quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Experiência de Catanoce é a principal arma da Caldense para o Estadual

O grande trunfo da Caldense neste campeonato mineiro está no banco de reservas. O técnico Paulo Cezar Catanoce, 46 anos, moldou a equipe a sua maneira, conhece os jogadores e acredita no grupo. Faltando três dias para a estreia da Veterana na competição, a reportagem conversou com Catanoce para tentar saber um pouco mais deste ex-jogador do Corinthians na década de 80 que se transformou num dos melhores treinadores do interior do Brasil. Catanoce falou de toda sua carreira, desde os tempos de jogador até a atualidade no comando da Associação Atlética Caldense. Pouco antes de ligarmos o gravador para a entrevista, Catanoce disse que ao ver os vts da época de jogador a saudade bate forte. "Nossa, o tempo passa rápido, era bem mais magro que hoje, quanta diferença", disse ele, rindo. Exatamente por isto resolvemos iniciar nosso bate-papo falando da época de jogador do atual treinador da Caldense, nascido em Onda Verde, no dia 8 de novembro de 1964, e que começou a carreira em times amadores da região.

Mantiqueira – Você teve uma carreira vitoriosa no futebol, sendo que sua passagem de maior destaque foi no Corinthians. Você ainda teve algumas convocações para seleções de base do Brasil. Como foi aquela época?
Paulo Cezar Catanoce - Iniciei minha carreira nos juniores do América de São José do Rio Preto em 1980, onde joguei por dois anos até me profissionalizar na mesma equipe em 1982. Fiquei no América até o início de 1986 e é um clube de grandes recordações para mim. Neste tempo em que estive no América fui convocado para a seleção de juniores em 1982 e 1983 pelo treinador Osvaldo Brandão.
Tive o privilégio de trabalhar com vários jogadores que mais tarde se tornaram grandes nomes no cenário nacional. Joguei com o Mauricinho, o Jorginho, que hoje também é treinador, Davi, que passou pelo Santos, entre outros nomes.
Em 1984, joguei pela seleção brasileira olímpica treinada pelo Jair Picerni, onde tive boa passagem. E já nos tempos de Corinthians fui convocado pelo Jair Pereira para a seleção de novos, quando disputamos um pré-olímpico no Chile. Com as cores do América disputei cinco campeonatos paulistas até me transferir para o Corinthians. Consegui com as cores do Corinthians realizar dois bons campeonatos paulistas. Cheguei a marcar gols em jogos importantes diante de adversários como Palmeiras de Leão e São Paulo comandado por Cilinho. Pelo Corinthians fiz cerca de 40 jogos até ser transferido para outro clube. Na época houve uma troca entre eu e o atacante Ronaldo Marques e eu fui para o Noroeste de Bauru. Tive ainda passagens por Santo André, Santa Cruz de Recife, onde disputei a Copa União com o treinador Abel Braga, depois disputei o campeonato brasileiro pelo Operário de Campo Grande, Santa Cruz, São Bento de Sorocaba, Goiatuba, Joinvile, Garça, e encerrei a carreira de jogador no Marília.

Mantiqueira – Nestes tempos de jogador já passava por sua cabeça ser técnico de futebol?
Catanoce – Iniciei minha carreira de treinador na Taça São Paulo de Juniores em 1997, pelo Flamengo de São Paulo. Depois voltei ao Marília para ser auxiliar técnico da equipe e no ano seguinte assumi o time como o treinador do time profissional. Quando era jogador de futebol e o final de minha carreira se aproximava eu fui me preparando para ser técnico. Fiz faculdade (formado em Educação Física e Motricidade Humana pela Unorp de Rio Preto) , simpósios de futebol, onde tive palestras com nomes como Nelsinho Batista, Wanderley Luxemburgo. Fui me projetando para iniciar uma nova carreira. Tive facilidade na nova função porque na maioria dos times que joguei sempre fui capitão e tinha certa liderança no grupo de jogadores, isto facilitou muito. Depois do Marília fui técnico do Barretos, Taubaté, Linense, Taquaritinga (vice-campeão da série A2 do paulista em 2004), XV de Piracicaba, Botafogo de Ribeirão Preto, Ferroviária, Mirasol, Rio Claro, Rio Branco de Andradas (campeão do interior de 2009 e eleito o técnico revelação daquele campeonato), Volta Redonda e Caldense. Foi uma longa caminhada mas graças a Deus consegui bons resultados dentro do futebol.

