domingo, 4 de dezembro de 2016

Elton Fiebig faz balanço da participação no Mundial dos Estados Unidos

Poços de Caldas,MG - Um dos principais judocas do Brasil e sensei bastante respeitado, Elton Fiebig acaba de retornar ao Brasil depois de mais uma edição do Campeonato Mundial. Desta vez ele terminou na terceira colocação. No currículo, Fiebig tem duas medalhas de ouro, uma de prata e agora um bronze.

O campeonato
O Mundial de Veteranos foi em Fort Lauderdale, Estados Unidos. Fiebig venceu na primeira luta o alemão Lars Weber por ippon. No segundo combate ele enfrentou o canadense Mark Wilson e venceu também por ippon. Na semifinal Fiebig acabou derrotado por David Tashivilli, atleta que foi o campeão. O brasileiro perdeu por um shido, uma punição a mais que o adversário. Mesmo com o bom resultado, Fiebig mostrou um certo abatimento e lamentou a falta de adversários capacitados no Brasil. “Não faltou treino, não faltou apoio, mas faltou material humano. Tenho que agradecer aos meus alunos que todos dias estão comigo, porém, faltou adversários grandes e pesados”, lamentou, destacando que seus alunos em Poços de Caldas são todos leves. “Se você perde a mão de treino, principalmente com atletas mais altos, no meu caso canhotos e pesados, fica muito difícil. A falta de treinamento específico com adversários dessa característica me prejudicou”, disse. “Fico triste pelo resultado porque sei que posso vencer, mas, estou ficando sem treino e a tendência é piorar já que alguns alunos receberam propostas para ir para outras cidades e com isso só ficaram crianças”, lamentou o atleta. “Agradeço aos meus alunos, familiares, ao Palace Hotel que me apoia, à Secretaria de Esportes. Obrigado a todos e ao jornal Mantiqueira por ser um parceiro importantíssimo na divulgação do nosso trabalho”, finaliza Fiebig.

Insatisfeito
Fiebig se mostrou bastante insatisfeito com o resultado. “Minha meta era vencer, meus treinamentos foram para vencer e por isto não gostei de ficar em terceiro. Nesta mesma categoria de 40 a 44 anos em 2014 fui campeão e ano passado fiquei em segundo. Este ano acabei surpreendido por um atleta de Georgia que conseguiu anular meu judô, não consegui fazer as pegadas e com isto ele venceu a luta. Fiquei chateado por perder deste jeito, pois sei que poderia ir mais longe”, disse Fiebig. “O judô é feito por detalhes e acabei pagando o preço de não ter adversários de treino no Brasil que pudessem me dar melhores condições de treinamento antes do Mundial”, lamenta Fiebig.

O bronze
Fiebig conta que depois da derrota ficou abatido, porém, procurou forças para buscar o bronze que também acabou sendo uma conquista importante para o judô brasileiro. Depois do campeonato Fiebig passou por um período nos Estados Unidos e ficou impressionado com as condições que os esportistas têm naquele país. “É muito diferente, mas agora vou trabalhar e buscar melhor performance, mas nossa estrutura é infinitamente inferior”, fala Fiebig.
“Valeu mais uma experiência e ainda a chance de encontrar grandes amigos, como Osvaldo Simões, Aurélio Miguel, entre outros. Bola para frente e ser terceiro colocado num Mundial não é para todos. Vamos nos adaptar como o que temos, tentar achar adversários mais fortes para treinamentos e buscar melhorias no próximo ano. Foi um aprendizado importante e a cada ano que passa acabo fazendo uma reciclagem na carreira e isto é muito importante, inclusive nos treinamentos que fazemos com os alunos de Poços de Caldas”, fala Fiebig.

Conheça um pouco sobre Fiebig

Carreira
“Até os 18 anos eu treinava na Associação de Judô Vila Sônia, com o professor Luiz Shinohara, hoje técnico da seleção olímpica do Brasil, e tive em minha formação com atletas como Aurélio Miguel e Luiz Onmura, mais velhos que eu, mas parceiros de treinos. Tive oportunidade de aos 17 anos conhecer o Japão, através do Aurélio Miguel, que me presenteou com uma passagem, e fui fazer um intercâmbio naquele país por três meses. Este intercâmbio foi no ano de 1989. Em 1990 retornei ao Japão, mas já para me tornar aluno bolsista de uma das faculdades mais tradicionais daquele país, a Kokushikan, onde fiquei durante quatro anos cursando educação física e acabei retornando ao Brasil justamente por estar próximo das Olimpíadas de Atlanta em 1996. Na época, se eu não retornasse ao Brasil não teria mais condições de representar o país ou almejar qualquer tipo de competição internacional. Em 1994, quando retornei, encontrei uma estrutura que naquele ano era muito boa, mas não teve continuidade. Em 1992, o Rogério Sampaio ganhou a medalha de ouro em Barcelona juntamente com o voleibol. Ambas as modalidades - vôlei e judô - eram patrocinadas pelo Banco do Brasil, mas o judô, que vinha sendo mal administrado pela família Mamed, não teve como comprovar os gastos. A verba que a modalidade tinha para investir em quatro anos, ou seja, por um ciclo olímpico, foi gasta em apenas dois anos e não conseguiram prestar contas de onde foi parar este dinheiro. Por isso, no ano em que retornei ao Brasil acabou o patrocínio, cheguei aqui após sair de uma estrutura de primeiro mundo e tive que começar tudo do zero”.

