domingo, 18 de julho de 2010

Problemas de saúde afastam Jânio Joaquim da Caldense

Com uma história construída quase toda na Caldense, o atual gerente de futebol Jânio Joaquim anunciou esta semana que está deixando o cargo para cuidar de sua saúde. Sofrendo com uma cirrose hepática e precisando de um transplante de fígado, ele recebeu um ultimato dos médicos: ou para ou terá sérias consequências.
Jânio conversou com a reportagem e relembrou toda a sua trajetória dentro da Veterana. Como de costume, ele não deixou de cutucar velhos inimigos e revelar mágoa com boa parte da imprensa de Poços de Caldas.
Como atleta, Jânio atuou 312 vezes pela Caldense e marcou cerca de 20 gols. Ele sempre atuou como zagueiro central.
Mantiqueira – Quando começou sua história na Caldense?
Jânio Joaquim – Me profissionalizei na Caldense dia 2 de maio de 1973. Meu primeiro contrato como profissional foi assinado pelo Sebastião Navarro, vice-presidente da Caldense na época. Cheguei à Caldense por intermédio do sr. Geraldo Martins, meu conterrâneo de Carmo do Rio Claro e pai do Laércio Martins e da minha atual esposa Luiza Martins.
Minha passagem logo de cara foi um sucesso e acabei ficando 10 anos no clube. Logo no primeiro ano de contrato, mesmo sendo muito jovem, participei de quase toda a campanha no campeonato estadual. Fomos ainda campeões da Taça Santos Dumont, competição que era disputada por todos os clubes do interior. Na época o treinador era o Juquita. Fomos ainda campeões do interior duas vezes sob o comando do grande Carlos Alberto Silva. Disputamos um quadrangular com Atlético, Cruzeiro e América dentro do Mineirão e ficamos em terceiro lugar. Fomos novamente campeões do interior jogando no Castor Cinfuentes contra o Villa Nova numa nova fase da Caldense. Neste time já tinha o jovem Casagrande, o Paulo Roberto Caldeira Brant. Vencemos o Villa por 1x0 com um gol do Edinho Paulista. Então, uma história com bastantes conquistas além de ter participado do primeiro jogo internacional da Caldense. A partida foi contra o Deportivo Bata da Bolívia, participei do jogo de inauguração do Ronaldão contra o Corinthians, disputei os únicos dois campeonatos brasileiros em que a Caldense esteve presente. Tive a oportunidade de estar em campo naquela partida memorável contra o Internacional de Porto Alegre no Ronaldão. Este jogo é considerado como o maior que a Caldense já fez em sua história. A partida terminou empatada em 1x1 e a equipe do Internacional tinha nomes como Falcão, Batista, Escurinho, Mauro Galvão, enfim, um baita de um timaço que foi campeão Invicto naquele ano. Ainda com a camisa da Caldense inaugurei o estádio do América de Alfenas num jogo diante do Flamengo do Rio de Janeiro, na época comandado pelo Cláudio Coutinho. Naquele dia o treinador do Flamengo assumiu a seleção brasileira de futebol e deixou Alfenas, logo após o jogo com a Caldense, de helicóptero. Jogamos contra Zico, Júnior e cia e vencemos aquele timaço do Flamengo por 1x0. Foi uma história como jogador que me deu todo o respaldo para no futuro ser o dirigente de futebol que me tornei.
Mantiqueira – Como foi o primeiro convite para ser dirigente da Caldense?
Jânio Joaquim – Em 1994 tive minha primeira passagem como dirigente da Caldense. Vim a convite do Laércio Martins. A passagem foi curta, durou apenas até 1995. Estive depois em várias equipes até que em 2002 retornei de vez para a Veterana. Assumi uma equipe que estava muito mal, com muitos jogadores no Departamento Médico, num erro da comissão técnica, que foi toda trocada por mim. Trouxe o Walter Ferreira, contratamos mais seis jogadores e fomos campeões mineiros naquele ano e na sequencia fomos vice-campeões do Supercampeonato Mineiro perdendo para o Cruzeiro no saldo de gols. Fomos vice-campeões da fase classificatória da Sul-Minas e classificamos a Caldense para participar daquele campeonato que veio a ser extinto. Fui campeão mineiro do interior em 2004. Mais nem tudo foi alegria. Depois de uma ausência de dois anos com uma troca de diretoria, voltamos e no primeiro ano fomos rebaixados. Este rebaixamento era inevitável pois encontramos um time devendo seiscentos mil reais e com 16 jogadores contratados, todos sem nossa aprovação. Esta foi a herança que o último presidente deixou para o Laércio. Assumimos a queda da Caldense e dois anos depois colocamos a equipe novamente na elite. Eu agradeço muito o empenho do meu amigo Aldo Lobo de Carvalho, que me ajudou muito, ao Luizinho da Flama, ao Alex Joaquim, ao Franco Martins, pessoas que ajudaram a montar uma equipe forte de diretoria.
Neste momento que estou parando quero ratificar meus agradecimentos ao sr. Geraldo Martins. Sem este homem não existiria futebol profissional na Caldense. Ele foi um batalhador, colocou dinheiro do bolso e foi o principal dirigente responsável por batalhar para termos o Ronaldão, encabeçou a comissão, colocou maquinários, não teve dinheiro do município. Fez-se o Ronaldão para ser a casa da Caldense que nos dias de hoje precisa pagar para jogar naquele local. Ele é uma pessoa a quem devo tudo. Depois vem o Laércio, que para mim é o maior e melhor presidente que a Caldense já teve. Campeão mineiro, coisa que ninguém vai tomar dele, além de ser dele as maiores obras do clube. Quero ainda agradecer minha psicóloga, Dra. Rose, minha mulher Luiza Martins, que passou a me mostrar que minha saúde é mais importante que qualquer outra coisa.
