sábado, 5 de novembro de 2016

“O bom atleta se destaca nas competições”, diz professor Júlio

Poços de Caldas, MG - Na entrevista especial deste domingo o professor Júlio Cesar Freitas, da Caldense, fala sobre a temporada do basquete que está se encerrando. O time sub-15 foi a grande sensação, vencendo 31 jogos em 32 disputados, e estará neste mês na fase estadual do Campeonato Mineiro em Uberlândia. Freitas fala ainda sobre a parceria com Raul Togni Filho, a revelações do basquete local e NBA. Também critica a falta de estrutura da cidade, pedindo que o novo secretário de Esportes olhe com carinho para a formação de jovens e invista em professores.

Mantiqueira - Este ano o basquete da Caldense conquistou resultados importantes. Como você viu este desempenho dos meninos do clube?

Júlio César Freitas - Foram várias conquistas numa temporada que ainda nem acabou. Nosso time sub-15 foi um dos destaques, fazendo 32 partidas e vencendo 31 jogos. Estes meninos jogaram Lidarp, Joju e Campeonato Mineiro e perder apenas uma partida é um feito e tanto, se for contar que a derrota que tivemos foi para o Praia Clube, que é um time de referência no Estado, favorito ao título, junto com o Minas Tênis Clube e Ginástico pelo título do Campeonato Mineiro. Vale destacar ainda que este time sub-15 é formado por meninos com estatura bem mais baixa em relação aos outros, porém, deu química nas mãos do Raul Togni Filho e por isto foi tão bem em toda a temporada. No sub-17 fomos campeões da Lidarp, perdemos a semifinal do Joju numa partida atípica para Varginha. Aliás, foi o único jogo que perdemos para eles durante todo o ano. O sub-13, um time mais novo ainda, conseguiu um bom segundo lugar ao perder para Machado, que tradicionalmente investe nas primeiras categorias de competição e por isto sempre monta equipes muito fortes nestas faixas etárias mais novas. Destaca-se que Machado foi campeão estadual no sub-13 e mesmo assim os meninos da Caldense conseguiram fazer jogos equilibrados com eles.

Mantiqueira - A Caldense tem uma fase de estadual sub-15 este mês. Como você acredita que este time entra neste campeonato?

Júlio César Freitas - Nos classificamos na primeira colocação na fase regional, agora vamos para Uberlândia para a fase estadual, que acontece entre os dias 23 a 27 deste mês. A competição terá um grande nível técnico reunindo pelo menos três times de Belo Horizonte, o Praia Clube, Juiz de Fora, algum time da região de Monte Claros, enfim, teremos de seis a oito times disputando o título mineiro. É um campeonato difícil, mas vamos com o pensamento de representar a Caldense e Poços de Caldas da melhor maneira possível.

Mantiqueira - E as meninas? Como foi o desempenho delas?

Júlio César Freitas - Os resultados em quadra não foram tão bons, mas foi um ano de reestruturação. Tivemos a chegada do professor Felipe, que é jovem, tem novas ideias e veio para ajudar a incrementar este trabalho com as garotas do basquete da Caldense. Tínhamos 10 meninas praticando a modalidade e hoje são 38 e a meta é chegar a, pelo menos, 60.

Mantiqueira - Tradicionalmente o basquete revela bons valores no basquete. Como você viu o ano em relação a este trabalho?

Júlio César Freitas - Foi um ano em que mais uma vez conseguimos revelar atletas, sendo que alguns já têm propostas para irem para outros clubes e outros com projeção de saírem e buscarem seus espaços. Nosso plano é que os meninos sempre se destaquem naturalmente. Não aconselhamos que nossos meninos saiam fazendo testes por aí. O bom atleta se destaca nas competições naturalmente e com isto o interesse aparece. Este ano tivemos dois meninos que saíram. Os irmãos Alexandre Abrão Gracioso e Júlia Abrão Gracioso, que foram para o Guarulhos. São meninos com grande potencial e podem ter uma carreira de muito sucesso no basquete. Neste final de ano esperamos que alguns de nossos atletas também consigam chamar a atenção de clubes e buscarem seus espaços ainda neste final de temporada. De maneira alguma vamos segurar jogador, pelo contrário, queremos que eles tenham oportunidades melhores. Claro que se quiserem ficar conosco seria muito bom, mas isto tem que ser opção deles. Não temos estrutura nem recursos financeiros para mantê-los, seria incoerência segurá-los.