 Recomeço
“Os três primeiros meses foram bem duros, pois encontrei um sistema ainda arcaico de treinamentos, uma metodologia bem atrasada. No Japão eu era treinado pelo bicampeão olímpico Hitoshi Saito e também em conjunto com a seleção japonesa, competia com outros países, porque lá é a Meca do judô. Ao retornar ao Brasil encontrei uma ditadura do esporte e para representar o país tinha que pagar passagem. Se não tivesse autorização da CBJ, entidade que rege a modalidade, eu não podia participar de nada. O que mais senti nessa fase foi nas próprias seletivas em 1995, para a formação da equipe que estaria em Atlanta, quando fui lutar com o então meu companheiro de equipe Aurélio Miguel, na mesma categoria, e na semifinal nós nos cruzamos na definição de quem iria à final. Quem fosse à final se classificaria para a próxima e decisiva seletiva em 1996, onde seriam definidos os atletas que estariam nas olimpíadas. Eu e o Aurélio lutamos, ele tinha a postura de ser um cara contestador, contra a entidade [CBJ], mas por trás tinha um jogo de interesses. A imagem do judô era vinculada a ele, então o patrocínio que ele tinha na época, da Embratel, era dividido em 50% para ele e 50% para a CBJ. Então você vai enfrentar um cara que não tem como sair da equipe. Foram dois confrontos, no primeiro fui muito prejudicado, perdi por decisão da arbitragem, recebi punição e no segundo confronto eu bati muito no Aurélio e novamente pela decisão dos árbitros eu perdi. Não tinha o que fazer. Nada dava para tirar o homem de lá. Essas coisas ficam até um pouco estranhas porque o cara que me ajudou no início da minha carreira depois me prejudicou no meu retorno, tirando um sonho meu de participar de uma olimpíada. Mas isso foi muito claro para desmistificar a imagem do ídolo e a do ser humano. Ali todo mundo está lutando com um único objetivo. Ele chegou para mim no final da luta e disse que eu merecia a vitória. Falei para ele que não adiantava falar isso para mim, tinha que falar para os árbitros. Essa foi uma lição que tirei para a vida toda”.


Currículo vencedor
“Já fui campeão sul-americano, campeão sul-americano universitário, campeão pan-americano, terceiro colocado no campeonato mundial junior até 20 anos além de dois títulos mundiais de veteranos, um vice e um terceiro lugar. No adulto participei de diversas Copas do Mundo e tive a oportunidade de integrar a equipe olímpica em 2000, fazendo parte de toda a preparação, mas novamente não participei da competição, desta vez por lesão. Na época a frustração foi muito grande porque participei de todo o processo de treinamento e das competições internacionais. Você se prepara por uma vida toda e seu sonho é atingir essa meta e fica frustrado por não conseguir um objetivo que já era traçado durante um longo tempo. Mas também ficam lições para que se possa ver onde houve erro e isso contribui para a formação de novos alunos. Passei por muita coisa, muito desgaste que hoje em dia não é preciso ter e se pode assim conseguir um resultado melhor”.

Formação de alunos

“A formação de alunos faz parte da minha característica. Com 13 anos eu já acompanhava o meu professor Luiz Shinohara na formação e na iniciação e ajudava nas aulas. De volta ao Brasil, eu já era professor de educação física, acabei seguindo essa linha de educador. Comecei em escolas e academias em São Paulo e foi aos poucos que atingi a condição de dar os treinamentos no Projeto Futuro. Esse projeto é um centro de referência no Brasil que recebe atletas do interior de São Paulo para morar na capital e é como se fosse um regime de seleção. Eles treinam dentro do ginásio do Ibirapuera e os treinamentos são abertos para os atletas da seleção. O aluno vem de uma cidade pequena e se estrutura, encontra todas as condições para crescer na modalidade e ainda fica próximo de seus ídolos. O que a gente precisa muito no esporte é a referência, você precisa de um espelho. Se você tem uma referência que não é positiva, teoricamente não vai ser também grandes coisas, mas se sua referência for positiva é possível crescer. A tendência é seguir a mesma linha dos medalhistas, dos atletas olímpicos. Eu trabalhei até 2004 no Projeto Futuro. Eu lutava por São Caetano e quando saí do projeto passei a ser um dos técnicos do São Caetano, mas no Projeto Futuro eu tive oportunidade de revelar atletas importantes como Tiago Camilo, Leonardo Rodrigo, que foram campões mundiais nas categorias de base, sendo que o Tiago Camilo foi campeão mundial e tem ainda duas medalhas olímpicas. O Tiago foi na época junto comigo para a cidade de São Caetano e lá a gente deu essa continuidade de trabalho e aí sim com maior estrutura conseguimos agregar valores, tanto da equipe como de patrocinadores e pessoas que estavam interessadas no projeto”.



Poços de Caldas
“Na verdade eu vim lutar em Poços em 2003 pelo Circuito Olímpico, uma competição que reunia os oito melhores atletas de cada categoria e acabei perdendo a luta. A competição oferecia dinheiro, sendo mil reais para o campeão, dois mil para o segundo e assim por diante. Eu saí sem um tostão no bolso e fui dar uma volta. Quando passei em um barzinho onde havia umas moças conversando, resolvi sentar e acabei conhecendo a minha esposa e isso fez com que eu passasse a frequentar a cidade com mais regularidade e em 2004 comecei a residir aqui”.

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