Mantiqueira – Que diferença tem assumir um time em situação de desespero, precisando escapar de um rebaixamento, e outro que inicia uma competição buscando uma classificação entre os melhores, como é o caso da Caldense este ano?
Catanoce – Já passei por duas ou três situações delicadas, assumindo equipes que precisavam urgente de resultados para escapar de um rebaixamento. Neste caso a preocupação maior é motivar o grupo. Uma das formas que vejo ser a melhor é utilizar jogador que não estava sendo aproveitado durante a campanha. Este jogador que não vinha atuando, quando passa a ter uma chance teoricamente vai ter motivação natural e será de grande utilidade para o grupo todo. Consegui fazer isto no Rio Claro quando recebi um time em situação delicada e conseguimos tirar do rebaixamento e na Caldense ano passado, quando cheguei e encontrei uma situação difícil e também consegui o objetivo que era manter o time na elite mineira. Quando você assume todo o trabalho de início, é responsável pela formação do elenco, é bem mais fácil. Você traz os jogadores que quer, que jogam dentro das características que você gosta, principalmente na aplicação de área, nos treinamentos, jogadores que mostram um comprometimento com o clube, que respeite o treinador. Formar um time que se enquadre no seu perfil de trabalho é o caminho ideal para se realizar um bom campeonato. Neste caso a probabilidade de tudo dar certo é bem maior pois não existe o risco que é assumir um time formado por outro treinador e que está para cair para uma divisão inferior.

Mantiqueira – Ao longo de sua carreira fica nítido que você rodou bastante pelo interior paulista. Em Minas as dificuldades de se manter o futebol profissional parecem ser maiores e temos casos de equipes que desistem de temporadas como aconteceu com o Rio Branco. Como você vê este lado?
Catanoce - O que aconteceu como o Rio Branco de Andradas é difícil acontecer em São Paulo, mas, com toda a sinceridade do mundo, uma estrutura como a que o Rio Branco nos ofereceu, e que hoje a Caldense está oferecendo, não vi em muitos times tradicionais do interior paulista. Trabalhei recentemente no Oeste de Itápolis na Série D do Brasil, no primeiro semestre deste ano. É uma equipe da primeira divisão paulista e não tem a estrutura de uma Caldense e de um Rio Branco.

Mantiqueira – A Caldense inicia sua jornada neste final de semana. Você teve tempo para trabalhar e corrigir possíveis defeitos. Depois dos amistosos e intensos treinamentos, o que você viu e corrigiu nesta equipe que vai disputar um difícil campeonato mineiro?
Catanoce – Durante os amistosos o que mais vi de positivo foi a postura do time, que foi bem consistente e os adversários quase não levaram perigo ao nosso gol, não tiveram grandes oportunidades de criar situações de perigo para a gente. Enfrentamos times fortes, o XV de Piracicaba está liderando a Série A2 do Paulista, a Ponte Preta vem de duas importantes vitórias no Paulista, uma contra o São Paulo e outra ontem à noite diante da Portuguesa, e o Santo André está em recuperação no difícil campeonato paulista. Foram três bons testes para nossa equipe, que enfrentou adversários tecnicamente bastante qualificados. O que deu para perceber no nosso time é uma estrutura de posicionamento, saída rápida para o ataque, a postura de jogadores, comprometimento com o trabalho, dedicação nos treinamentos foram fatores muito positivos nestes dias de treinamentos e jogos amistosos.
Contra a Ponte Preta cometemos erros que não podem acontecer. Eles foram duas vezes ao ataque com perigo e marcaram dois gols e buscamos evitar que isto venha a ocorrer quando o campeonato começar. Contra o XV de Piracicaba estávamos vindo de uma carga forte de trabalho e mesmo assim fizemos um bom primeiro tempo, o time saía sempre em velocidade, fizemos dois gols. Depois mudamos muito o time e sofremos o empate. Contra o Santo André houve um equilíbrio muito grande, até mesmo em função das características das equipes serem bem parecidas. No meu entendimento, o saldo foi positivo. Agora, treino é treino, jogo é jogo, é diferente. Nós temos que esperar o momento dos jogos diante do Cruzeiro e depois o América para vermos o comportamento dos jogadores. Se repetir o comprometimento, a dedicação que vi no período de treinamentos com certeza vamos dificultar muito as coisas para os adversários. Acredito que esta postura do time vai ser mantida pois a característica dos nossos jogadores é esta.

