terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Atleta quer subir morro do Cristo por 24 horas sem parar

Na entrevista da semana, o ultramaratonista poços-caldense Ligeirinho conta um pouco de sua carreira e destaca dois desejos especiais, correr 500 quilômetros sem parar e dar a Volta ao Cristo por 24 horas consecutivas.

Início
“Eu, como todo menino, comecei jogando futebol. Certo dia quebrei o pé numa jogada maldosa de um garoto. Fui para casa com o pensamento de nunca mais jogar futebol em minha vida. Então passei a ter uma vida sem atividade física alguma, comecei a engordar, fiquei muito acima do peso. Na época eu morava em Campinas e comecei depois de um certo período a fazer caminhadas. Iniciei devagar, andando uns 200 metros, correndo outros 100 e assim por diante. Com estas caminhadas comecei a perder peso e logo comecei a correr. Certo dia vi um anúncio num jornal sobre a seletiva para a Corrida de São Silvestre. Eu achava que corria e me inscrevi para a prova, vi aquele mundo de corredores e perguntei para um outro competidor quem ele achava que venceria. Ele me mostrou o Genival dos Santos, que foi um dos melhores atletas do Brasil. Vi aquele magrelinho que pesava 47 quilos e disse que ele não venceria a prova, era muito magro, eu não tinha conhecimento nenhum sobre atletismo. Quando deu a largada eu corri uns 200 metros, quase morri, fui último colocado, ganhei uma medalha de último lugar. Daquele dia em diante eu coloquei em minha cabeça que nunca mais na vida seria último colocado. Daquele dia em diante comecei a treinar e participar de provas mais longas, de cinco e dez quilômetros”.

Ultramaratonas
"Não me sentia bem correndo estas distâncias, queria algo mais e foi aí que comecei a participar de maratonas e sempre completando as provas inteiro e sem sentir cansaço. Certo dia José Aparecido Garcia me chamou para correr 100 quilômetros e na época cheguei a pensar que ele estava louco pois não achava que seria possível conseguir fazer uma distância tão grande. Minha primeira prova de longa distância foi o Campeonato Sul-Amerericano de 24 horas. Terminei em sétimo lugar e desde então não parei mais de participar de provas longas e tomei gosto por este tipo de competição. Não tenho velocidade para fazer provas curtas, então meu trabalho é para ter mais resistência. Sigo uma planilha e tento correr cada vez mais e cansar cada vez menos. Tenho orientações de minha nutricinista, Dra. Isabela Moreas, e tudo é feito em equipe e não simplesmente chegar numa prova e falar que vai correr e tudo mais. Tem que ter um trabalho bem feito por trás, pois sozinho não se consegue nada”.

Preparação
“Acordo bem cedo, ainda de madrugada, corro um pouco, faço musculação na academia, depois vou trabalhar e retomo a preparação na hora do almoço, volto ao trabalho e treino novamente no período da noite, sempre seguindo o que me é passado pelo professor Zé Luiz. Sem seguir uma planilha é difícil se manter num bom nível de competição. O atleta sozinho não tem como pensar e agir. Precisa de alguém que oriente e ele executa o que for definido. O meu treinamentohoje visa corrigir falhas de anos anteriores. São cinco profissionais que montam toda a programação antes de eu entrar numa prova de longa distância. Hoje posso dizer que sou o atleta mais bem assessorado de Poços de Caldas e tenho a melhor condição de treinamento devido a minha equipe multidisciplinar. Nos treinamentos diários chego a correr 30 quilômetros e por mês cerca de 900 quilômetros”.

Avaliação
"Não sou melhor que ninguém, mas me vejo hoje melhor preparado que muitos atletas. Claro que existem atletas melhores que eu porém menos preparados, e o que manda hoje é a preparação. Um atleta bem preparado será sempre um competidor de ponta e conquistará bons resultados. É preciso estar tudo em ordem, desde os treinamentos até alimentação e assim não tem como não se destacar entre os demais. Hoje sou o único atleta amador que consegue correr de igual para igual com os profissionais e posso dizer que meu nível é altíssimo. Mas não é por isso que posso relaxar, tenho que treinar cada vez mais e buscar sempre manter este nível elevado. Como eu vivo do meu trabalho preciso treinar mais que um atleta profissional para me manter ao nível deles”.

