sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Professor Pelezinho: 18 anos de dedicação ao ensinamento do futebol

Poços de Caldas, MG - Nesta última entrevista especial do ano, o Mantiqueira conversa com o professor Fernando Henrique dos Santos, conhecido como Pelezinho. Bacharel em Educação Física, com vários cursos de futebol, ele é um dos principais formadores de talentos da cidade. Pelezinho tem contatos em grandes clubes do futebol brasileiro e assim manda meninos o tempo todo para testes e avaliações. Aos 38 anos, casado há 12 anos com Alexsandra De Aro e pai da Maria Fernanda, Pelezinho destaca o amor da família para se inspirar na profissão. Aliás, foi devido ao amor pela esposa que ele se firmou em Poços de Caldas. Natural de Campestre e com trabalho de destaque em Águas da Prata, foi em Poços que ele conseguiu se firmar e fazer da escolinha da Sociedade Esportiva Curimbaba uma das principais da cidade. “Meu sonho era trabalhar com futebol, seja o que fosse. Queria ser jogador, não consegui, mas estou muito feliz em poder ajudar os jovens sobre a importância do esporte na vida deles. Assim sou feliz. Meu trabalho é de preparar o menino. Ele tem que saber vencer, saber perder, pois a vida tem vários momentos e é preciso saber lidar com todos”, falou Pelezinho, que além de professor da Curimbaba, trabalha no Sesc e no projeto Viva o Esporte. Confira entrevista completa.


Mantiqueira - Quando e onde começou seu trabalho com garotos?
Pelezinho - Comecei em Águas da Prata com o Luiz Carlos Galter. Para quem não se lembra, o Galter foi zagueiro do Corinthians e fez muita história no futebol. Tive o privilégio de começar com ele numa escolinha de futebol. Quando ele me convidou não pensei duas vezes, pois sempre tive muita ligação com o futebol, sonhava como todos sonham um dia em ser jogador de futebol, mas acabei indo mesmo para o lado de ensinar os jovens. Foi este trabalho que mostrou que meu caminho seria o de professor e ensinar para os meninos o lado bom que o esporte pode ter na vida de cada um.

Mantiqueira - Durou quanto esta parceria com o Galter?
Pelezinho - Ele acabou tendo alguns problemas particulares que o afastaram das atividades na escolinha. Foi aí que me veio a oportunidade de assumir o projeto sozinho. O ano era de 1998 e eu, ainda bem jovem, começava a comandar os garotos em Águas da Prata em competições e conseguimos bons resultados. Em 2000 assumi a diretoria de esportes de Águas da Prata e ali comecei a desenvolver um trabalho mais abrangente que tinha futsal em várias categorias, além de outras modalidades. Comecei a andar mais pelo Estado de São Paulo, tendo contato com as Secretarias de Esportes das cidades paulistas, fazendo amizades importantes e o trabalho foi ganhando uma dimensão muito  interessante.

Mantiqueira - É verdade que o amor mudou seu destino e o trouxe para Poços de Caldas?
Pelezinho - Exatamente isto. Conheci minha esposa em Poços de Caldas e em 2004 nos casamos. Abandonei tudo que tinha construído até então em nome do amor e me mudei para Poços para começar do zero. Os primeiros anos foram muito difíceis e tive que correr atrás de espaço. Ninguém me conhecia, ninguém sabia quem era aquele jovem que tinha o apelido de Pelezinho. Na época o esporte aqui era muito fechado e com isto as dificuldades pareciam não acabar.

Mantiqueira - Como você conseguiu reverter esta situação?
Pelezinho - Foi graças ao Antônio Carlos Pereira, quando ele foi secretário de Esportes as portas se abriram para mim. Ele me convidou para fazer parte do projeto Viva o Esporte e aí começou minha vida esportiva aqui. Comecei a fazer trabalhos com as equipes de futsal do Marco Divisório, a participar dos campeonatos amadores da cidade, fui trabalhar com o Luizão no Guarani. Tudo começou a se abrir novamente. Novos amigos foram sendo feitos e fui conseguindo reconstruir minha história no esporte de Poços de Caldas.

