segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Torcida do Rio Branco promete resposta nas urnas

Estive em Andradas no último final de semana e constatei um clima de muita tristeza na cidade. O Rio Branco, clube acostumado a boas campanhas no Campeonato Mineiro, parou suas atividades e deixou seus torcedores órfãos nas próximas temporadas. O torcedor do Azulão vivia ainda a expectativa de uma participação inédita na Copa do Brasil, direito adquirido pelo time ao ser campeão do interior deste ano. Representantes da torcida Ressaca Azul manifestaram apoio à diretoria do clube, mas não perdoam os vereadores que demoraram para votar o projeto de permuta que gerou a decisão de parar o futebol na cidade.
“Infelizmente todos os prazos para o Rio Branco confirmar sua participação no campeonato do ano que vem foram zerados e sabemos que vamos ficar algum tempo sem ver nosso time atuando novamente. Muitos fatores foram decisivos para que a diretoria do Rio Branco tomasse essa postura e lamentavelmente a má atuação da nossa Câmara de Vereadores foi determinante no desfecho final”, disse Fernando Monteiro, presidente da Ressaca Azul. Com o pedido de licença, o Rio Branco perde um espaço difícil de ser conseguido no futebol. O time tinha uma vaga na elite mineira, conquistada dentro de campo, e readquirir esse lugar vai demorar alguns anos. “A gente sabe que o Rio Branco apenas parou, ele não acabou, não sabemos quando ele volta, mas nosso papel de torcedor será de apoiar sempre esse clube que amamos de coração”, disse Fernando. Segundo o presidente da torcida organizada, tudo que eles poderiam fazer para evitar que o time paresse foi feito. Segundo ele, a má atuação da Câmara acabou criando um mal estar. “Os vereadores hoje estão com um pé atrás pois o nome deles foi colocado como o fator principal na decisão de abandonar o futebol”, disse Fernando, que destaca que o julgamento agora será de toda a cidade que com certeza vai pressionar. Fernando não tem dúvidas de que a resposta para os vereadores sairá nas urnas nas próximas eleições municipais. Ele deixa claro que ninguém responsabiliza a diretoria pelo abandono. “Acompanho o Rio Branco há 23 anos e sei das dificuldades que é manter o futebol profissional no interior de Minas. Se as coisas chegaram nesse ponto não foi por acaso. Se eles acharam que parar era o melhor caminho quem somos nós para dizer o contrário. São eles que sabem das contas a pagar e nosso papel de torcedor é estar sempre apoiando. A gente esperava muito deste time em 2010. Todos planejavam algo mais. A Copa do Brasil, um campeonato inédito para a cidade, nos deixava sonhando alto. Porém, se não foi possível estamos do lado da diretoria até o final”, disse Fernando.
A Ressaca Azul foi criada em 2004, ano que o Rio Branco foi rebaixado no Campeonato Mineiro, e com a inatividade temporária do clube a torcida também deve ficar parada neste período. Segundo Fernando, existe uma parceria com o Poços de Caldas FC e a torcida dos integrantes da Ressaca Azul estará ao lado do time de Poços na temporada de 2010. Ele disse que os torcedores também estão com o América de Teófilo Otoni, time que ficou com a vaga do Azulão no Campeonato Mineiro do ano que vem.
“Cabe agora a todos em Andradas parar para pensar. A eleição vem aí e política tem que ser transparente. Vamos analisar muito bem em quem vamos votar. Na hora de se candidatar ouvimos de muitos que ajudariam o esporte, que estavam do lado do Rio Branco, porém, no momento em que o clube mais precisou não fizeram nada. Eles poderiam demorar para votar o projeto, mas poderiam garantir ao Rio Branco que votariam a favor e possibilitariam assim uma tranquilidade para que os dirigentes do clube fizessem um planejamento melhor. Infelizmente eles se esconderam atrás de uma mesa, de uma papelada e deixaram que o futebol de Andradas perdesse um espaço importante. O Rio Branco é um dos maiores divulgadores de Andradas em mídia nacional, mas eles não viram isso como um fato positivo para a cidade e nós, torcedores de Rio Branco e cidadãos de Andradas, temos muito o que lamentar sobre essa postura”, concluiu Fernando, que não esconde a mágoa com os legisladores da cidade.
A torcida Ressaca Azul é composta por cerca de 500 pessoas que se reúnem sempre pouco antes dos jogos do Rio Branco.

