A pouco menos de uma semana do fim do Campeonato Mineiro para a Caldense, o presidente do clube Laércio Martins concedeu uma entrevista ao Mantiqueira e tocou em vários pontos sobre a campanha do Estadual e o restante do calendário. Este ano não haverá o treinamento antecipado à espera da temporada 2011. Os jogadores foram dispensados, alguns continuarão com vínculo com o clube mas deverão ser emprestados para outras equipes. O presidente descartou totalmente a participação na Taça Minas e disse que se receber um convite para disputar a Série D do Campeonato Brasileiro só coloca o time em campo se tiver apoio de empresas e principalmente do município.
Mantiqueira – Existe uma sensação de alívio devido ao fato da Caldense ter se mantido no grupo de elite de Minas Gerais?
Laércio Martins – A Caldense sempre será para mim um orgulho e uma tradição. Agradeço primeiramente a Deus, que ajudou muito que nosso time continuasse na primeira divisão, e a Caldense continuará representando a cidade e todo o sul de Minas na elite do futebol mineiro, mesmo sabendo que algumas pessoas, e até mesmo alguns políticos, tentaram de tudo para que acontecesse o pior com nossa equipe. Tentaram tirar proveito da nossa situação complicada no Campeonato mas graças a Deus não deu certo. Então, por tudo isso eu estou muito aliviado, mas ao mesmo tempo triste com a situação. É muito triste saber que estávamos correndo atrás de recursos financeiros, lutando contra todo mundo, e sem nenhuma ajuda do nosso município, mas conseguimos manter nossa querida Caldense no grupo de elite.
Mantiqueira – Qual o peso de uma elite mineira?
Laércio Martins – Quem assistiu ao Globo Esporte da semana passada pode saber o quanto é importante para um time pequeno fazer parte de uma primeira divisão do futebol brasileiro. Pudemos ver a felicidade da cidade de Teófilo Otoni que recebeu seus atletas como heróis com direito a caminhão de Corpo de Bombeiros e muita festa. Eles haviam acabado de perder para a Caldense em Poços de Caldas, mas o sentimento de dever cumprido e mais um ano na primeira divisão encheu aquela cidade de orgulho. Este é o peso da uma elite, é o orgulho de estar entre os melhores times num campeonato muito difícil, muito competitivo.
Mantiqueira – O que você acha que prejudicou a Caldense neste campeonato?
Laércio Martins – É duro ter que falar isso, mas acabamos descobrindo esquemas, inclusive de interesses políticos, para prejudicar a Caldense. Esta atitude veio de pessoas que ajudam muito pouco o futebol de Poços de Caldas. É muito irresponsável uma pessoa tentar tirar proveito de uma situação complicada de um clube tão grandioso como a Caldense. Sabemos quem são e quais seus planos, mas graças a Deus não deu certo e terão que engolir a Caldense por mais um ano na elite de Minas, sendo destacada na mídia. Mentiras e a tentativa de usar terceiros para atrapalhar um trabalho sério é coisa ultrapassada, manjada e como somos rodados dentro do futebol conhecemos todas estas artimanhas.
Mantiqueira – Ficar na elite foi satisfatório?
Laércio Martins – Lógico que todo nosso trabalho, o projeto traçado, era para colocar o time entre os quatro primeiros classificados e até mesmo brigar pelo título. Fiz de tudo para que isso desse certo, mantivemos a comissão técnica do ano passado, mantivemos toda a base do time, fizemos contratações muito bem indicadas, trouxemos três atletas do Cruzeiro, mas infelizmente quando a bola começou a rolar as coisas não aconteceram e os resultados ficaram muito abaixo do esperado. Mesmo assim, no final das contas, conseguimos o dobro dos pontos dos dois rebaixados e ficamos na primeira divisão. O Uberlândia, por exemplo, que caiu, fez um grande investimento, muito mais alto que o nosso aqui na Caldense. Claro que esta campanha da Caldense me decepcionou e muito. Quando você planeja tudo certinho, traça um objetivo e ele não acontece é como se levasse uma pancada na cabeça, que te deixa atordoado por muito tempo. Infelizmente, isso é coisa que acontece no futebol. Em 2002, por exemplo, tudo aconteceu de acordo com o planejado e dentro de campo o time rendeu e ficou com o título, este ano foi o contrário e por muito pouco não fomos rebaixados.
Mantiqueira – Qual a maior causa da má campanha da Caldense, na sua opinião?
