“A cultura do futebol é burra”

Poços de Caldas, MG - O Mantiqueira voltou a entrevistar o técnico Tarcísio Pugliese. O treinador viveu dias de muita pressão na semana passada e resolveu não falar com a imprensa. Agora, mais aliviado pela boa atuação diante do Araxá, ele conta os motivos da decisão. Pugliese ainda abordou outros temas e disse que a cultura do futebol mundial é burra por não prorizar um trabalho a longo prazo.

Mantiqueira - O alívio finalmente veio com a vitória diante do Araxá?
Tarcísio Pugliese - Foi muito bom. Como coloquei inúmeras vezes a gente vinha jogando bem, mas as vitórias insistiam em não vir.  Contra o Araxá voltamos a jogar bem e vencemos. Isto gera uma calma maior para todos nós do elenco. Não podemos diminuir nossa intensidade de trabalho e de treino e nem mesmo o foco. Continuamos fora do G4 que é nosso objetivo. Teremos um jogo bastante difícil diante do Villa Nova, mas que para atingirmos nosso objetivo será uma partida fundamental.

Mantiqueira - Como está sendo a preparação para este jogo? O Villa está bem no campeonato e jogando em casa todos sabem das dificuldades que a Caldense encontrará.
Pugliese - Vimos o jogo do Villa Nova contra o Tupi e o Baiano foi ver o jogo do time de Nova Lima contra o Boa. Estamos com um DVD deste último jogo e vamos assistir para analisarmos um pouco mais sobre este adversário. Queremos nos preparar da melhor forma possível. Tivemos um bom resultado contra o Araxá, porém, dentro da classificação não estamos bem. Não podemos relaxar ou pensar em ter uma tranquilidade maior porque precisamos entrar neste G4 o mais rápido possível. Vencer o Villa em Nova Lima não será fácil, mas nossa preparação está toda voltada para conseguirmos este  resultado.

Mantiqueira - Após a vitória de sábado houve uma comemoração muito grande por parte de jogadores e comissão técnica. Alguns se emocionaram bastante. Como foi aquele momento?
Pugliese - Foi um momento muito bom. Tivemos uma semana um pouco tensa, de bastante cobrança nossa com nós mesmos e por isto sabíamos que era importantíssimo  vencer. O resultado gera uma euforia de momento e uma alegria maior. Era um jogo que precisávamos vencer e isto foi muito cobrado.

Mantiqueira - Você tem alguns problemas no elenco. Como você está lindando com isto?
Pugliese - O Djavan tem uma lesão muscular de 1,5 cm e o Cléber não apresenta nenhuma lesão num grau maior e em breve volta ao time. Tenho que montar o time sem o Djavan por pelo menos mais uns 10 dias. Temos mais alguns dias para trabalhar na formação do time e vamos analisar ainda o adversário, mas a base do jogo contra o Araxá será mantida.

Mantiqueira - Como você viu os jogadores que entraram pela primeira vez no time?
Pugliese - Gostei muito do Nena, que entrou muito bem, mas preciso ressaltar que o Leonel também vinha bem. O gol do Nena pode ser um diferencial por gerar uma confiança maior para o próprio atleta. O centroavante vive de gols e ele mesmo se cobra muito. O Cris também foi muito bem, assim como o Cléber. Aliás, o Cléber as vezes é muito cobrado de uma forma injusta no meu ponto de vista. Ele vem fazendo bons jogos. Contra o América ganhou todas as jogadas individuais.  O mais importante é sabermos que temos um elenco competitivo.

Mantiqueira - Na semana passada você deu a cara a tapa ao não falar com a imprensa e acabou apanhando muito por isto. O que de fato aconteceu para aquela atitude de sua parte?
Pugliese -  Sou uma pessoa bem direta e não tenho problema algum em me expor.  O cargo que ocupo não permite que eu tenha medo de alguma coisa. Fiquei muito descontente com algumas críticas infundadas, cobranças  insensatas e achei melhor não falar para não dizer alguma coisas que não deveria.  Poderia causar um tumulto maior e não seria o ideal. Após o jogo disse para um colega seu de imprensa que a cultura do futebol mundial e principalmente no futebol brasileiro é burra. As pessoas agem de acordo com esta cultura burra sem parar para pensar.  É uma tamanha falta de inteligência. Se todos agem de uma forma e a gente vê que não é o correto temos que mudar, independente do que vão pensar, do que vão falar, do que vão achar. Cito o exemplo de um cidadão bem conhecido em Poços de Caldas que é o Marcos Vinícius. Um excelente caráter, um grande profissional que tem feito na Ponte Preta coisas bem diferentes. Moro em Campinas e conheço bem a Ponte Preta, trabalhei lá inclusive. O Marcos Vinícius age de uma forma completamente diferente dos diretores que passaram por lá e está conseguindo resultados completamente diferente do que estes mesmos diretores. A Ponte hoje briga pela liderança do Paulista, está na Série A do Brasileiro.

Mantiqueira - O que é mais importante do que os resultados no seu ponto de vista?
Pugliese -  Vou dizer uma coisa, mas não é para falarem que estou defendendo meu emprego. Não fiz isto nem no Oeste e nem no Icasa, que fizeram uma final de Brasileiro e não vai ser aqui na Caldense ou em qualquer outro clube que farei. Se tiver que ter mudanças e quiserem me tirar, sou um cara tranquilo quanto a isso. Só acho que deveria ser avaliado não o resultado de uma partida de futebol, mas sim o trabalho, o que está sendo realizado, do que a equipe vem rendendo. O Marcos Vinícius apanhou  muito da imprensa de Campinas e segurou o Kleina por nove jogos, sendo que foram seis derrotas e dois empates. A Ponte é um time que tem uma grande torcida, a cidade é maior e a cobrança é completamente diferente da que tem em Poços. Mesmo assim ele segurou o treinador mesmo diante das pressões. Ele continuou um trabalho e hoje o Kleina está no Palmeiras e a Ponte Preta é destaque no futebol brasileiro. Ele agiu da mesma forma com o Guto Ferreira que teve seis jogos com quatro derrotas e dois empates. Temos ainda o Corinthians como exemplo. Eles perderam uma Libertadores de forma ridícula, mas o trabalho foi mantido e hoje é campeão mundial. A cultura do futebol de agir de acordo com o resultado está errada. Se perdeu muda tudo. Manda técnico embora, troca jogadores e começa tudo do zero.  É burrice.