sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A importância da fisioterapia no futebol

RENAN MUNIZ
Lama Verde

Reginaldo Marques Evangelista se formou em fisioterapia no ano de 1990 na UNAERP de Ribeirão Preto. Logo em seguida, veio a Poços de Caldas para realizar o sonho de exercer sua profissão. Entre idas e vindas, trabalha na Associação Atlética Caldense há mais de vinte anos. Participou de inúmeros momentos marcantes do futebol profissional da Veterana como o título mineiro de 2002 e o vice-campeonato mineiro de 2015. Hoje presta serviços na sede social do clube.

Qual a importância do trabalho de um fisioterapeuta no futebol?
A fisioterapia é importante desde a chegada do elenco na pré-temporada. Temos que avaliar a parte funcional dos jogadores. O atleta mostra como está sua mobilidade e flexibilidade. Queixa lesões, dores residuais de problemas anteriores, limitação de funções laborais. A partir disso, fazemos um levantamento, junto ao médico, para traçar todo um trabalho clínico de recuperação e prevenção. São vários fatores que devem ser levados em consideração ao longo de uma análise. Os hábitos, as vaidades, os costumes. Isso tudo é importante no processo de perspectiva de evolução. Posteriormente, acompanhamos os atletas durante a realização de exames cardiológicos, testes ergométricos e funcionais. O fisioterapeuta tem de estar muito atento à tudo isso para ter parâmetros e tomar medidas preventivas ou curativas.

Como é a rotina do fisioterapeuta no decorrer da temporada?
O fisioterapeuta não costuma viajar com o time, mas tem de dar todo o suporte durante a semana, aos finais de semana e às vezes até ir na casa de jogador para dar sequência aos trabalhos e recuperá-los o mais rápido possível. Enquanto o time está fora, o fisioterapeuta fica dentro do centro de treinamentos reabilitando os atletas que não puderam viajar. O técnico chega de viagem perguntando como está a condição dos jogadores e você tem que fazer um relatório falando se o atleta fez tudo corretamente, colocar uma previsão de retorno. É um trabalho muito ativo, são meses de atividades sem folga.

Qual a sua filosofia de trabalho?
Sou um profissional dedicado. No futebol sempre procurei realizar um trabalho intensivo para agilizar o retorno dos atletas. Tratei muitos jogadores que tinham estimativa de ficar 45-60 dias fora e os coloquei à disposição do treinador em 20 dias. Lógico que tive de contar com a disciplina e dedicação dos atletas no tratamento. Acredito que se deve trabalhar individualmente com os jogadores, pois cada um tem um biotipo, uma característica, um comportamento.

Muitos atletas usam bandagens. Qual a função desse utensílio?
Basicamente as bandagens são utilizadas para ativar ou inibir uma musculatura. São importantes na parte preventiva e curativa. Às vezes também na evolução clínica, para complementar o uso de anti-inflamatório, analgésico ou amenizar variação de temperatura, produção de líquido em excesso, edemas e inchaços. Existem alguns modelos que potencializam a força e energia de um músculo, mas esses são usados exclusivamente para melhorar o desempenho do atleta.

Quais são os riscos de aplicar bandagens por contra própria?
Muito oportuna a sua pergunta. Eu já vi situações onde os próprios atletas aplicavam bandagens funcionais e davam orientações uns aos outros. Isso é complicado. Se você coloca bandagens sem diagnóstico e sem conhecimento técnico, você pode prejudicar a integridade física de alguém. Tem gente que fala que é só colar. Não, não é só colar. É necessário ter todo um conhecimento anatômico, cinesiológico e fisiológico. Saber o que aquilo vai proporcionar, benefícios e malefícios. Hoje a medicina esta muita avançada, existem inúmeros acessórios. Mas é necessário ter conhecimento de causa para utilizá-los da forma correta.

No meio do futebol é comum vermos atletas tomando medicamentos para aliviar a dor e ter condições de jogar. Quais as consequências disso para o jogador?
Existem medicamentos que dão condições de vida ao atleta. Mas o único que pode receitá-los é o medico. Algumas medidas aliviam a dor momentaneamente, porém podem acarretar problemas no futuro, pois se coloca em esforço um componente do corpo que não está totalmente recuperado. Tudo o que o jogador estiver ingerindo deve ser repassado à arbitragem antes de um jogo para depois ser conferido no exame de doping. É consultada uma lista do que é permitido e o que não é. Caso for detectado algo anormal, a responsabilidade é do atleta, pois tem atleta que pode estar tomando alguma coisa por conta própria. A nossa função é orientá-los e nos manter informados, para não sermos surpreendidos.

Como funciona o processo de liberação de um atleta para voltar a jogar, após ter sofrido uma contusão?
Existe toda uma hierarquia dentro da comissão, mas o responsável pela liberação do atleta é o médico. Há uma troca de informações entre o médico, o fisioterapeuta, o fisiologista e o preparador físico. Cada um desenvolve um trabalho que influencia diretamente o estado físico do jogador e contribui com sua melhora. Muitas vezes o próprio atleta se manifesta para nos ajudar a saber a real situação dele e determinar o momento correto de retornar às atividades normais.

Após mais de vinte anos atuando no futebol, você se afastou da área. O que te motivou a isso?
Eu fiquei muito decepcionado com o desfecho do Campeonato Mineiro de 2015. Foi um trabalho árduo, honesto, de um grupo vencedor, que terminou de uma forma muito triste. Além disso, perdi meu avô dois dias depois da final. Por isso, decidi me afastar temporariamente do futebol. Hoje trabalho como fisioterapeuta na sede social da Caldense, onde presto serviço aos associados. Estou sempre participando de cursos para me atualizar e me especializar. Estive fora do país, fui convocado para ser fisioterapeuta da seleção dos Emirados Árabes, fui para a Malásia como representante do Brasil. Minha vida é a fisioterapia. Procuro melhorar diariamente para conquistar cada vez mais melhores resultados.

Nenhum comentário: