quinta-feira, 14 de julho de 2011

Caldense acerta com Renatinho

Rápido, habilidoso e com passagens por grandes clubes do Brasil, como São Paulo e Fluminense, Renatinho é o novo reforço da Caldense para o Campeonato Mineiro de 2012. O acerto definitivo aconteceu ontem, quando o jogador se reuniu com Alex Joaquim e discutiu as bases do contrato. O trabalho para entrar em forma física começa em agosto e o jogador é uma das esperanças alviverde de uma grande temporada em 2012. Confira entrevista com o meia que já jogou com Romário e foi treinado por Muricy Ramalho.
Mantiqueira – Você estava em atividade?
Renatinho – Joguei até final de abril no Santa Helena de Goiás, onde disputei a primeira divisão do Campeonato Goiano. Este ano joguei ainda no Rio Branco de Americana, onde tive problemas com salários atrasados e como apareceu a proposta do Santa Helena resolvi ir para lá.
Mantiqueira – Como apareceu a chance de vir para a Caldense?
Renatinho – O primeiro contato veio através do Alex Joaquim. Houve interesse da Caldense pelo meu futebol. Foi uma negociação que durou cerca de dois meses. Brinco comparando que minha negociação estava mais difícil que a saída do Kaká do Real Madrid. Esta novela teve fim hoje (ontem), todos ficaram felizes com o que foi acordado e agora sou jogador da Caldense.
Mantiqueira – Que metas a Caldense lhe passou?
Renatinho – O Alex me passou todos os projetos da Caldense. A Série D do Brasileiro está como principal meta, porém, precisamos conseguir fazer um bom Campeonato Mineiro para conseguir a vaga. A Caldense está formando um grupo muito forte para o Estadual. O projeto é sério e muito me interessou. O time vai disputar a Série D e tentar a vaga para a C, B e quem sabe ter a possibilidade de um dia chegar à primeira divisão do futebol brasileiro. A Caldense está pensando grande e isto me agrada muito.
Mantiqueira – Como será o início do seu trabalho, agora como jogador da Caldense?
Renatinho – A partir de agosto começo os treinamentos, juntamente com Waldery e o Mário. O Alex deixou claro que nós não seremos emprestados, ficaremos aqui até a apresentação dos outros atletas, no final do ano. O Alex está tentando evitar o que houve com o Waldery, que foi emprestado ao Paraná Clube e se contundiu, ficando sete meses parado.
Mantiqueira – O fato de ter atuado pelo Poços de Caldas FC e sido destaque do time quando passou por lá não geraria uma cobrança maior por parte da torcida da Caldense?
Renatinho – Por tudo o que fiz defendendo as cores do Poços de Caldas pode ser que esta cobrança exista sim. Em pouco tempo atuando com as cores do Vulcão marquei 17 gols, inclusive o primeiro gol da história do clube, contra a Santarritense, e a torcida vai querer o mesmo desempenho que tive lá aqui na Caldense. Sei do meu potencial. Jogar na Caldense é diferente, tem uma cobrança por ser um clube tradicional do futebol mineiro, um clube que tem uma atenção muito grande da imprensa e da própria torcida. Sei das responsabilidades que tenho e minha resposta a possíveis cobranças será dada dentro de campo. Sou torcedor da Caldense desde criança, desde os tempos em que jogava no São Paulo, minha família toda torce pela Caldense e por isso não vou ter problema algum em fazer o melhor pelas cores da Caldense. Tenho potencial e posso dar uma resposta positiva. Quem vai ganhar com isso é a torcida. Sei que posso fazer tudo que fiz por clubes como São Paulo, onde conquistei títulos. Se conseguir fazer pelo menos uma parte do que fiz por lá será muito bom.
Mantiqueira – Por que só agora você tem a chance de defender a Caldense?
Renatinho – Em 2005 eu treinei na Caldense, antes de acertar com o Paulista de Jundiaí. O Gilson Kleina era treinador da Caldense e também muito amigo meu. Ele me convidou para treinar na Caldense e que sabe jogar pelo time. Na mesma época recebi uma proposta muito boa do Paulista de Jundiaí era muito e não fiquei em Poços. Mas Deus sabe a hora certa de tudo na vida. Se o acerto foi agora é porque este era o momento certo. Estou feliz, mais maduro com passagens por muitos clubes. Joguei em clubes grandes e outros de menor expressão. Destes times menores posso te garantir que nenhum tem a estrutura que a Caldense tem. Vejo que aqui terei totais condições de desempenhar meu trabalho. Fluminense e São Caetano, por exemplo, não possuem a estrutura que a Caldense tem. Aqui tem um ótimo centro de treinamentos e os jogadores têm totais condições de trabalho.
