sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Novo presidente da Caldense lamenta fórmula de disputa do Mineiro 2011

 “Não sou de fazer número. Quero ter opinião de peso, caso contrário não me interessa”. As palavras de Antônio Bento Gonçalves ilustram sua revolta com a situação criada com a definição da fórmula de disputa do Campeonato Mineiro de 2011. Ele deixou a reunião do Conselho Arbitral realizada em Belo Horizonte antes do final, expressando seu imenso descontentamento. Segundo o presidente eleito da Caldense, os clubes do interior precisam se unir para tornar a competição mais emocionante e justa. Confira nesta entrevista o desabafo de Toninho Bento Gonçalves, que também pede ajuda à prefeitura para manter os projetos sociais do clube com crianças carentes.
Mantiqueira – Como está a expectativa de reassumir o cargo de presidente da Caldense em 2011?
Antônio Bento Gonçalves - Estou bastante satisfeito em voltar para a Associação Atlética Caldense. Estou tomando conhecimento de tudo aquilo que está acontecendo, tendo várias reuniões com o Laércio Martins, vendo a situação do clube e onde está tudo ok e onde precisa de um trabalho com mais atenção para deixar as coisas correndo da melhor forma possível.
Mantiqueira – Neste momento, o futebol profissional recebe maior atenção?
ABG – Certamente neste início de trabalho o cuidado com o futebol profissional é maior e o que mais preocupa a direção da Associação Atlética Caldense. Existe um gasto com jogadores e comissão técnica bastante alto e tudo precisa ser feito com os pés no chão.
Mantiqueira – A Caldense está correndo atrás de parceiros para ajudar nestes custos?
ABG – Contratamos uma empresa de marketing para nos ajudar neste trabalho. Esta empresa vai buscar junto a empresas, autoridades, enfim, todas as pessoas de Poços de Caldas, colaboração para o futebol profissional da Caldense. Só depois de deixar o futebol profissional bem amparado é que vamos ver o que a parte social do clube precisa, qual a receita que o clube possui, quais as despesas, os comprometimentos e iniciarmos o nosso trabalho também neste setor. O que todos podem esperar de mim dentro da Caldense é que vou procurar fazer o melhor, seja no futebol ou no social, dando toda a satisfação ao associado, ao conselho, à diretoria, de tudo aquilo que a Caldense venha a precisar.
Mantiqueira – Qual a sua participação na montagem da equipe de futebol que se prepara para o Campeonato Mineiro?
ABG – Desde junho eu já sabia que iria disputar a presidência da Associação Atlética Caldense. Lógico que não sabia se venceria ou não, mas tudo levava a crer que sim. Eu e o Laércio entendemos que o melhor para o clube seria contratarmos o treinador e dar liberdade para ele trabalhar. Fechamos com o Catanoce, que é uma pessoa bastante entrosada no futebol, um bom técnico e já com passagem pela Caldense. Já naquela época ele iniciou seu trabalho, procurando os melhores jogadores, aqueles que se enquadravam dentro da faixa salarial da Caldense. Este trabalho foi feito sem que ninguém tivesse conhecimento, os atletas que ele pediu foram contratados e estão trabalhando desde o dia 19 de setembro. Tudo feito em conjunto entre a atual e a nova diretoria da Caldense. O time está quase completo, num período de adaptação, trabalhando a parte física, realizando exames médicos e ontem tiveram seu primeiro coletivo. Acredito que o grupo está completo, faltando apenas um ou dois jogadores, no máximo. Este trabalho tem tudo para dar certo. Acredito que com estes jogadores, comissão técnica e o que está sendo feito, temos tudo para fazer uma boa campanha.
Mantiqueira – O que desagradou a Caldense no Conselho Técnico?
ABG – Fui pego de surpresa. Quando fui presidente da Caldense, há 30 anos passados, quem mandava no futebol era Cruzeiro e Atlético. Quando se chegava ao Conselho Arbitral, as regras eram ditadas pelos dois clubes e todo mundo concordava. Depois, os clubes do interior se uniram e os diretores destas equipes começaram a se reunir antes do Conselho Arbitral para tratar tudo que era de seus interesses. Quando chegava o dia do Conselho, Cruzeiro e Atlético acabavam tendo que aceitar o que a gente queria e todos acabavam ficando satisfeitos. Agora mudou tudo. Eu pensava que ainda era daquele jeito que as coisas eram discutidas, mas para minha surpresa tudo está muito diferente. No meu entendimento, o que os clubes do interior aceitam hoje é uma loucura. Durante o Conselho os times com pontuação maior mandam mais. Esta pontuação é de acordo com a colocação no último campeonato. O campeão tem 14 pontos, 13 o segundo, 12 o terceiro e assim vai. No momento em que cheguei para o Conselho já fui avisado que a Caldense teria pouca influência na reunião porque sua pontuação era baixa. O Cruzeiro foi o primeiro a ter a palavra e apresentou uma proposta de disputa que acabou sendo a escolhida, já que Atlético, América e Ipatinga concordaram. Com a pontuação destes clubes, os outros times foram vencidos e vi que estávamos na reunião apenas para fazer número. Me levantei e fui embora. Não concordo em ser apenas número e se minha posição não seria ouvida não tinha nenhum motivo de eu continuar naquele conselho. Até porque não adiantaria nada eu falar alguma coisa numa reunião em que tudo já estava definido. Da forma como foi feito o campeonato é para beneficiar estes quatro times que se consideram os principais de Minas. Uma pena.