Mantiqueira - Durante os treinos é visível o grande número de meninos interessados no basquete. Este aumento é real na sua visão?

Júlio César Freitas - Com certeza houve um aumento de praticantes de basquete dentro do clube. A nossa escolinha chegou a ter quase 70 meninos, as turmas precisaram ser divididas e se tivéssemos mais uma quadra no clube nos horários das aulas da escolinha este número certamente seria expandido bastante. O que me deixa feliz é que os meninos que estão treinando conosco fazem futebol, vôlei, cricket, enfim, outros esportes, e mesmo assim se interessaram pelo basquete. O interesse deles por vários esportes é uma coisa muito positiva e certamente lá na frente vão decidir qual seguir.

Mantiqueira - Qual a importância da chegada de Raul Togni Filho para auxiliar seu trabalho?

Júlio César Freitas - É um cara que tem um amor muito grande pelo basquete e pelo clube, tanto que mesmo antes de ser contratado veio dois meses diretos acompanhar e ajudar o trabalho, mesmo sem receber nada por isto. A vinda do Raul é um presente para a cidade porque é um profissional que poderia estar trabalhando em qualquer time da NBA devido a toda sua capacidade e conhecimento. O Raul caiu como uma luva para os meninos da Caldense devido aos seus valores. Tem muito conhecimento no trabalho de base, tem valores e caráter indiscutíveis e tem muito para passar para nossos meninos e nosso esporte. Acredito que a principal conquista da Caldense nos últimos anos no basquete foi a vinda dele para o clube. Tem ainda a questão da proximidade com o Raulzinho, que é um canal muito direto com a NBA. Temos uma realidade muito íntima da NBA e isto ajuda muito nossos conhecimentos. Saber o que está acontecendo no melhor basquete do mundo é um diferencial para nossa comissão técnica e isto é sensacional. Sem contar que o Raulzinho é dono de uma humildade muito grande, quando está em Poços vem na Caldense ver os meninos treinarem, atende a todos com muita simpatia e isto é maravilhoso. É um exemplo de um aluno que saiu das quadras de basquete da Caldense e não existe nada mais motivador que isto para os jovens que estão dando seus primeiros passos no esporte.

Mantiqueira - Como o basquete apareceu na sua vida?

Júlio César Freitas - Comecei a jogar basquete na escola com o professor Marcelinho. Foi ele que me indicou para a Caldense e comecei a treinar com o Luiz Cagnani, o Zinho, uma referência história para o basquete da Caldense, e é um nome que sempre faço questão de colocar em evidência. Era um baita conhecedor do esporte, estudioso, e até hoje muita coisa do que ele ensinava permanece mesmo depois de 30 anos. Treinei ainda com o Edson, Jorge Bambini e o Tião Brochado, que foi o cara que eu substitui, e por ele tenho uma grande gratidão, por tudo que me ensinou. Somos amigos até hoje e sempre conversamos muito sobre vários assuntos e, claro, de basquete. São 30 anos como jogador e técnico dentro da Caldense. O começo foi muito difícil, muito jovem, fazendo faculdade, não tínhamos acesso a internet e o conhecimento que temos nos dias de hoje, mas com muito amor não deixei de correr atrás, fazer as coisas que precisava fazer, errando, acertando e hoje sou muito feliz de poder ter escrito uma história dentro de clube com várias gerações. Umas tiveram mais conquistas, outras menos, mas o que me deixa feliz é encontrar com cada um deles e ouvir que aprenderam valores importantes com nossa filosofia de trabalho e isto até hoje é muito motivador para continuar. Claro que queria que tivéssemos mais Raulzinhos aqui, mas fico orgulhoso pelo Raulzinho, pelo Otávio, Romeu, Fumaça, o Léo Zanon, que hoje é árbitro reconhecido de futebol, que foi nosso atleta de deixou um legado aqui dentro, enfim, de tantos outros que passaram por aqui e é até injusto falar nomes, mas não tem como deixar de ficar orgulhoso pelos meninos que se tornaram homens e depois bons pais e pensar que tenho uma participação na sua formação. Faço questão de deixar a memória de todos sempre viva aqui dentro e no nosso dia a dia sempre cito todos que passaram aqui para que os meninos vejam a importância que o esporte tem na formação de um cidadão. Destaco sempre a postura, os valores, as conquistas, a liderança, enfim, tudo de positivo que fizeram e os valores de vida.