Mantiqueira – Vamos falar do começo de sua carreira. Como foi sua passagem pela base em Poços de Caldas e como seu futebol despertou interesse de um dos maiores clubes do Brasil?
Renatinho – Comecei a jogar em Poços de Caldas com o Aécio em uma escolinha que ele tinha no Santa Rosália. Foi ali que realizei meus primeiros campeonatos. Algum tempo depois comecei a treinar com o Mané da Pinta, no futsal. Tive passagens no salão da Caldense e depois fui para o campo. Tudo isto com apenas 12 para 13 anos. Nesta época apareceu o São Paulo Futebol Clube em minha vida. Alguns conselheiros do time do Morumbi vieram em Poços e o Rubens Granato me apresentou para eles. Os conselheiros viram um jogo meu e gostaram e no mesmo dia já estava indo para São Paulo. Minha história começou mesmo aqui em Poços e jogando campeonatos da Liga Poços-caldense de Futebol. Quero ressaltar que o responsável de eu ter saído daqui tão cedo foi o Rubens Granato.
Mantiqueira – E como foi para o menino Renatinho chegar no São Paulo Futebol Clube?
Renatinho – Só quem joga num time como o São Paulo sabe as dificuldades em se permanecer num clube como aquele durante cinco anos. Ficar cinco anos numa base do São Paulo é muito mais difícil do que você despontar no futebol brasileiro de uma hora para outra. Todos os dias chegam inúmeros jogadores, todos querendo um espaço e eu fiquei sete anos lá, sendo cinco nas divisões de base e outros dois como profissional. Conquistei 15 títulos na base, sendo um bi mundial na Suíça e no profissional fui campeão paulista em 2000 e campeão do Rio São Paulo em 2001. O São Paulo é minha vida. Tudo que conquistei na carreira, tudo que tenho hoje de bens materiais devo ao São Paulo, que foi onde tive minha formação. Joguei lá dos 14 aos 22 anos.
Mantiqueira – O que de verdadeiro aconteceu na sua saída do São Paulo? Houve alguma decepção com o clube paulista?
Renatinho – Decepção com o São Paulo nenhuma. Durante o tempo em que estive lá fui tratado como ídolo pela torcida, mesmo tendo pouca idade. Contra a entidade São Paulo Futebol Clube não tenho nenhuma mágoa. O problema maior foi com empresários. Depois que estes profissionais entraram no futebol a coisa em si virou um grande negócio e aí é onde acaba o amor, acaba tudo entre o atleta e o clube e vice-versa. Na época o São Paulo me fez uma proposta de três anos de contrato, com término em 2004, e meu empresário não aceitou. Eu era empresariado pelo Wagner Ribeiro, empresário hoje do Neymar, ex-empresário do Kaká. Ele recusou a oferta e pediu mais dinheiro para a renovação. Como não houve acordo, depois de seis meses meu contrato com o São Paulo se encerrou. A partir do momento que não houve a renovação com o clube fui deixado de lado pela diretoria, na época o José Dias, diretor de futebol. Fui sumindo, não jogava, apenas treinava e meu espaço ficando cada vez menor. Tudo isto por culpa de empresário e minha relação com o São Paulo e sua torcida sempre foi 100%. Deixei o São Paulo no começo de 2002.
Mantiqueira – Como foram suas passagens pelo Santa Cruz e pelo Fluminense?
Renatinho – Minha passagem pelo Santa Cruz foi muito triste. Deixei o São Paulo, um clube com uma das maiores estruturas do Brasil, e cai no Santa Cruz, com 21 anos, tendo salários atrasados, coisa que nunca havia acontecido na minha vida. Foi difícil e ali cai na verdadeira realidade do futebol brasileiro. Foi um baque grande na minha carreira, uma realidade diferente, sem organização. O que me segurou lá foi o Muricy Ramalho, treinador da equipe na época e por isso fiquei. Se não fosse pelo Muricy não ficaria nenhum dia naquele clube. Já no Fluminense as coisas não foram diferentes. É um clube que não paga direito e atrapalha o desempenho do atleta. O Fluminense me surpreendeu pela falta de estrutura. No Flu, o mais marcante foi a experiência de jogar ao lado do Romário e ser treinado pelo Renato Gaúcho, mesmo assim não são boas as lembranças que tenho deste clube.