Laércio Martins – Quando o campeonato começou e pudemos ver o que as outras equipes estavam apresentando observamos que elas estavam bem mais fortes que nós financeiramente. Por se tratar de um ano eleitoral a maioria dos times teve um grande apoio empresarial e também das prefeituras de suas cidades, coisa que em Poços de Caldas em momento algum aconteceu. Já tinham um trabalho especialmente para o futebol. Conseguiram contratar os jogadores mais caros com uma média salarial de quinze mil reais enquanto que nós, na Caldense, estávamos com dificuldades de pagar os salários bem abaixo do que os outros pagavam. Não se faz futebol Apenas com palavras e muito menos com promessas. Sem recursos não se atinge os objetivos. Enquanto as prefeituras faziam de tudo para ajudar suas equipes a Caldense aqui em Poços de Caldas não teve nenhum apoio do poder público, que ainda nos colocou diversos obstáculos e muitas dificuldades. Já no setor empresarial tivemos pouca ajuda e fizemos o futebol de teimosia e por gostar muito da Caldense. Aproveito para agradecer quem de fato nos ajudou, empresas como a Unimed, Uniodonto, tivemos um grande apoio do Rápido Campinas, que levou nossa equipe para diversas localidade de Minas em ônibus de primeira linha, um grande parceiro. Tivemos apoio da Neo Nutri, do Sim, onde nossos jogadores faziam exames e, como sempre, a Scania e a GM Costa, empresas que sempre estão ao lado da nossa Caldense. Então, como não culpar a falta de apoio, principalmente da cidade que tem uma divulgação enorme por parte da Caldense? Só para citar um exemplo de prefeitura que apóia o time temos o caso do Ipatinga, onde a prefeitura além da ajuda financeira ainda fez um investimento de três milhões de reais no estádio. Enquanto que em Poços de Caldas, caso a Caldense se classificasse para a segunda fase iria ter que jogar no Mineirão em Belo Horizonte porque nosso estádio não oferece condições de receber jogos decisivos e nem existe interesse que um dia ele possa receber estes grandes jogos.
Mantiqueira – A Caldense teve prejuízos financeiros neste campeonato?
Laércio Martins – Claro que sim. Dos cinco jogos que fizemos em Poços de Caldas apenas a partida contra o Cruzeiro não nos deixou no vermelho. Em todas as outras quatro tivemos prejuízo e não foram poucos. Isso sem contar os jogos fora, com despesas de viagens e tudo mais. Uma situação que não deveria acontecer porque a Caldense é uma grande fonte de propaganda barata para a cidade. O jogo em que recebemos o Cruzeiro, com transmissão ao vivo pela Rede Globo, foi visto em mais de 112 países. Só nos cinco jogos em Poços de Caldas a Caldense gastou mais de R$ 105.000,00 com despesas, com uma média de cinco mil reais por jogo. Deste custo tivemos que pagar para a Secretaria de Esportes o aluguel do estádio de R$ 4.500,00 para poder utilizar o local.
Mantiqueira – Esta falta de apoio vem de muito tempo?
Laércio Martins – Não, mas em algumas temporadas foram mais marcantes, como no ano de 2000 quando aconteceu um fato muito lamentável. É bom lembrar coisas assim para a gente saber o que realmente acontece na cidade. Em 2000 a Caldense teve muitas dificuldades em conseguir recursos para pagar a conta do futebol profissional e depois de muito trabalho conseguimos uma empresa forte que pagava todo mês um valor que cobria as despesas do nosso futebol. Naquele ano, a exemplo do que aconteceu agora em 2010, a Caldense não conseguiu se classificar para a segunda fase e acabamos sendo prejudicados por esquemas ardilosos. Na época eles conseguiram o objetivo e depois de algumas tentativas fizeram com que esta empresa fosse embora, cancelasse o contrato e não mais patrocinou a Caldense, que foi a única prejudicada neste fato, além de Poços de Caldas. Para calar a boca destas pessoas, dois anos depois a Caldense realizou sua melhor campanha num campeonato mineiro e acabou sendo campeã, depois foi vice do Supercampeonato e ainda conseguiu sua classificação para a Liga Sul/Minas.
Mantiqueira – Em relação à falta de apoio, o que o deixou mais chateado?
Laércio Martins – Ter problemas para usar o estádio municipal me deixa muito triste. Depois de 30 anos a Caldense foi obrigada a pagar para usar aquele local. É importante lembrar que este estádio foi construído por pessoas abnegadas e todas ligadas à Caldense, incluindo meu pai Geraldo Martins Costa. Infelizmente, com o passar do tempo a história acaba sendo esquecida por algumas pessoas. Eu era garoto quando estes abnegados construíram o Ronaldão para ser a casa da Caldense em Poços de Caldas, mas hoje temos dificuldades até mesmo para treinar no local. Muito triste isso e me chateia muito esta situação.
Mantiqueira – Como será o restante da temporada para a Caldense?