Vitórias
“Fui primeiro colocado no ranking brasileiro em 2000, campeão das 24 horas de Goiânia, onde sou recordista, bicampeão da Brasil 135, terceiro colocado na Volta da Ilha de Florianópolis, sétimo colocado numa prova disputada na Itália, terceiro colocado nas 24 horas de Salvador, sexto colocado no campeonato sul-americano, detentor do recorde mineiro de 24 horas, enfim, uma série de bons resultados conquistados ao longo de uma carreira vitoriosa”.

BR 135
Esta prova é especial e tive uma boa equipe me apoiando durante este título importante. Saímos de Poços de Caldas em oito pessoas (Adriano, José Aparecido Garcia, Romevaldo, Rovilson, Dr. Mário, Rondinelli e Zé Luiz). Esta equipe preparou tudo para meu sucesso na prova. Utilizei quatro paces (corredor de apoio que faz o percurso junto ao atleta passando informações e alimentação durante toda a prova). Cada pace correu comigo cerca de 20 km e depois era trocado. Esses corredores precisam estar bem preparados para me ajudar o máximo possível durante a competição".

Próximos passos
“Quero agora quebrar meu recorde pessoal de 24 horas que atualmente é de 204 km. Pretendo atingir essa marca ainda este ano e sempre busco melhorar, quebrar barreiras. Tenho um sonho de correr 500 quilômetros direto e uma outra meta que ainda quero realizar é subir o morro do Cristo de Poços de Caldas 24 horas sem parar. Já tentei uma vez e não consegui mas é um projeto que vou levar em frente. Não é impossível e quero fazer para deixar um recorde a ser batido nas próximas gerações”.

Falta apoio
“Acho que se hoje eu vivesse em São Paulo ou Rio teria mais apoio. Nossa região é menor e por isso os apoios são mais escassos. Poços é uma cidade bem desenvolvida e com grandes empresas mas não tem muito interesse pelo esporte amador, como o atletismo, a ultramaratona. O pessoal procura mais os esportes de ponta, como futebolo e infelizmente ficamos para trás. Se existisse um apoio eu tenho certeza de que seria campeão mundial. Sou um representante de Poços que já levou o nome da cidade para muitos lugares mas na hora de fechar um bom apoio sempre fico em segundo plano”.

Família
“Sou um cara privilegiado. Minha família me apóia e por isso tenho que saber dividir o Ligeirinho do Adilson. Dentro de casa tenho que me dedicar aos filhos, pai, mãe e esposa. Em primeiro lugar temos que amar a família, estar junto para poder receber alguma coisa de bom. Se você tiver algum problema no campo familiar não consegue treinar e eu graças a Deus tenho o apoio de meus familiares, meus amigos me apóiam e isso é muito gratificante”.

Agradecimentos
“Só tenho a agradecer meu treinador, o professor André Luiz, responsável pela minha preparação e treinos de musculação, ao meu técnico, professor José Luiz Azevedo, à nutricionista Isabela Moraes, ao Dr. Mário Roberto, Francisco Rondinelli, minha esposa Vanda, minhas filhas, meus pais e a Deus que me dá saúde para buscar novos horizontes dentro do esporte. Agradeço ainda meus patrocinadores que acreditam em mim."

Um comentário:

Anônimo disse...

Ligeirinho é foda hein, não o conhecia mas depois dessas metas incríveis me interessei em conhece-lo.Parabéns Ligeirinho continue assim, leve o nome de Poços de Caldas e do Brasil para todos os lugares, com certeza você terá muito apoio, mais do que você já tem agora.