Mantiqueira – Na sua época de auge a imprensa ficou muito em cima de você. Você acredita que isso atrapalhou de alguma forma?
Renatinho – Outro dia vi uma situação com o Neymar muito semelhante ao que eu enfrentei na época do São Paulo. O que é feito com o Neymar hoje era feito comigo naquela época. Na verdade quem me puxou para o time principal do São Paulo foi a imprensa e não o treinador. O Levir Culpi treinava o São Paulo e eu, nos times de base, fazia gols em todos os jogos e ele não me colocava no time profissional. Aí houve uma mobilização da imprensa, da Rede Globo, Bandeirantes, Gazeta e jornais que cobravam minha ida aos profissionais. Estreei de forma positiva no time de cima, marcando gols contra o Santos, vencendo de goleada e aquilo chamou mais ainda a atenção no meu futebol. Não acho que isso tenha atrapalhado. Meu maior erro foi confiar demais em empresários. Coloquei tudo sob a responsabilidade do Wagner Ribeiro e este foi um pecado muito grande. Deixei minha vida nas mãos dele e confiei demais nesta pessoa. Se eu tivesse sido melhor orientado acho que os rumos de minha carreira seria outro. Mais tarde, o Eduardo Duran, do Rio de Janeiro, também empresário, me mostrou que uma boa orientação é tudo na vida de um profissional. Pena que vi isto um pouco tarde. Fica como aprendizado e espero que sirva de exemplo para outras pessoas.
Mantiqueira – Voltando a focar a Caldense. O que a torcida pode esperar do Renatinho fora de campo?
Renatinho – Meu sonho é encerrar na Caldense. Tenho 30 anos e quero jogar ainda mais algum tempo. Jogar na Caldense é a realização de um sonho e o torcedor pode esperar de mim muito profissionalismo e dedicação. Vivo um momento especial em minha vida pessoal, estou recém-casado, minha esposa está grávida, é o melhor momento para ficar em Poços de Caldas. Fora de campo sou outra pessoa, mais voltado para a família e isto faz diferença dentro de campo. Ajudando a Caldense vou estar me ajudando e vamos ajudar a Caldense crescer. Se o Ituiutaba, com estrutura bem menor, está na série B, por que não a Caldense?
Mantiqueira – Você sonha em voltar a defender um time grande?
Renatinho – Sonho em fazer o melhor a cada dia. Jogar em time grande é uma consequência, sou novo ainda e posso jogar num time grande, mas não é minha prioridade. Prefiro acreditar que fazer um campeonato bom com a Caldense e crescer com os objetivos da Caldense seja o melhor para mim. Se aparecer alguma coisa interessante mais tarde aí vamos conversar. Qualquer um quer uma oportunidade, mas agora a Caldense é minha prioridade.
Mantiqueira – O que você acha do Campeonato Mineiro?
Renatinho – É um campeonato muito difícil, já tive a chance de jogar ele pelo Rio Branco de Andradas, é o terceiro do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Rio, é complicado, difícil. Pelo que o Alex me falou, fiquei esperançoso e teremos um grande time para ir bem nesta competição.
Mantiqueira – Você se arrepende de alguma coisa?
Renatinho – Me arrependo de não ter tomado a frente no caso da renovação de contrato com o São Paulo. Era um contrato muito bom financeiramente e mais três anos de clube. Tive ainda uma discussão com o Jair Picerni, técnico do São Caetano, que me arrependo muito. Na época tive que sair do clube por causa dele. Se eu tivesse engolido alguns “sapos” hoje algumas coisas poderiam ser diferentes. Mas falar depois que acontece é fácil. Se eu tivesse o poder de mudar algumas coisas eu não bateria um pênalti contra o Olaria quando estava no Fluminense. A gente estava perdendo o jogo e errei a cobrança e a partir daquele momento a torcida começou a pegar no meu pé e meu espaço no clube foi diminuindo cada vez mais. Nunca me omiti de cobrar pênalti em minha vida mas fui infeliz naquela cobrança.
Mantiqueira – Existe alguma frustração por ver companheiros como Kaká, Julio Baptista e Fábio Simplício fazendo sucesso na Europa e você não?
Renatinho – Na verdade, tive passagem pela Europa sim. Joguei num time pequeno na Bélgica. Foi um período em que fiquei sumido no Brasil. Jogar na Bélgica pode ter sido um erro, pois estava bem no Brasil jogando pelo Juventude e não renovei para ir embora. Ao voltar ao Brasil não consegui mais o espaço que estava tendo e tive que jogar em equipes de menor expressão do Brasil.

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