domingo, 18 de dezembro de 2016

André Oliveira: “Brotam talentos, mas falta incentivo”

Poços de Caldas, MG – Ex-atleta, professor de educação física e comentarista esportivo no programa Bate Bola, da TV Poços, André Carvalho Oliveira tem uma longa história no esporte de Poços, além de passagens pelo Minas de Belo Horizonte e Flamengo do Rio como jogador de voleibol. Em entrevista ao Mantiqueira, ele comenta sobre seu trabalho, os tempos de jogador de vôlei, sua formação, os muitos nomes de destaque da cidade, a falta de incentivo, o futebol profissional.

 Ex-atleta
“Comecei na Caldense com o saudoso Mané da Pinta, jogando futebol de salão, hoje conhecido como futsal. Depois joguei no Sesc e após os treinamentos do futebol comecei um trabalho no voleibol. Naquela época eu já era maior que o pessoal do futsal e meu porte físico era mais compatível com o voleibol e então passei a treinar futebol e vôlei ao mesmo tempo. Depois de algum tempo o Alexandre Valverde, que era técnico da Caldense, me convidou para fazer parte da equipe e em 1989 passei a fazer parte do elenco da Caldense, onde joguei até 1993. Disputados inúmeros campeonatos, fui campeão mineiro, vice-mineiro juvenil, campeão infanto-juvenil, bicampeão do Jogos da Juventude, bicampeão do Jimi. Defendi as cores da Caldense em pelo menos 300 partidas. Passei algumas temporadas em Belo Horizonte. Tive uma passagem pelo juvenil do Minas, foi quando recebi uma proposta para ir para Vespasiano, onde comecei a jogar profissionalmente. Tive passagens pela seleção mineira, juvenil, pelo Flamengo, onde joguei um campeonato carioca pelo clube. Após algum tempo, já estava um pouco saturado do vôlei, machucando demais. O vôlei é uma modalidade lesiva, te “suga” muito, pois os treinamentos são muito puxados. Quando eu jogava o sistema de pontuação era diferente de hoje. O set tinha uma duração maior que é hoje. O voleibol de hoje é muito mais dinâmico e o treinamento é menos puxado, também mais dinâmico. Devido a um cansaço resolvi abandonar o esporte e voltar a estudar. Retornei a Poços de Caldas, cursei Educação Física, continuei disputando alguns campeonatos, mas como atleta amador. Hoje sou dono da Performance Academia, trabalho com musculação e outras atividades. Sou aficionado pelo futebol, acompanho a Caldense desde moleque, desde que o time subiu, juntamente com o Esportivo de Passos em 85 ou 86, fui a todos os jogos da Caldense, até em algumas partidas fora de Poços. Quando o time perdeu para o Cruzeiro em BH no Supermineiro eu estava lá”.

 Apoio ao esporte
“A Secretaria Municipal de Esportes sempre realizou um bom trabalho, acompanho aquele órgão desde outras gestões. Acompanho de perto o trabalho de Lelo, vi o trabalho do Antônio Carlos Pereira e do Luiz Antônio Campos, que foi uma ótima administração, e ainda o Albert Mareca. Passei por todas essas administrações como atleta, disputei vários campeonatos, então pela minha experiência eu acho que tem um bom incentivo da cidade sim. Temos muitos atletas de destaque em Poços de Caldas em diversas modalidades, como atletismo, judô, vôlei, natação, boxe, bicicross, mountain bike, e assim vai. Tenho contato com todo mundo e só tenho a lamentar que os atletas locais cheguem a certo nível e precisem ser bancados pelo “paitrocínio”. Não existe aquele apoio de empresa. O apoio da Secretaria de Esportes ajuda mas não é o suficiente. Muitas vezes o atleta precisa de um apoio financeiro bem maior, senão ou ele vai ser um atleta profissional ou vai ser obrigado a continuar no amadorismo e terá que buscar recursos do trabalho. A pessoa chega numa fase da vida que precisa definir, ou estuda ou trabalha ou se dedica de vez para ser um profissional do esporte. É neste momento da vida que muitos abandonam o esporte e desta maneira muitos talentos são desperdiçados. Existem casos de algumas cidades em que o apoio das prefeituras é um pouco mais forte, então o atleta tem mais chance de se destacar. Mas isso acontece com mais frequência no interior de São Paulo, onde a estrutura é melhor que a de Minas.
Eu só lamento que as empresas locais, que faturam muito em Poços de Caldas, não deem o incentivo necessário que os atletas precisam.

 Promessas locais
“Nosso esporte especializado é muito rico e possui jovens talentos. Muitos desses garotos nem aparecem tanto para o público local, mas já estão construindo uma carreira fora de nossa cidade. Como a gente sabe, o futebol ocupa um destaque bem maior em toda a imprensa local, mesmo assim existem atletas como a Tatieli, no atletismo, o pessoal do Sidney da Secretaria de Esportes, que disputa provas de pistas e são muito bons na modalidade,  o pessoal do jiu-jitsu, com duas academias muito fortes em que Poços, a do Paulão e a do Gustavinho, de onde saem campeões mundiais e brasileiros praticamente a toda hora, tem o trabalho do pessoal do bicicross, com o Renato Rezende. O vôlei de Poços sempre foi tradição, desde a época do Marcelo Castelano, passando por Xandó, Valverde. Como eu acompanho o vôlei há muitos anos vejo esta modalidade um pouco carente de talentos novos. O menino ou menina hoje às vezes não passa da categoria de base. Não existe uma equipe adulta ou profissional para seguir e acaba optando por outros caminhos. Além do mais ainda existe o problema financeiro, quando os pais não possuem condições para manter o garoto apenas praticando esportes e resolve investir nos estudos do filho para que o futuro seja mais garantido do que uma aventura no esporte. Para a maioria, estudar e trabalhar é prioridade e o esporte fica de fora. Uma pena, pois Poços tem pessoas que trabalham duro na formação de atletas. Tem, além das modalidade que já citei, o trabalho do Júlio, no basquete, o handebol de Poços já foi muito forte e ainda os atletas individuais, como o Gijo, que é um campeão, ou seja, brotam talentos mas eu acho que falta um pouco mais de incentivo. Infelizmente, sem dinheiro não se pode fazer milagres”.

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