Mantiqueira – Existe uma preparação diferenciada para um jogo diante de um time grande?
Catanoce – Falando como ex-jogador e agora como técnico, acho que é preciso encarar qualquer adversário com naturalidade. Se for diferenciar o comportamento podemos ficar sem confiança. Temos que acreditar que vamos fazer um grande jogo contra o Cruzeiro, confiar no trabalho que foi feito até agora. Diante do Cruzeiro nossos jogadores terão que ter muita personalidade. Encarar um Cruzeiro na primeira rodada é muito melhor do que jogar contra eles na décima rodada, como vai acontecer quando a gente enfrentar o Atlético Mineiro. Estes times possuem jogadores de alto nível, de muita qualidade. O Cruzeiro está treinando desde o dia 5 de janeiro. Tiveram 20 dias de treinamentos para nos enfrentar neste domingo. Pode ser que estes 20 dias sejam insuficientes para eles e a gente possa tirar alguma vantagem. Claro que em se tratando de Cruzeiro não podemos ficar aqui iludindo o torcedor e temos que ter os pés no chão, será um jogo difícil, perigoso, mas não é impossível surpreendê-los em Sete Lagoas. O favoritismo total é do Cruzeiro mesmo com o pouco tempo de treinos que eles tiveram. Seremos franco-atiradores e se derem brecha vamos para cima buscar o gol.

Mantiqueira – Existe respeito por parte de um atleta que joga num time grande por um clube menor quando eles se enfrentam?
Catanoce – Jogador de time grande dificilmente se preocupa quando joga contra uma equipe menor. Eles querem passar por cima, não dão muita moral para o time pequeno, seja ele qual for. Eles vêm com tudo para matar e se possível fazer 1,2,3, 4..... Não tem perdão.

Mantiqueira – Voltando a focar sua equipe, o que dá para destacar no grupo da Caldense?
Catanoce – Conheço 90% dos jogadores da Caldense. Sempre bati na tecla e vou defender que este time vai vender caro qualquer tipo de resultado. São jogadores bastante experientes, como o caso do Lúcio, que chegou nesta semana e dispensa comentários, o Ivo, lateral direito foi campeão com o Coritiba em 2008, o Mirandinha tem seis campeonatos paulistas nas costas, o André Alves alguns campeonatos em Minas Gerais, campeonato brasileiro, Rivaldo com toda a sua experiência. São jogadores acostumados com dificuldades. Temos um time com jogadores aplicados, determinados e que nos dá certeza de que a Caldense será um adversário duro de ser batido. Tem que ser assim, pois o futebol de hoje exige isto. Se conseguirmos levar pro jogo tudo o que foi implantado nos treinamentos o adversário terá dificuldade em relação ao nosso time.

