A equipe da Coopoços fez sua estreia na Taça Poços de Caldas esta semana. No gol, Edmilson Dias da Silva, mais conhecido como Mãozinha, era um dos destaques da vitória de sua equipe contra o Atlético Cohab. Ele atuou apenas no primeiro tempo, quando seu time deixou a quadra vencendo por 2x0, e sua participação no jogo foi decisiva para a vitória final por 4x1. Aos 36 anos, Silva é um goleiro seguro, corajoso e que passa confiança aos seus companheiros. Tudo isso poderia ser normal, pois o futebol é dotado de grandes goleiros com as mesmas qualidades de Mãozinha. Porém, neste caso existe uma diferença de superação. Silva nasceu com uma malformação na mão direita, na qual possui apenas dois dedos. O problema foi decorrente do medicamento talidomida, que no final dos anos 1950 e início de 1960 provocou uma onda de nascimentos de crianças com focomelia, síndrome caracterizada pela aproximação ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto.
Formado em contabilidade, Silva é funcionário público e ainda precisa conciliar o pouco tempo que tem para disputar os campeonatos da cidade e região.
“Desde criança gosto de futebol, sempre atuando no gol, mesmo com a deficiência. No início, meu pai alertava para que se fosse tentar a carreira como atleta profissional, jogando no gol não daria certo, pois, segundo ele, na hora de um teste certamente iriam preferir um goleiro que não tinha nenhum problema. No fundo ele tinha razão, pois certamente ninguém iria chegar a realizar um teste. Por outro lado, eu não enxergava dessa forma. Pensei em ouvi-lo e jogar na linha. Treinei e atuei em alguns jogos como centroavante. Em uma partida, o goleiro tomou dois ‘frangos’ e com isso voltei a ser goleiro e não sai mais da posição. Claro, devido a alguns fatores não me profissionalizei, pois fiz faculdade, casei e mudei meus planos”, disse Silva, em entrevista ao Mantiqueira em 2006, para o repórter esportivo da época, Rafael Prado.
Comunicação
O goleiro usa bem uma qualidade que adquiriu para conseguir benefícios em sua carreira. Bastante comunicador ele não tem medo de ouvir 'não' distribui e-mails para diversas entidades pedindo material esportivo adaptado para poder realizar seus treinamentos. “Gosto muito de escrever, passo horas e horas no computador trocando e-mails com amigos e fornecedores e isso acaba me ajudando muito”, disse Silva. "Não tenho medo de receber resposta negativa. O não de hoje pode se tornar um sim amanhã”, completou.
Ele já conseguiu materiais de treinamentos e jogos da Uhlsport, Umbro, Nike, Dalponte e Pênalti. “Graças a Deus sempre fui bem atendido, recebendo material profissional de ótima qualidade para desenvolver a atividade que amo. Sempre mando e-mail para as empresas de materiais esportivos e recebo caixas com camisas, luvas, bermudas, agasalhos, tênis, caneleiras, enfim, não posso me queixar”, disse o goleiro.
Atualmente, o fornecedor de material esportivo de Mãozinha é a Poker, mesma fornecedora de craques como Rogério Ceni do São Paulo e Felipe do Flamengo. O goleiro da Coopoços recebe o material de ano em ano.
“Da mesma forma que eu fazia contato com todas as empresas que atéhoje atenderam minhas solicitações, com a Poker não foi diferente, mas sim surpreendente”, disse.
Molde
Para receber o material correto da empresa, Silva faz um molde em tecido tactel de sua mão deficiente, escaneia e envia por e-mail. “A primeira vez me mandaram uma luva da mão esquerda normal e a mão direita também com todos os dedos, porém, num tamanho que se adaptasse. Em seguida, depois de algum tempo, mandaram uma prova por e-mail, com fotos, para minha aprovação do material que está sendo usado por mim agora” disse.
Superação
Convivendo com a deficiência uma vida inteira, Silva relembra casos em que teve que ter muita superação para passar por preconceitos. Na infância chegou a ficar fora de equipes escolares por causa de desconfiança de professores. “Nunca era escolhido para uma partida, mesmo eu sentindo que poderia ajudar, mas a professora tinha receio de que eu, devido a minha deficiência, fosse prejudicar a equipe”, lembra.
O goleiro diz que tem que conquistar o respeito das pessoas ainda nos dias de hoje. “Às vezes uma criança chega perto não tira os olhos de minha mão, se sente incomodada com a situação. Aprendi a conviver com isso e hoje sei como abordar este tipo de situação. Aos poucos vou conquistando a confiança e quando vejo, eles já nem se lembram de minha mão com apenas dois dedos”. disse. “Hoje me sinto realizado em poder praticar o esporte que gosto, na posição que escolhi e adoro, que é ser goleiro. Não consegui ser um profissional, sonho de todo garoto, não deu, mas estou feliz em jogar futebol e ainda conseguir reconhecimento de grandes marcas como a Poker”, reflete o jogador.
Competições
Silva já passou por todas as categorias do futebol amador de Poços de Caldas. Atuou nos infantis, juniores, amadores, futebol rural e no futsal está há seis anos defendendo as cores da Coopoços, onde vive sua melhor fase. “Como todo goleiro, fiz partidas memoráveis, defesas que nunca vou esquecer, situações que não fogem da memória, mas hoje na Coopoços considero o meu melhor momento”, disse o goleiro. A equipe de futsal da Coopoços foi criada em 2006 por Sérgio Azevedo, presidente da entidade. Silva, desde o início, é um dos pilares do time, tendo grande liderança entre os jogadores. É um dos poucos remanescentes do primeiro time ao lado de Daniel, o Buiu. “No que dependeu do Sérgio, nunca faltou apoio para nossa equipe. É interessante ressaltar que a equipe sempre foi formada por amigos, pois a filosofia de Sérgio é a de que é preferível uma equipe de amigos, que se deem bem em quadra. Hoje a amizade é muito mais valorizada em quadra do que um título”, diz o goleiro. “Temos todo o apoio e os resultados acabam aparecendo”.
Nestes anos, Silva e seus companheiros conquistaram a Taça Poços em 2008, além de grandes participações em diversos campeonatos.
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