Mantiqueira – Como o senhor acha que o campeonato deveria ser?
ABG – A fórmula definida neste conselho vale por dois anos, ou seja, 2011/2012. Eu acho que a primeira iniciativa de todos os clubes envolvidos no Campeonato Mineiro é lutar para que todos tenham o peso um, ou seja, tenham poder igual de palavra na hora de decidir a fórmula de disputa de um campeonato estadual. Se esta mudança não acontecer, Cruzeiro, Atlético e América vão continuar mandando no futebol do Estado. Se estes três times em companhia do Ipatinga acham que a disputa deve ser entre eles, por se julgarem os melhores ou por outras diversas situações, acho que eles deveriam fazer um campeonato apenas entre eles e liberarem os outros oito clubes para uma competição à parte. Os quatro teriam o seu campeão mineiro e os outros oito também teriam um campeão. Os dois campeões jogariam entre si e o vencedor seria o supercampeão mineiro. O torcedor quer ganhar, ver seu time ser campeão. Para um clube, o ideal é disputar um campeonato em que ele tenha a chances de brigar pelo título. Do jeito que está hoje é muito mais difícil. Se for dividido da forma que falei, todos terão chances de ganhar o campeonato, que ficaria muito mais interessante. O público seria maior nas partidas, as disputas mais emocionantes. Este é o meu ponto de vista que vou defender até o fim.
Mantiqueira – O senhor ainda está trabalhando em defesa desta fórmula de disputa?
ABG – Estou tentando entrar em contato com Eduardo Maluf, que definiu a fórmula atual, já que era ele quem falava pelos quatro clubes no Conselho Arbitral. Sei que reverter a situação atual é praticamente impossível, mas quero expor minhas ideias e ver se consigo plantar uma sementinha para que num futuro próximo pode ser feito desta forma. Tenho certeza de que minhas ideias seriam muito bem aceitas pelos dirigentes de todos os clubes que disputam o Campeonato Mineiro. O campeonato do jeito que foi definido, na minha opinião, é horrível, não é bom para ninguém e dificulta muito para os times do interior.
Mantiqueira – A Caldense disputará algum campeonato além do Mineiro em 2011?
ABG – Eu acho que teremos condições de disputar a Série D do Campeonato Brasileiro. Claro que tudo depende de apoio financeiro, mas eu acredito muito no trabalho de marketing que vamos fazer a partir de agora. Este trabalho bem feito, e a cidade entendendo nossa finalidade, temos boas chances de acharmos parceiros para tocar nosso futebol. Temos muitas indústrias, empresas e havendo a colaboração de muitas pessoas podemos ter uma arrecadação que ajudaria o clube. A Caldense sozinha não consegue arcar com todos os custos.
Mantiqueira – A Caldense recentemente perdeu o apoio dos Correios e da Petrobras na área social. O que está sendo feito a este respeito. O clube vai ter algum apoio da prefeitura?
ABG – Estou numa situação difícil em relação a este assunto. A Caldense, através da influencia de Laércio Martins, recebia R$ 300 mil dos Correios e R$ 400 mil da Petrobras. Este valor era aplicado no clube para realizar trabalhos de iniciação esportiva. Este trabalho atendia cerca de 400, 500 crianças, que saíam de casa e vinham praticar esportes, deixando as ruas, tendo uma atividade importante para o seu dia-a-dia. A parceria não foi renovada e os projetos tiveram que ser encerrados. Estes meninos e meninas não podem agora ficar sem este atendimento. No meu entendimento, a Caldense tem que colaborar para a continuação deste trabalho. Mas a Caldense precisa de apoio neste sentido e acredito que a cidade precisa fazer também seu papel e nos ajudar a continuar com estes projetos. Só que a Caldense não tem condições de bancar o trabalho. Vou reivindicar ao prefeito um auxílio para esta educação esportiva que sempre foi feita dentro do clube. Havendo esta compreensão do poder público os projetos voltam e as crianças passam a ter novamente o contato com o esporte. Se não houver ajuda, infelizmente a Caldense não poderá assumir esta despesa e realizar sozinha esta parte social.
Mantiqueira – Existe possibilidade de volta da parceria com os Correios e a Petrobrás?
ABG - Estamos tentando um novo acordo, mas sinceramente não posso afirmar se será viável ou não. Talvez a Petrobras possa voltar a ajudar, mas até o momento não tem nada certo.

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