Mantiqueira – Qual será sua postura em relação à Caldense a partir de agora?
Jânio- Deixo de ser vidraça para ser o paralelepípedo. Podem ter certeza de que vou seguir a Caldense de perto. Os que entraram contra a Caldense na justiça não vão mais poder voltar. Aqueles que mudaram de lado não voltam. Foi muito bom tudo o que aconteceu, a criação de um novo time para que as pessoas pudessem mostrar a cara e de que lado estavam. Sofremos muito, tivemos camisas queimadas e são coisas que jamais serão esquecidas. Além de minhas funções profissionais dentro da Caldense estou também vendendo meu título de sócio do clube, por não concordar com cinco conselheiros, sendo que dois deles são natos. Acho que eles deveriam passar por um crivo da comissão que existe dentro do Conselho Deliberativo, que deveria apurar prestação de contas e funcionários dentro do clube. O dinheiro que entra no clube é do sócio, o clube é do sócio e não de conselheiro nem de funcionários e tem gente que usa o clube para benefícios próprios.
Mantiqueira – Quando começa seu tratamento?
Jânio – Segundo os médicos não posso trabalhar por pelo menos um ano para fazer meu tratamento. Este tratamento foi prejudicado pela Secretaria de Saúde de Poços de Caldas, que talvez desconheça a Constituição que diz que é direito do brasileiro ter o medicamento. Temos direito mas infelizmente fiquei sem meu remédio e só recebi o que era meu de direito com mais de um ano de atraso, o que complicou ainda mais minhas condições de saúde. Eu só consegui este medicamento através dos promotores do Ministério Público e da Dra. Priscila Cordeiro e ainda do meu amigo Dr. José Marcos de Oliveira, delegado da Polícia Federal, que entrou nesta briga comigo. Esta briga está apenas começando. Temos muita coisa para esclarecer na Secretaria da Saúde e logo todos terão novidades sobre meu futuro.
Mantiqueira – Que tipo de novidades estão por vir?
Jânio – Vou entrar para a política. Nas próximas eleições vou disputar uma cadeira e vou ganhar para vereador. Quero brigar pelo esporte de Poços de Caldas. Quero lutar por aqueles que precisam de apoio. Vou brigar pelos que têm a mesma doença que eu, que é a hepatite C. Em Poços ninguém faz nada por eles. O esporte local está completamente equivocado. Onde entra dinheiro público tem que ter prestação de contas e isto não acontece aqui. Quero trabalhar para todos, não só para o futebol profissional. Quero cuidar do futebol amador, especializado, atletismo. A gente vê inúmeros atletas de Poços que precisam ir para outras cidades para terem apoio. É só olhar o caso da Tatielle, um grande talento que compete por outra cidade e assim como outros vários casos. Na nossa Câmara Municipal não existe um vereador sequer que brigue pelo esporte de Poços.
Mantiqueira – Qual sua relação com a imprensa?
Jânio – Infelizmente foi mais de baixos do que altos. Temos poucos profissionais bons na cidade. A maioria acaba sendo maldosa e faz críticas sem fundamentos, muitas delas completamente tendenciosas. Isto acontece em todos os órgãos. Este ano, por exemplo, o próprio Mantiqueira causou revolta dentro do CT ao afirmar que o elenco estava rachado. Aquilo aconteceu num momento muito delicado do Campeonato Mineiro e que todos estavam com os nervos à flor da pele e ficaram muito chateados com o artigo. Temos nos programas esportivos na TV local, tanto no semanal quando no dominical pessoas que analisam a situação da Caldense sem ver os jogos, principalmente os fora de Poços. “Comentarista” que pensa em benefício próprio. As coisas não funcionam assim. A Copa do Mundo foi comentada por Falcão, Neto, Edmundo, Caio Ribeiro, Júnior, enfim, pessoas que sabem o que estão falando, que estiveram dentro de campo. Em Poços isto não acontece. Os programas nem parecem esportivos e sim humorísticos tipo “Zorra Total”. Tudo isto leva o esporte de Poços de Caldas para a contramão.
Mantiqueira – Como foi seu encontro com Pelé?
Jânio – Sou santista por causa do Pelé. Quando o Santos veio jogar em
Poços e me vi frente a frente com ele me senti um estranho no ninho.
No primeiro lance, dei um carrinho nele que olhou no meu olho disse assim: - “Cuidado garoto, na próxima posso quebrar sua perna...”
Na hora lembrei que ele havia quebrado a perna de um alemão. Disse para ele – “Rapaz, sou seu fã, torço para o Santos por sua causa...” Ele passou a mão na minha cabeça e disse: - “Joga tranquilo, só estou fazendo pressão...” Foi um grande momento da minha vida, assim como foi o jogo contra a seleção brasileira. Eu faço parte da história da Caldense e isto ninguém vai tirar de mim. O que me revolta é existirem dentro do conselho da Caldense pessoas que nunca foram nada dentro do clube. É uma pena não existir neste conselho pessoas importantes como um Jota Lopes, um Paulo Roberto, um Jânio Joaquim. Lastimável. Por tudo isto estou vendendo meu título e não quero mais ser coisa alguma dentro da Caldense.
Mantiqueira – Em setembro acontecem eleições no clube. Quem você apoia?
Jânio – Se eu pudesse escolher para novo presidente da Caldense, meus favoritos seria o Bambini ou então o Franco Martins. Com qualquer um destes dois o clube estaria muito bem representado.

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