Laércio Martins – O CT Ninho dos Periquitos estará fechado, vamos realizar no local algumas reformas e sua manutenção. Estamos sim buscando recursos para cumprir os recursos financeiros assumidos durante o campeonato. No segundo semestre, a princípio, a Caldense não tem como disputar nada por não ter recursos. Caso a gente consiga algum patrocinador forte podemos repensar. Não vou fazer loucura e a Caldense infelizmente não disputa nada. Se num campeonato mineiro, que divulga muito nossa cidade, não temos muito apoio, imagine numa Taça Minas Gerais, campeonatos de Série D ou qualquer que seja. Eu seria muito irresponsável se disputasse uma competição sem dinheiro e aí eu estaria comprometendo a Caldense.
Mantiqueira – Como será o trabalho para o próximo campeonato?
Laércio Martins – O que aconteceu este ano vai servir de lição para armar a equipe para a próxima temporada. Vamos tentar fazer o melhor possível para ter um time mais forte e espero conseguir um novo patrocinador para se juntar à GM Costa e nos ajudar na manutenção do futebol profissional.
Mantiqueira – Existe cobrança, e até mesmo pressão, pela Caldense não disputar outros campeonatos?
Laércio Martins – Eu sou presidente de um dos maiores clubes de Minas e não posso e nem vou jamais comprometer o patrimônio deste clube, que está sob minha responsabilidade. Eu quero ainda ajudar a transformar este clube num dos maiores do Brasil e por isso tenho que ter os pés firmes. Sou muito cobrado por não disputar competições além do Mineiro, não realizar contratações mais ousadas e caras mas não posso fazer loucuras e comprometer todo um clube para beneficiar o futebol. A Caldense não é apenas um time de futebol, tem várias atividades que merecem a mesma atenção de minha parte. Tenho o maior orgulho de comandar este clube com muita seriedade e responsabilidade. Para se ter ideia, hoje no Brasil cerca de 98% dos clubes devem muito, sendo que alguns estão com suas sedes indo a leilão e estes clubes não conseguem nem certidão negativa. De acordo com o último levantamento do governo, apenas 16 clubes estão em dia com o governo e a Caldense é um destes, motivo de orgulho. Quero aproveitar a oportunidade e agradecer nossos conselheiros, a começar pelo sr. Bambini, que esteve presente em todos os momentos difíceis, acompanhou de perto o que foi feito no futebol e pode comprovar toda a seriedade do trabalho. Agradeço a todos os diretores de futebol, como Luiz da Flama, dedicado, fiel, companheiro. O Aldo Lobo, parceiro, sério e empenhado em todos os momentos em que foi solicitado, e ainda o Mário Tadeu Ramos, responsável direto no estádio em dias de jogos da Caldense. Hoje ele cuida da ligação com a Federação Mineira e a segurança no estádio para os torcedores. Pessoa séria, fiel e faz um trabalho limpo e responsável e mesmo aparecendo pouco é muito importante para o clube. Agradeço a toda comissão técnica, ao Alemão que fez um grande trabalho em 2009 e à grata surpresa que foi o Catanoce, que ajudou muito a Caldense nesta fase difícil. Não tem como deixar de lado o Jânio Joaquim, que mesmo com problemas sérios de saúde soube suportar o dia a dia do CT e ainda teve que lidar com mentiras e fofocas de pessoas que nada têm a ver com o futebol. Ele enfrentou armações inclusive de políticos. O Jânio é sério e fiel à Caldense e se alguém fala mal da Caldense ele vai defender mesmo e assim vai colecionando inimigos. Agradeço a todos os atletas que passaram momentos difíceis. Não vou citar nome de nenhum em especial pois para mim todos honraram a camisa da Caldense. Também não posso esquecer meu filho Franco, que se aproximou nas horas mais difíceis dos atletas no CT, me ajudou ainda em casa quando eu não conseguia dormir. Ele foi importante com sua energia positiva. Agradeço por fim a toda a imprensa de Poços de Caldas, que foi parceira o tempo todo e ainda à torcida da Caldense que nos apoiou até o final. Para esta torcida só tenho que pedir desculpas pela campanha neste ano. Queria muito ter acertado mas isso vai servir de lição para os próximos anos e garanto que trabalho e dedicação nunca irão faltar.
Mantiqueira – Como andam os projetos sociais da Caldense?
Laércio Martins – Nossos projetos sociais atendem centenas de garotos e garotas patrocinados pelos Correios e pela Petrobras. Estes projetos foram conseguidos pelo ministro Hélio Costa e o município não gasta um centavo sequer. São pessoas tiradas da rua, sendo atendidas praticando esporte orientados por psicólogos, pedagogos e assistentes sociais. Estes projetos deveriam servir de exemplo e serem reconhecidos pelo poder público, pois a Caldense está fazendo um bem para a cidade. Além destes projetos sociais a Caldense ainda representa Poços de Caldas em várias competições pela região em diversas modalidades. Existe todo um investimento, uma preparação e sempre conquistamos resultados de destaque. Temos uma parceria com a Secretaria de Esportes, mas o valor gasto pela Caldense é muito maior que o da Secretaria.
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