terça-feira, 13 de dezembro de 2016

“O salário que eu tenho como youtuber eu nunca tive como jogador de futebol”, conta Wendell Lira

Wagner Alves
wagner@oplayer2.com.br

Dos campos de futebol ao Youtube, Wendell Lira dá show não somente no Fifa, mas em humildade. Em janeiro de 2016, o ex-jogador de futebol ganhou o prêmio Puskas com o melhor go de 2015.
Seis meses depois, Lira deixa os gramados para se tornar youtuber. “Na verdade, eu não larguei para virar gamer. Já tinha largado o futebol para ser ajudante da minha mãe na lanchonete. O que eu fiz foi só unir o útil ao agradável”, explica o jogador durante o Fifa Hero League, evento oficial da EA com transmissão da ESPN e que aconteceu no último dia 10.
De uma infância conturbada, Lira conta que já queria largar o futebol mesmo antes de ser reconhecido pelo Puskas. Com mais de 70 lesões por conta do esporte, o sofrimento o empurrava para fora dos gramados. “Um dia, minha mãe me ligou e disse: ‘ Wendell, larga o futebol, eu não aguento você sofrer mais’. Perguntei o que ela queria fazer e ela queria abrir uma lanchonete. Isso em 2014, antes de ganhar o Puskas. Eu topei essa ideia, pegamos 600 reais na lanchonete do prédio lá e começamos o negócio. Quando deu uns dois meses, a lanchonete tava bombando, minha mãe ganhando um dinheiro bom já. Eu falei: ‘ mãe, agora deu, não quero mexer com futebol mais’, lembra.
Pouco depois, Lira recebe um convite para fazer uma temporada pelo Goianésia, time de cidade homônima e que disputa a série D do Brasileirão. Confiante de que seriam apenas quatro meses, ele aceitou. “Eu tinha um sonho. Sou nascido e criado em Goiás e eu sempre fui em estádio. Vi muito Vila Nova contra Goiás e tinha o sonho de poder ficar marcado naquele estádio [Serra Dourada], fazendo gol, porque eu achava bonito. Quando eu fiz esse gol, na hora veio na cabeça: ‘graças a Deus, eu consegui fazer um gol bonito no Serra Dourada’. Estava sendo transmitido pela TV, pra mim já estava ótimo. Tinha realizado um sonho ali. Quando cheguei em casa, o telefone não parava, todo mundo me ligando e falando de prêmio Puskas. Eu só respondia: ‘gente, que é prêmio Puskas?’, ri o ex-jogador.
Foi na premiação que a sementinha de ser um pró-player foi plantada. Lira foi convidado pelo campeão mundial de Fifa, o saudita Abdulaziz Alshehri, para uma partidinha do game. Resultado: 6 x 1 para o brasileiro. Seis meses depois o canal estava no ar.
Será que ele se arrepende de ter pendurado as chuteiras? “Hoje, eu fico em casa o tempo todo, vejo minha filha 24 horas, minha esposa também. Graças a Deus, o salário que eu tenho como Youtuber eu nunca tive como jogador de futebol. A minha qualidade de vida hoje é um bilhão de vezes melhor do que quando eu era jogador de futebol”.
Contudo, Lira ainda considera que o futebol como esporte virtual precisa crescer muito no Brasil. “Eu estou me colocando na posição de, independente do resultado, ser porta-voz para do Fifa. Pra mim, já era para estar muito melhor e não tá. A gente vê pelo Brasil os campeonatos e dá para melhorar muito. Quem sabe com essa onda dos e-sports, a gente alavanca o Fifa. Então, eu venho para os campeonatos pensando que, se ganhar, bom, mas quero desenvolver o esporte”, critica.
Perguntado se ele sente a pressão de ter milhões de pessoas acompanhando pela internet os jogos que ele faz, a resposta é uma lição de humildade. “Cara, pressão mesmo é ter que botar comida dentro de casa. Eu sentia muito pressionado de chegar em casa e não ter um dinheiro para comprar uma frauda ou um leite para minha filha. Isso me deixava muito chateado. Já hoje não. Eu não tenho mais tanta pressão para ganhar. Dá pra relaxar dos treinos em casa. Tem a Marcelinha [filha] o tempo todo pedindo para brincar. Eu falo que tô trabalhando, mas ela não arreda pé”, brinca o ex-jogador.

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