domingo, 30 de janeiro de 2011

“Sofremos um ippon fora o tatame”

Inconformismo é o que melhor traduz os sentimentos dos judocas da equipe de São Caetano, pegos de surpresa da desativação de um dos núcleos que mais campeões formou nos últimos anos no judô nacional. “No deram um ippon fora do tatame. Sabíamos que a situação não estava nada boa, mas nunca esperávamos que de uma hora para outra simplesmente tomassem uma atitude radical prejudicando grandes campeões que muito contribuíram para o crescimento do judô brasileiro”, disse Elton Fiebig.
Semana passada, a prefeitura de São Caetano do Sul divulgou o fechamento de vários projetos esportivos da cidade, entre eles o judô. Fiebig, que atualmente mora em Poços de Caldas e dá aulas no Projeto Soma e colégios da cidade, foi um dos mais prejudicados, pois ele era atleta e professor da equipe do ABC paulista.
A reportagem conversou com Fiebig, que detalhou o que vem ocorrendo em São Caetano e disse que está com quatro meses de salário atrasado e vai acionar a prefeitura na justiça para receber este dinheiro.
Mantiqueira – Como você recebeu esta notícia?
Elton Fiebig – São Caetano sempre foi um potência, haja vista que é uma força nos jogos abertos paulistas. A prefeitura da cidade era a que mais investia no time porém, desde 2004, a gente já vinha perdendo boa parte destes recursos. A morte do antigo prefeito da cidade prejudicou muito, Luiz Tortorello era a pessoa que realmente impulsionou o esporte na cidade de São Caetano. Sempre tivemos um investimento grande no esporte, tínhamos uma equipe com inúmeros medalhistas olímpicos, como Carlos Honorato, Tiago Camilo, Henrique Guimarães, e mais no início da equipe contamos como nomes como Aurélio Miguel e Rogério Sampaio. Estas pessoas sempre trouxeram a mídia para a cidade que acabava sendo bastante divulgada. Eu sempre representei o clube, lutando todos os eventos e ainda trabalhava como professor. A notícia me pegou de surpresa, apesar do nosso salário estar atrasado há quatro meses, mas nunca esperávamos esta postura, acreditávamos que uma providência para resolver os problemas seria tomada a qualquer momento, nunca uma postura tão radical quanto essa. Quem perdeu foi o esporte brasileiro e não apenas o de São Caetano. Infelizmente não pensaram assim.
Mantiqueira – O que mudou para levar a prefeitura tomar esta atitude?
Fiebig – Já há algum tempo notamos algumas mudanças. Eles começaram a falar que tinha que abrir o clube para a população e, paralalemente, decidiram acabar com o esporte de alto rendimento e fazer um esporte mais social. Na verdade, na minha opinião, se formos ver o lado político estão pensado apenas em votos. Quem mantém o prefeito são os moradores da cidade e não apenas um grupo de atleta. Na visão deles é assim e se pensar desta forma estão certos. Porém, esqueceram que estes atletas sempre carregaram a bandeira de São Caetano, são formadores de opinião também e eles podem ter esquecido isto. Para se ter uma ideia, de 980 integrantes da equipe de judô, 720 foram sumariamente desligados sem um aviso prévio e isto é fator que pode pesar negativamente para eles.
Mantiqueira – E agora? Você já tem novas propostas? Fiebig – Estou analisando algumas propostas de trabalho de várias cidades. A equipe era muito boa e todos estão recebendo propostas. O problema maior não é arrumar um novo lugar para dar aulas e praticar judô, o que pesa mais é a lacuna que fica, pois foram 15 anos de muito trabalho, quando foi formada uma equipe, amizades, até mesmo famílias, que foram jogados fora de uma hora para a outra por causa da mentalidade de um político. Nesta a gente vê que de 14 anos de vitórias nos Jogos Abertos, três títulos do Grand Prix Nacional, sete anos campeões dos jogos abertos brasileiros, medalhas olímpicas, no final das contas o ippom (golpe perfeito no judô) veio de fora do tatame e foi imposto por um grupo de políticos.
Mantiqueira – Existe possibilidade de uma reativação do judô em São Caetano?
Fiebig – Existe ainda possibilidade de volta porque ainda não foi totalmente desativada a equipe. Tomara que voltem atrás porque estamos às vésperas de uma olimpíada e não se pode dispensar uma equipe como a de São Caetano de uma hora para a outra.
Mantiqueira – Em Poços, como está o início da temporada?
Fiebig – Começamos uma pré-temporada bem forte e dividimos nossos treinos diários em três etapas. Fizemos alguns treinamentos com a presença de atletas da seleção nacional. Alex Aguiar esteve em Poços de Caldas no meio de janeiro. Semana passada, fizemos treinamentos em Lindóia com cerca de 60 atletas de depois estivemos em Caconde, onde houve treinamentos com a presença do atleta olímpico Frederico Flecha. Este início de pré-temporada está muito bom e esperamos um grande ano no judô local.

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