Mantiqueira- Claro que você não vai abrir o jogo agora, mas o time que começa a partida de domingo será o mesmo que jogou os amistosos diante de Santo André e Ponte Preta?
Catanoce – Provavelmente. Estamos treinando há três meses e se eu te falasse que não tenho uma base seria utopia de minha parte. O próprio grupo de jogadores sabe aqueles que estão treinando como titulares. Claro que não vou te falar aqui o time exato que começa jogando porque ainda não é este o momento. Vamos analisar as condições do Lúcio até amanhã, vou conversar com ele e se ele tiver condição de jogo deve começar no time titular em lugar do Lê. Quero aproveitar ele nem se foi para ele deixar o time no decorrer da partida. Não tem muito segredo em relação ao time dos jogos amistosos. Estamos concentrados desde segunda-feira com todos os jogadores no CT Ninho dos Periquitos. Gosto de trabalhar desta forma para familiarizar o grupo. Vou levar todos os 22 jogadores para Belo Horizonte para eles sentirem o clima do campeonato. Outra coisa fundamental e que gostaria de ressaltar é que estamos aqui há três meses e não tivemos nenhum problema de indisciplina. Isto para um grupo de trabalho é espetacular, pois qualquer ambiente sem atritos facilita uma união positiva. Neste período não houve discussões, brigas, desavenças, todos estão motivados e a única briga que existe é por posição dentro de campo, mas é uma briga saudável e joga sempre aquele que render melhor dentro das quatro linhas.

Mantiqueira – Está quase chegando a hora de entrar em campo para valer. Como está a ansiedade para este momento?
Catanoce - Aquele friozinho na barriga sempre tem, todos sentem, treinador, jogador. Temos que ter um equilíbrio. Acredito que depois da terceira ou quarta rodada vai ser a hora que vai pegar mesmo e vamos ver quem é quem.

Mantiqueira – Com relação à tabela, como você trabalhou para mostrar aos seus jogadores que ela é complicada mas tem que ser cumprida da melhor forma possível?
Catanoce – Na última terça-feira, tivemos uma missa no CT e o padre tocou num assunto muito interessante. Ele disse que Deus coloca as coisas para a gente de acordo com a sua necessidade. Ele coloca o desafio para você porque você é forte, caso contrário este desafio não seria imposto. Dentro da realidade do futebol sabemos que teremos uma tabela difícil mas nosso pensamento é buscar vitórias fora de Poços de Caldas e isto é a única saída para conseguirmos o objetivo. Vamos ter que lidar com uma tabela estranha que coloca nosso time em nove rodadas atuando seis vezes longe de casa, um absurdo com o qual teremos que lidar a partir de domingo.

Mantiqueira – A Caldense tem alguns jovens no elenco. Como eles estão sendo observados. Eles vão ter as chances durante o campeonato?
Catanoce – Temos sim vários meninos, como o Juninho, o Rodolfo, entre outros. Na medida do possível, durante os treinamentos, estamos procurando usar eles. A Caldense tem um objetivo sério que é ficar entre os quatro do Campeonato Mineiro e buscar uma vaga para o Brasileiro da Série D. Estes meninos fazem parte do contexto e o aproveitamento deles depende do rendimento no dia a dia para terem um espaço na equipe. Como disse antes, o lugar no time titular é de quem está melhor nos jogos ou nos treinos, independentemente da idade.

Mantiqueira – Em 2009, você foi eleito o treinador revelação de Minas. Este ano virão novos prêmios?
Catanoce – É o que eu mais queria no momento. Fizemos um grande trabalho no Rio Branco e se este trabalho for repetido aqui na Caldense, profissionalmente, será espetacular. Seria uma realização conseguir ajudar a Caldense e ficar entre os melhores do Estado e conseguir a vaga na série D do Brasileiro. Será a glória e este é o foco meu, dos jogadores e de toda a comissão técnica.

Mantiqueira – Qual a programação da Caldense para este final de preparação para a partida contra o Cruzeiro?
Catanoce – Hoje pela manhã vamos trabalhar taticamente posicionamentos, à tarde teremos um trabalho de bola parada, amanhã vamos realizar um coletivo pela manhã, depois a gente almoça e viaja para Sete Lagoas. No sábado pela manhã, já em Sete Lagoas, vamos realizar um treinamento leve mais focado em tirar a viagem dos jogadores, uma desintoxicação e esperar o momento da partida.

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