domingo, 30 de abril de 2017

Trabalhadores-atletas: superação e sobrevivência

Poços de Caldas, MG - Treinar várias horas por dia, correr distâncias impensadas para qualquer ser humano comum, ganhar campeonatos, medalhas, reconhecimento. Estamos falando de um atleta profissional, que ganha a vida apenas com seu talento esportivo, correto? Nada disso. Estamos falando de Adilson José Ligeirinho, ou simplesmente Ligeirinho, apelido que ganhou graças ao personagem de desenho da Warner Bros retratando um ratinho super veloz. Mas o nosso Ligeirinho de Poços de Caldas está longe de viver apenas do esporte e entre os treinos diários precisa batalhar pelo ganha pão e sustento da família. Funcionário de muitos anos da Loja da Borracha, o atleta conta um pouco de sua rotina diária, o que o torna ainda mais um super atleta.

Quatro da matina

Os treinos de Ligeirinho começam por volta das quatro da manhã. Depois de se levantar e tomar um café reforçado ele começa os treinos. O próprio percurso de sua casa ao trabalho já faz parte da programação de treino. A atividade é dificultada devido ao fato dele levar uma pesada mochila nas costas, com roupas para trocar, e alimentação, que é feita no próprio trabalho para que ele não precise voltar para a casa na hora do almoço. “Estou num nível de competição igual aos atletas profissionais e por isto preciso manter a qualidade dos treinos”, fala Ligeirinho, que tem outro fator que joga contra, a idade. Aos 49 anos ele já não é mais garoto e toda a atividade precisa ser planejada com muito cuidado. “Estou nesta vida há muito tempo e isto não vai mudar. Amo o esporte, amo as competições, mas não tem como viver apenas dele. Tenho família e preciso trabalhar para manter um padrão para eles e por isto é necessário ter outra atividade”, falou Ligeirinho, que trabalha das 8h às 18h na Casa da Borracha. Desta forma os treinos acontecem sempre no início das madrugadas e na parte de noite. Sobra tempo ainda, depois que chega em casa, para fazer musculação e em outros dias ainda pedala. A rotina é desgastante, não é para qualquer pessoa, mas Ligeirinho não pensa nunca em parar. “Não passa pela minha cabeça e enquanto tiver saúde vou manter o foco no esporte e no trabalho. Quando se faz o que se gosta não se vê como obstáculos, mas sim desafios a serem batidos”, finalizou Ligeirinho.

Do comércio para as montanhas

Luiz Lotti Netto, o Gijo, é outro que nunca se acomodou e a falta de apoio não é obstáculo para a prática de sua paixão, o mountain bike. O comerciante tem uma loja de conserto e venda de bicicletas no centro da cidade, além de uma coleção de troféus conquistados em montanhas de quase todo o Brasil. “É assim mesmo, a gente precisa trabalhar no dia a dia, levantar um dinheiro para a sobrevivência, mas isto não impede de literalmente corrermos atrás dos sonhos, buscar desafios e, por que não, trazer sempre um troféu ou uma medalha para Poços de Caldas”, conta Gijo, que tem no currículo títulos brasileiros e internacionais, além de aventuras nas cordilheiras da América do Sul. “Me vejo como um super atleta exatamente pelo fato de não ter como  viver apenas do esporte. Todos os competidores que consigo vencer vivem apenas do esporte, descansam, fazem atividades de recuperação, massagens. E eu não. Treino das 11h às 14h e já entro na loja e fico enquanto tem cliente”, falou Gijo. Mas os resultados realmente mostram que ele é um fenômeno e mesmo depois dos 50 anos consegue importantes vitórias. Neste ano ele venceu uma etapa da Copa Internacional e se prepara para a segunda etapa em junho.


Atleta é seu próprio patrocinador

Dono da Hard Rock Bike, Gijo é seu próprio patrocinador. “Claro que aparecem alguns incentivadores e no meu caso tenho o Hotel Nacional, que é um grande parceiro. Mas também tenho que colocar dinheiro e aí entra minha própria loja. É uma pena porque é um dinheiro que eu poderia estar patrocinando uma criança ou outro atleta, mas tenho que usar o recurso que entra para me patrocinar e buscar disputar os campeonatos”, conta Gijo. O apoio para terceiros fica na mão de obra que ele consegue fazer consertando bicicletas de alguns atletas da cidade.

Cenário não muda

Gijo fala que não espera mudanças neste cenário e lamenta a falta de apoio ao esporte de forma geral no Brasil. “Infelizmente, não vejo uma melhora neste quadro, acho muito difícil alguma mudança no Brasil. Falta mais interesse, projetos e até mesmo vontade política para melhorar. No meu caso não estou num grande centro como São Paulo e esta busca por grande apoio fica ainda mais difícil. Então é batalhar por conta própria, ter saúde para manter a forte rotina e ir aos campeonatos, porque isto não pode parar”, finalizou Gijo, que neste final de semana está em alguma montanha do nosso Brasil buscando a superação como sempre fez em toda sua vida.

 Professor atleta

Lucas dos Santos tem duas atividades fora do esporte. Ele trabalha no comércio como auxiliar administrativo e também é professor no curso técnico em Logística do Colégio Polivalente. Nos momentos de folga, Santos pratica atletismo e há dois anos começou a treinar e competir. “Comecei na corrida tarde, mas isto não foi motivo para não me destacar no esporte. Estou muito feliz com  meu desempenho e, claro, como não sou profissional tanto fazer o melhor possível”, fala. “Para manter meu desempenho e representar Poços em toda região, treino seis vezes por semana”, falou o professor atleta que treina normalmente de domingo a sexta-feira e descansa sábado.
Santos acorda às 5h da manhã para treinar.  “Tenho que levantar cedo para dar tempo de entrar no meu trabalho. Às 8h ele já está trabalhando e segue até ás 18h. “Três vezes na semana faço fortalecimento [musculação] e devido à “correria” do meu dia, faço academia no meu horário de almoço”, falou. As aulas no Polivalente acontecem às  terças e quintas-feiras. “O importante é manter o foco, ter disciplina e determinação. Não é fácil manter no esporte e ainda ter que trabalhar. Mas é muito gratificante poder se superar a cada dia e ainda ser exemplo para muita gente. Recentemente, consegui alguns apoios para me manter no esporte. É essencial, além da rotina dos treinos, uma boa alimentação e também descansar corretamente”, falou o professor atleta.
Além destas rotinas durante o dia, Santos faz treinos regenerativos e educativos durante a semana, às segundas e quartas-feiras
Ele se prepara agora para participar da Olimpíadas dos Trabalhadores representando o Max Chaveiro, empresa em que trabalha no Administrativo.
“Os treinos da manhã são de corridas mesmo. Treinos de resistência, ritmo, velocidade etc. Já participei de Meias Maratonas em São Paulo, sempre mantendo uma rotina de trabalho e treino, e graças a Deus, sempre saí bem” finalizou Santos.

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