Mantiqueira - Quando começou seu trabalho nas escolinhas de Poços de Caldas?
Pelezinho - Foi na escolinha Brasil Society, que tinha o Marcelinho Albino como professor, porém, ele acabou saindo e fui convidado para assumir seu lugar. Logo em seguida, recebi um convite para trabalhar na escolinha da Mitsui. O trabalho lá era feito pelo “Pelado”, mas ele estava saindo e meu nome acabou sendo vinculado para o seu lugar. Aceitei o convite e fiquei nas duas escolinhas por um período. Mas o trabalho na Mitsui foi crescendo muito e tive que deixar o Brasil Society. Mas antes ainda ajudei a formar a escolinha do Vulcão e tive a chance de ser treinador das seleções de Poços de Caldas em várias competições estaduais. Agradeço muito ao Antônio Carlos Pereira pela porta aberta e ainda aos demais secretários que sempre me deram carta branca. Lelo e Mareca também sempre foram grandes parceiros. O Lelo é uma pessoa por quem tenho um carinho muito especial, pois me deu muita força e nunca vou esquecer nada que ele fez.

Mantiqueira - A escolinha da Curimbaba conseguiu um grande respeito graças a seu trabalho. Como você vê isto?
Pelezinho - Graças a Deus conseguimos realmente um respeito importante, mas temos toda uma equipe por trás. Tempos projetos importantes, queremos crescer mais, levar o nome da escolinha a nível nacional e tentar revelar muitos talentos para nosso futebol.

Mantiqueira - É mais fácil formar uma escolinha hoje ou antigamente era melhor?
Pelezinho - Formar uma escolinha hoje é muito difícil. Antes o menino só tinha o futebol como opção, pelo menos como a primeira opção. Hoje a concorrência é grande é o menino tem o celular, já tem a namoradinha, shopping, além de muitas opções em outras modalidades. Tirar o menino às duas horas da tarde para levá-lo ao treino com sol ou chuva não é fácil. Professores como o Paulista, Rubão, Neco, Erick, Nogueira, Lolí, entre outros, conseguem um feito importante em trabalhar com meninos nos tempos de hoje. Não é fácil, seja a escolinha para meninos carentes ou não, é difícil manter o interesse dos garotos. Eles preferem o computador, o shopping, do que tentar a sorte no futebol. Aí aparece a importância dos pais mostrarem para seus filhos que o esporte é o caminho para uma vida melhor, longe das drogas e outras coisas ruins da vida.  

Mantiqueira - Como você consegue ter tantos contatos importantes em grandes clubes do futebol brasileiro?
Pelezinho - Tudo começou em 1999 quando trabalhava com o Luiz Carlos Galter. Ele tinha livre acesso no São Paulo Futebol Clube, no Corinthians e consegui aproveitar esta carona. Ele abriu as portas do São Paulo pra mim e foi o primeiro clube que conseguir tem um bom relacionamento. Consegui aproveitar a oportunidade e hoje tenho livre acesso a quase todos os grandes clubes do futebol brasileiro. São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Red Bull Brasil, Desportivo Brasil, entre outros. Existem muitos profissionais que fazem o mesmo trabalho que realizo, porém, poucos conseguem se  firmar. Sinto-me honrado em permanecer tanto tempo levando os meninos de nossa cidade para serem avaliados e assim dando a eles a chances de realizar o sonho em se tornarem jogadores profissionais um dia. Deixo claro que estes contatos vieram e se mantiveram graças a muita honestidade, transparência e visando ao bem de todos. Assim, conseguir uma relação sólida a ponto de poder indicar qualquer menino para qualquer destes clubes e que eles vão confiar na minha palavra e analisar o garoto com muito carinho.

Mantiqueira - Já que você tem tantos contatos importantes, nunca pensou em deixar Poços e trabalhar nestes clubes?
Pelezinho - Já recebi convites sim. O São Paulo já me chamou para acompanhar as suas equipes de base, recentemente o Santos também me convidou para o mesmo trabalho. Desportivo Brasil e Red Bull também abriram as portas, mas confesso que ainda não tive um tempo para pensar direito e nem mesmo estou com muita pressa em resolver isto. Não vivo só do futebol, sou funcionário também do Sesc de Poços de Caldas e ele toma quase todo o meu tempo, mas não sei se é hora de deixar a cidade e investir em um novo trabalho.