Clóvis Carvalho
Torcedor fanático do Rio Branco e uma espécie de interlocutor da torcida, o vereador Clóvis Carvalho está indignado com a desativação do futebol profissional na cidade. “Essa situação é lamentável, um erro irreparável, uma coisa ridícula que aconteceu. Acho que não é qualquer cidade que pode se dar ao luxo de perder um time de primeira divisão. Em muitas cidades acontece justamente o contrário e o time recebe apoio de empresas, prefeitura, no que for preciso. Estamos vendo os casos de Varginha e Pouso Alegre que estão fazendo de tudo para que seus representantes voltem à primeira divisão do Estado. Andradas não pode de abandonar seu time do jeito que fez. Eu, como representante público, acho que essa perda afetará a cidade por muito tempo. O projeto não chegou nem a ser votado e isso causou uma revolta grande. Eu sozinho não pude fazer nada. Respeito a democracia, mas temos que pensar no futuro, no crescimento. Temos que pensar primeiro no município como representantes do povo, que foi o maior derrotado em tudo isso”, disse Clóvis.
O projeto previa uma permuta que daria ao Rio Branco de Andradas a posse definitiva do estádio Parque do Azulão e em troca a prefeitura receberia um terreno onde seria construído o paço municipal. Esse projeto no entanto não foi votado e a diretoria do clube resolveu desistir da causa. “Os vereadores alegaram que precisavam de alguns documentos para votarem o projeto. Essa permuta era legal mas precisava de algumas adequações de leis, valores e tudo mais. O que não dá para concordar é por que não houve uma manifestação de apoio ao Rio Branco por parte dos meus colegas? Não entendo porque não chamaram a diretoria do clube e falaram que estavam do lado do time mas que dependiam de alguns detalhes para a aprovação. Não existiu esse interesse. Não me lembro de em momento algum ter ouvido uma manifestação de apoio. O que muito se ouvia era “estamos estudando o caso”. Como frisei em reunião aberta, a diretoria do clube não tinha tempo para esperar esse “estudo”. A posição tinha que ser dada imediatamente e isso infelizmente não aconteceu”, disse o vereador. Ele está do lado do presidente do Rio Branco. “Ele sempre deu a cara a tapa, muitas vezes tirou dinheiro do bolso para ajudar o clube e vejo a posição dele da seguinte maneira: fez tudo por um objetivo mas no final parece que a sociedade que você ajudou virou as costas. A impressão é de que tudo que ele fez pelo Rio Branco não serviu de nada”, disse Clóvis. “Quero deixar bem claro que o prefeito Ademir sempre foi a favor do projeto. Como a maioria da Câmara estava com receio dessa votação, demorando para votar, ele também ficou sem ação. Desde o começo ele foi favorável ao projeto mas infelizmente não foi suficiente para que os vereadores votassem com mais agilidade e evitassem que o Rio Branco ficasse fora do futebol. Não quero aqui ficar culpando esse ou aquele pelo lamentável fato mas vejo que Andradas saiu como a grande derrotada neste episódio”, finalizou o vereador.


Caldense
Fernando Monteiro comentou com a reportagem sobre a grande rivalidade entre Caldense e Rio Branco. Alguns torcedores disseram que não torcem para a Caldense em hipótese alguma mas deixam claro que a rivalidade hoje é apenas dentro de campo. “No passado essa rivalidade era muito besta a ponto de causar brigas, tumulto. Hoje a situação mudou muito. Muita gente mora em Andradas e trabalha em Poços e vice-versa. A rivalidade não tem passado do campo. Temos amigos torcedores da Caldense, sabemos de pessoas de Poços que gostam do Rio Branco e o jogo entre Rio Branco e Caldense é um dos mais aguardados aqui em Andradas perdendo apenas para Atlético e Cruzeiro. Tenho certeza que essa situação deixou o pessoal em Poços chateado também. O time deles ficou afastado e esse clássico faz muita falta para o futebol mineiro”, disse Fernando. Segundo ele, falar que Andradas torce pela Caldense é difícil e se a situação fosse inversa os torcedores da Caldense também não iriam torcer para o Rio Branco.

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