos. Tive muita sorte neste jogo, entrei, fiz um gol, agradei o treinador e assim começou minha história como atleta de futebol profissional. O ano de 1978 foi meu início como jogador profissional da Caldense”.
Profissional
“Joguei profissionalmente na Caldense durante quatro anos. Em 1983, fui o artilheiro da Caldense no Campeonato Mineiro quando marquei 11 gols mas a equipe fez uma péssima campanha naquele ano e foi rebaixada para a segunda divisão. O time voltou no ano seguinte mas eu fui emprestado para o Novo Horizontino. Tive passagens ainda por clubes de Goiás, pelo Uberaba, Rádium de Mococa, Flamengo de Varginha, onde tive um rompimento no tendão de Aquiles e aí abandonei o futebol”.
Memória
“Um dos fatos que mais marcaram minha carreira de jogador foi defendendo a Esportiva de Guaxupé. Num jogo contra o América nosso goleiro machucou e o treinador já havia realizado todas as substituições e tive que jogar no gol. Atuei durante todo o segundo tempo com goleiro e não sofri nenhum gol. Meus companheiros de time, entre eles o Jota Lopes, brincaram comigo dizendo que eu estava na posição errada. Defendendo a Caldense todos os jogos foram importantes na minha vida e estão guardados em meu coração. Um dos gols que me recordo foi na derrota para o Atlético em 1983 em Poços. O Formiga, ex-Santos, marcou para o time da capital e eu empatei. O goleiro do Galo era o João Leite. O Formiga marcou de novo e desempatou o jogo. Jogar contra times grandes sempre fica marcado na carreira de um atleta. Eu sempre marquei meus golzinhos. Nunca fui artilheiro de campeonato mas também não era bobo dentro da área. Se pintasse a oportunidade eu mandava a bola para o fundo das redes mesmo”.
Futsal
“Tive importante passagem pelo futebol de salão de Poços de Caldas. Trabalhei na equipe Portuguesa/GM Costa que na época tinha um timaço de futsal. Entrei para o time de futsal a convite do Luiz da GM Costa, grande amigo meu, irmão do Laércio Martins, que me convidou para treinar o juvenil. O time principal estava comandado pelo Rubita. Na minhas mãos passaram bons nomes do futebol de Poços, como o Gustavinho, ex-Caldense, Ipatinga, etc e Marcos Vinícius, ex-Caldense, Cruzeiro, Portuguesa e hoje está iniciando sua vida como treinador em Poços de Caldas”.
Base
“Viver longe do futebol era impossível. Me juntei ao Carlinhos Ziroldo, grande amigo que já faleceu, e montamos a escolinha Bola na Rede. Minha escolinha é uma das mais antigas de Poços de Caldas. Fundamos a Bola na Rede num tempo em que havia poucas escolinhas de futebol na cidade. Hoje temos outras, capacitadas, mas estamos na luta. Hoje sou só eu e Deus.
São Paulo FC
“Meu irmão, o Altair Ramos, foi preparador físico do São Paulo Futebol Clube por muito tempo. Por intermédio dele consegui trazer para Poços de Caldas várias vezes equipes do São Paulo que jogaram na cidade contra a escolinha Bola na Rede. Na época jogaram em Poços o Kaká, Renatinho, hoje atuando em Poços de Caldas, o Júlio Batista, entre outros. Tive a oportunidade de trazer o São Paulo três vezes a Poços de Caldas e duas outras vezes o Guarani de Campinas. Foram grandes exibições com o Ronaldão lotado e graças ao meu irmão tenho um carinho muito grande com o São Paulo Futebol Clube”.
Amor pelo futebol
“Não me vejo fora do futebol. Comecei aos 14 anos com o Mané da Pinta e não quero parar nunca. Futebol é bom demais, é saúde, mexe com nossa vida. Vejo hoje os meninos que descem os morros para vir treinar comigo e lembro da minha época. Alguns desistem no meio do caminho devido à disciplina que imponho mas a maioria fica treinando com um brilho nos olhos que só o futebol proporciona. Minha alegria é hoje encontrar ex-alunos que já estão homens formados, casados, com família mas que não se esquecem de me agradecer e me dar um abraço pelo trabalho que fizemos. Fico muito feliz quando isso acontece”.
Amigos
“Minha história no futebol rendeu amigos para uma vida toda. O Augusto é um grande parceiro que tenho. Orlando, Mirandinha, Edinho, Paulinho, Paulão. Pessoas que estão guardadas no coração.
Formação de atletas
“Hoje os empresários complicam tudo. Tenho alguns alunos que foram para clubes grandes mas eu nunca ganhei nada com isso. Hoje os empresários ficam em cima e lucram muito às custas de garotos que se formam por várias escolinhas no Brasil inteiro. Eu procuro ajudar da melhor forma possível e o trabalho de base em Poços é muito bom.
Família
“Tudo em minha volta gira em torno de minha família. Meu trabalho é por eles, minha vida, minha luta e dedicação são por eles”.
Futebol profissional
“A Caldense é minha vida, cresci dentro deste clube e quero ver ele sempre por cima no futebol. Falar da Caldense me emociona sempre".
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