Poços de Caldas, MG - O sotaque paulista chama a atenção durante os treinos. Tarcísio Pugliese grita, fala palavrão, acerta detalhes, exige empenho e mostra muito conhecimento. Estamos falando de um treinador veterano? Não. Talvez ele seja o mais jovem técnico do Campeonato Mineiro e um dos mais jovens do Brasil. Um treinador sem bagagem? Não. Tarcísio é bicampeão do Mato Grosso pela Luverdense, campeão amazonense pelo Nacional, campeão carioca em 2000 pelo Flamengo e ainda ajudou o Campinas a subir para a Série B2 do Paulista em 2002 e o Guaçuano a subir para a Série B2 em 2001. Outro feito do treinador foi ter montado as equipes do Icasa e do Oeste. O que isto tem de importante? Os dois times formados por Pugliese fizeram a final do Campeonato Brasileiro da Série C de 2012. O fato é raro entre os treinadores brasileiros. Tudo isto credencia Pugliese como a esperança de que este ano a Caldense tenha uma grande temporada e consiga chegar longe neste Estadual.
Mantiqueira - Como você vê o desafio de comandar a Caldense neste Campeonato Mineiro?
Tarcísio Pugliese - O Mineiro é hoje um campeonato fortíssimo, o terceiro do Brasil em termos de dificuldades, mas a Caldense tem uma grande estrutura, bom potencial financeiro, muito bem organizada e acredito que será uma boa oportunidade para conhecer este novo mercado. Nunca havia trabalhado em Minas e vamos tentar colocar a Caldense no calendário nacional. Queremos a equipe jogando o ano todo, disputando o Campeonato Brasileiro, que é uma competição que cada vez mais se valoriza. Hoje as divisões mais abaixo dão boas condições de disputa e é importante colocar a Caldense neste cenário. O time tem estrutura para estar numa situação melhor.
Mantiqueira - Como a torcida da Caldense recebeu você?
Pugliese - Na realidade saio pouco, fico mais no apartamento e venho para os treinos. Nos poucos contatos com o torcedor o resultado vem sendo positivo. Vamos ter uma melhor noção disto quando a bola começar a rolar e com o desempenho da equipe dentro de campo.
Mantiqueira - Você tem uma carreira impressionante pela pouco idade. Como foi seu caminho até chegar a Poços de Caldas?
Pugliese - Comecei fazendo um estágio na Ponte Preta e desde então sempre trabalhei em times profissionais. Meu primeiro trabalho foi como preparador físico e tive passagens por várias equipes do interior paulista. Passei por equipes como o XV de Piracicaba. Guaratinguetá, Campinas, Americano de Campos, Nacional de Manaus, entre outras. Tudo como preparador físico. Minha carreira como treinador começou em 2006 no Guaçuano e depois fui para o Luverdense, onde, entre idas e vindas, fiquei até 2010. Passei ainda pelo Rio Branco do Acre, São José e Oeste. Destaco meu trabalho no Luverdense onde conseguimos ótimos campeonatos estaduais, campeão da Copa Governador, disputamos a Copa do Brasil pela primeira na história do clube, colocamos o time no Brasileiro, fomos para a Série C. No São José também tivemos uma ótima campanha, aliás a melhor do campeonato todo. Depois fui para o Icasa, onde assumi o time correndo risco de rebaixamento e conseguimos o objetivo de salvar a equipe. Comecei o Brasileiro da Série C lá, chegamos a liderar o campeonato, mas acabei indo para o Oeste de Itápolis. Fizemos uma boa campanha. Assumi no lugar do Roberto Cavalo que tinha assumido o Bragantino. Conseguimos melhorar o percentual de aproveitamento da equipe. Agora vem o desafio na Caldense.
Mantiqueira - Como vê dois times formados por você decidindo um campeonato?
Pugliese - Foi muito bom. Algumas pessoas me ligaram parabenizando pela situação, outros viram de uma forma negativa, achando que eu não havia feito bom negócio em deixar estes times. Não me arrependo de nada e não tem dúvidas que acessos e títulos ainda virão muitos em minha carreira. Passar por dois times que vão disputar uma final de Campeonato Brasileiro é diferente. Não sei se isto já havia acontecido com algum treinador no Brasil e foi uma sensação muito boa e gostosa. São trabalhos que deram certo e que obtivemos sucesso.
Mantiqueira - Você não gosta de destacar jogador individualmente. Geralmente você fala do grupo. E sempre assim?
Pugliese - Particularmente acho que algumas situações precisam ser trabalhadas internamente. Não gosto de expor o atleta e como comandante da equipe acredito que tem que ser desta forma. O treinador tem que assumir as situações mais difíceis e dirigi-las da melhor forma possível. Obviamente percebemos algumas falhas individuais em alguma atleta que não está num momento positivo. Mas nem por isto precisamos colocar o atleta em situação delicada e a cobrança vem interna.
Mantiqueira - Quais os atalhos para uma boa campanha no Mineiro e onde estão as maiores dificuldades?
Pugliese - Apesar de nunca ter disputado um Campeonato Mineiro sempre acompanhei de perto algumas situações. Vejo futebol de um modo geral e tenho vários atletas que conhecem muito bem o campeonato de Minas. Nossa comissão técnica também é muito bem informada e por isto estou por dentro de muitas particularidades desta competição. A questão geográfica é uma dificuldade a ser enfrentada, principalmente pelas equipes do sul de Minas. É um campeonato muito curto e precisa estar atento, pois todo jogo tem um peso muito grande. Os jogos diante de Atlético, Cruzeiro e América são os mais duros, isto não é novidade, mas o interior vem forte também. Vejo o Boa em vantagem por disputar o Brasileiro da Série B, tem um calendário cheio e isto facilita em vários aspectos. Estamos cientes de tudo que iremos enfrentar. Temos nossas propostas e objetivos bem claros e vamos lutar para conquistá-los.
Mantiqueira - E quais são estes objetivos?
Pugliese - A vaga para o Brasileiro é, sem dúvida, o principal objetivo. Queremos a Caldense com um calendário cheio e que tenha uma posição de destaque no cenário nacional. Sabemos das dificuldades, respeitamos os adversários, mas vamos brigar por nossas metas.
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