(Matéria de Jéssica Balbino) Arte urbana atrelada ao esporte. Esta é a proposta do 1º Red Hot Skateboard Festival, evento que oferece aos poços-caldenses um campeonato de skate nos próximos dias 17 e 18.
A proposta dos organizadores é mesclar esporte, DJs em pick-ups tocando e graffiteiros preenchendo a parede do half (pista) de skate.
Entretanto, por conta de um impasse junto à Secretaria Municipal de Esporte, pode ser que a intervenção urbana através do graffiti não aconteça.
De acordo com um dos organizadores, Felipe Lima dos Santos, a prefeitura, através da Secretaria de Esportes, autorizou o evento, mas não deu a autorização para que o graffiti fosse realizado. “Nossa intenção é dar cor à pista, é colocar um graffiteiro no local para trabalhar numa arte enquanto a competição acontece. Estamos tratando de arte e não de pichação. Conseguimos inclusive um patrocínio de uma loja de tintas para realizar a ação”, coloca. De acordo com ele, a alegação da prefeitura é que recentemente a pista foi reformada e pintada, onde um graffiti já desbotado foi substituído por uma cor uniforme.
“Realmente o que existia no local já estava degradado. Era referente ao último evento que fizemos e trazia uma poluição visual. Por isso queremos fazer um novo, para colorir um pouco mais. A Secretaria alega que é poluição visual, eles acreditam que vão ter dor de cabeça, mas só queremos dar mais brilho à pista”, explica.
Procurado pela reportagem, o secretário de Esportes Carlos Alberto dos Santos, conhecido como Lelo, esclarece que a execução do graffiti ainda não foi liberada porque os organizadores do evento não apresentaram um esboço do que será executado. “Não tenho como autorizar algo que não sei como será. Preciso ver, num projeto que eles ainda não me entregaram, o que será feito na parede. Não posso autorizar qualquer coisa, mas adianto que a Secretaria está apoiando o evento, o campeonato. Agora esta questão do graffiti é que está pendente e depende deles”, rebate.
A competição busca valorizar a cultura de rua, que é o skate, e propiciar diversão aos adeptos do esporte na cidade.
“Vamos ter duas categorias: amador e iniciantes e também uma premiação bastante chamativa”, informa Felipe.
Os prêmios vão de troféus a produtos como tênis de skate, peças e camisetas e os interessados em competir devem fazer uma inscrição, que pede também 1kg de alimento não perecível, que deve ser doado a uma instituição que cuida de dependentes químicos da cidade.
Para os adeptos da cultura de rua e da arte, a não autorização do feitio do graffiti traz protestos.
O rapper Renan Lelis, 25 anos, MC do grupo Inquérito, encara a atitude da Secretaria como preconceituosa numa época em que graffiteiros ganham espaços de grandes galerias. Como os irmãos Pandolfi, conhecidos como osgemeos, e que hoje são destaques na exposição Vertingem, que está percorrendo o país e atualmente é exibida em Brasília, além de terem graffitado, a convite, um castelo em Glasgow, na Escócia.
“É um pensamento um tanto preconceituoso, porque as galerias de arte dos graffiteiros são justamente as ruas. Nossos ‘Van Gogh’ são os moleques de spray na mão”, diz.
Já o jornalista Guilherme Bryan, autor do livro “Quem tem um sonho não dança”, que trata sobre a juventude nos anos 80 e traz passagens sobre a arte do graffiti, acredita que, pela própria natureza, é uma ação não permitida. “Uma vez que alguém ceda um muro da casa ou um espaço num ateliê, o que o artista realizará é um mural e não um graffiti. Por isso, considero irrelevante ter ou não autorização. Os artistas devem ir lá e graffitar tudo à vontade. Apenas haverá um problema de fato se resolverem mandar a polícia para lá, como aconteceu tantas vezes quando muitos espaços eram graffitados nos anos 80, como em São Paulo, no caso do túnel da avenida Paulista, que se tornou um marco da arte na cidade”, dispara.
O graffiteiro Leonardo Pereira dos Santos, 22 anos, conhecido como Leopac, lamenta a não autorização por parte da Secretaria. “É como separar criança de doce. O graffiti é da cultura urbana, assim como o skate. Ambos são como irmãos. Não podemos decapitar as partes. A falta de autorização não é justa, afinal, ninguém tem direito de separar o que está dentro de uma cultura”.
O DJ e historiador Marcelo Kurts Santos, 34 anos, é direto: “graffiti é arte e os graffiteiros não precisam provar mais nada.”
Já o técnico em informática e adepto da cultura hip hop, Jefferson Leandro Nunes dos Santos, 21 anos, vai mais além. “Eu acho ridículo que ainda existam pessoas que são contra o graffiti, que, como todo mundo sabe, é arte. É uma das coisas mais bacanas da nossa cultura de rua. O ideal é que toda rua tivesse um muro graffitado, pois dá um visual muito bacana. Diferente do cinza que preenche os muros. É deselegante ver que as pessoas querem parar esta evolução cultural”, pontua.
O editor do portal Central Hip Hop/BF na internet, Diego Pereira, 35 anos, conhecido como Noise D, acredita que diante deste fato tudo depende das circunstâncias. “Nesse caso me parece uma atitude pouco compreensiva por parte da Secretaria. Afinal, o skate tem forte ligação com a cultura de rua e um graffiti num espaço como esse só agregaria valor ao local dedicado ao esporte”, considera.
Entretanto, apesar da polêmica, o campeonato de skate acontecerá normalmente.
Serviço – Os interessados em se inscrever no campeonato podem conseguir mais informações através dos telefones 8834-9146, 8804-9393, 9133-6071e 8851-7295.
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