Mantiqueira - Qual o grande rival do basquete da Caldense na região?

Júlio César Freitas - Fico muito feliz em falar deste assunto. Já tivemos Lavras como principal rival, depois Varginha, São Lourenço, sempre uma pedra no sapato. Hoje os grandes adversários são Varginha e Machado, que fazem trabalhos contínuos e dão muito trabalho dentro de quadra. Existe um grande respeito mútuo e a rivalidade é apenas dentro da quadra, um quer vencer o outro, mas depois somos todos amigos e estamos próximos no sentido de troca de ideias, experiência e discutir melhorias para o basquete da região. Nossa conclusão é que precisamos ser adversários, rivais, mas longe de sermos inimigos. O respeito e a admiração são mútuos.

Mantiqueira - O sonho do atleta é sempre mudar de ares, buscar um time maior, mais estrutura. E o professor Júlio, ainda busca este objetivo também?

Júlio César Freitas - Tenho o sonho de uma melhor estrutura para trabalhar, oferecer para os meninos. A gente percebe que o basquete tem muito para crescer em Poços de Caldas, poderia ser muito maior, mas ficou sempre muito restrito à Caldense. Outros locais da cidade começaram trabalhos, porém, sem a intensidade e continuidade que a Caldense vem tendo. Ainda queria ter uma oportunidade com equipes estruturadas, outras cidades, conhecer outras realidades, mas, acima de tudo, o grande sonho é continuar levando para os garotos uma metáfora de vida de que o basquete é um jogo, mas que ele é muito mais que isto. O basquete eterniza as pessoas, eterniza momentos, conquistas, e esta é a mensagem que levarei comigo até o final. “Que nossos meninos não vejam o esporte como uma oportunidade de apenas ganharem uma medalha, um título, um troféu de forma isolada, mas que junto das vitórias no esporte venham os amigos, valores e uma boa referência, para assim eternizarem cada momento de suas vidas”. Se pensarem assim certamente terão muita coisa para contar em suas vidas.

 Mantiqueira - Poços tem poucos locais para se praticar basquete. Como você vê este cenário?

Júlio César Freitas - Escutamos muito que Poços de Caldas tem uma estrutura invejável, mas não concordo muito com isto. Podemos melhorar muito em vários aspectos. Temos boas quadras, mas temos carências. O parque municipal, um espaço público que possui quadra de basquete, mas esta quadra precisa de melhorias. A cidade precisaria criar outros centros para a prática do basquete e, claro, o principal, profissionais para trabalhar com os jovens. Com mais professores, não só o basquete, no geral, acredito que teríamos muito mais resultados e muita coisa bacana poderia acontecer para o esporte de Poços de Caldas. Espero que o próximo secretário pense nesta questão e volte aos trabalhos de iniciação esportiva, voltem os festivais, os campeonatos municipais para gerar uma competitividade dentro da cidade e melhorar nossos resultados em termos estaduais.

Mantiqueira - Como é seu trabalho nas escolas da cidade?

Júlio César Freitas - Tenho o maior orgulho deste trabalho, lidar com meninos de 7 a 17 anos, mas também indo para o lado crítico acho que este trabalho poderia ainda ser melhor se tivéssemos outros locais de competição. As escolas que possuem alunos/atletas treinando na Caldense participam das competições, mas a grande maioria que não tem, não participa, e com isto não revela seus valores. Deveria existir um professor nos bairros fazendo um trabalho, alguém num ginásio mais próximo melhorando isto. Então, é muito bom, mas poderia ser muito melhor.

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