Mantiqueira - Existem alguns meninos indicados por você em times de fora de Poços?
Pelezinho - Sim. O Wender é um garoto da cidade que está se destacando no Atlético Mineiro. O Cruzeiro está monitorando 10 meninos. Eles vão a Belo Horizonte a cada três meses. Dois atletas revelados por mim estão jogando no Red Bull. Temos o Carlinhos e o Tharsus que estão treinando como Thiago Oliveira na Caldense. Seis meninos estão sendo monitorados pelo Santos, sendo que um deles deverá ficar alojado no início de 2017 com boas possibilidades de seguir no time paulista. O Corinthians também está monitorando alguns meninos e em março o São Paulo receberá alguns jogadores.

Mantiqueira - Como funciona este processo de seleção?
Pelezinho - Quanto mais cedo o menino for avaliado, mais chances ele terá se continuar fazendo os testes. A concorrência é muito grande e se o menino demora para entrar num clube dificilmente ele terá a mesma chance mais tarde.

Mantiqueira - Qual a importância dos parceiros que você conquistou ao longo de sua vida e quanto isto ajuda a revelar meninos em Poços de Caldas?
Pelezinho - Não sou sozinho neste trabalho. Se não fosse a equipe que temos, os amigos que fiz na vida, não teria conseguido nada. Tenho o espaço nos clubes, mas dependo de todas as escolinhas que me ajudam a selecionar meninos. Nem sempre os melhores jogadores estão comigo e por isto vem a parceria das escolinhas. Agradeço a todos os professores de Poços que confiam em mim, me dão liberdade para levar os meninos e se não fosse assim não teria tanto sucesso no que faço. Quero ainda ressaltar a importância da comissão técnica que trabalha comigo na Curimbaba. Uma equipe muito especial a começar pelo professor Adauto, que está comigo há dez anos. É um cara que fica na beira do campo, briga com a arbitragem, mas que esfola o joelho ao tentar ensinar um menino como se chuta uma bola, mostra como se faz um passe, como se bate na bola, ou seja, me ajuda muito. Ele não tem um estudo aprofundado no futebol, mas toda a sua vivência é muito importante para a escolinha e é uma figura fundamental no trabalho da Curimbaba. Temos ainda o Moura, ex-jogador profissional, que faz um trabalho muito bom individualmente com os meninos. O Marcelo iniciou agora um projeto muito bonito com os goleiros da escolinha. Ele tem feito um trabalho diferenciado e que vai agregar muito para a escolinha e para todo o sul de Minas. Tem ainda a parceria com alguns meninos que estão se formando e trabalhando comigo, caso do Fernando, Pedro, Dionísio, enfim, todos ex-atletas que estão tentando seguir no esporte de uma ou outra maneira.

Mantiqueira - Que balanço você faz de 2016?
Pelezinho - Foi um ano difícil para todos os brasileiros, seja em qual atividade eles atuem. No esporte não foi diferente. Mesmo assim conseguimos atingir nossas metas, participar de várias competições, algumas conseguimos um bom destaque. A escolinha da Curimbaba está numa crescente muito boa e acredito que 2017 será muito bom. Já neste início de ano vamos disputar a Copa Internacional e queremos começar com o pé direito. Esperamos um 2017 muito positivo para todo o esporte de Poços de Caldas. É um ano de mudanças e espero que isto possa influenciar a todos de maneira positiva.

Mantiqueira - Quando o menino chega para você e diz que quer ser um jogador de futebol, qual a resposta?
Pelezinho - Todo menino que chega numa escolinha tem dois pontos importantes. O primeiro é porque ele gosta de jogar futebol, o segundo é porque ele sonha em ser um jogador de futebol, um atleta profissional, em ser um Neymar. Na fase inicial do trabalho o foco principal não é o futebol. Ele tem que saber que antes de ser um atleta é uma criança e precisa aprender a correr, a cair, se movimentar. Só depois vai aprender os princípios técnicos do futebol. Tem ainda a questão do bom cidadão, que vem acima de qualquer coisa e tentamos passar isto para todos. Tem ainda a questão da vocação. Às vezes o menino gosta de futebol, o pai quer que ele seja jogador de futebol, mas ele não leva jeito. Quando o menino chega fazemos uma triagem, só depois vamos trabalhar com a iniciação.

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