Delma Maiochi - A primeira década de 1900 foi marcada, entre tantos eventos, pelo vôo do 14-bis de Santos Dumont, pelo início da mineração de zircônio em Caldas e Águas da Prata e pela criação da prefeitura de Poços. A chegada do futebol na estância sulfurosa também é comemorada nesta década, mais especificamente em 1904, quando foi fundado o Foot-ball Club. A atividade esportiva apareceu no Brasil trazida por um grupo de ingleses que morava em São Paulo. Um dos fundadores do Foot-ball Club, Paulino de Souza, estudante de medicina, trouxe de São Paulo, meses antes, uma bola de futebol, até então objeto desconhecido dos moradores da vila. Porém, o primeiro campeonato local só foi disputado em 1920, dois anos após a morte de Paulino, vítima da gripe espanhola.
Polêmica - A fundação da Caldense ocorreu em 3 de abril de 1926, conforme esclarecem a ata da Assembléia Geral e a edição do jornal A Folha de 21 de abril de 1927. Outro esclarecimento feito recentemente por pesquisadores dá conta de que a fusão ocorrida em 1928 não foi com o Internacional Futebol Clube, mas sim com o Gambrinus Futebol Clube. Foi neste ano que o presidente João Porfírio Bueno Brandão resolveu antecipar para o dia 7 de setembro de 1925 a data de fundação da Caldense, com a justificativa de ser uma importante data cívica e coincidir com o feriado nacional. Somente em 1943, quando João Coelho da Silva presidia o clube, é que esta data foi oficializada pelo Conselho Deliberativo, criado naquele ano.
Gambrinus
O time poços-caldense já havia sido criado, mas o grêmio social e esportivo Associação Atlética Caldense passou a existir após uma reunião em 3 de abril de 1926, quando houve a fusão com o Gambrinus Futebol Clube. Dessa reunião saiu a primeira diretoria eleita, constituída pelo presidente honorário capitão Afonso Junqueira, presidente Fosco Pardini, vice Ulpiano César Mine, tesoureiro João de Moura Gavião, primeiro secretário Cherubim Borelli, segundo secretário Lourenço Batiston, orador oficial Hugo Sarmento, cobrador Arthur Cherchiai.
Internacional
Conforme matéria de Alfeo Gentili, no jornal O Idealista, de 7 de setembro de 1964, o Internacional era um time dominador, soberano, impetuoso, dono absoluto de sua posição. Ostentava as cores vermelha e preta e seus mentores eram Astolphinho, Eliglio e João Gavião, dirigidos por Afonso Junqueira. O presidente era Nico Duarte e o secretário, Fosco Pardini. A sede do clube, os fundos do bar do Mendonça. O Internacional contava com uma enorme e entusiasta torcida, mas as dificuldades de manter o time funcionando eram enormes. “A luta para se conseguir algo para o futebol era áspera, ingrata, desumana, difícil”, dizia a jornalista Gentili em seu artigo. Ele conta que a diretoria do Internacional resolveu construir uma praça de esportes. Sugestões, planos, idéias, tudo foi discutido em cima das mesas do bar do Mendonça, e também as maneiras de arrecadar os recursos para o projeto. Seriam necessários 70 contos de réis. Foi resolvido que se faria uma grande quermesse no futuro local da praça de esportes (onde atualmente é o Palace Casino), com barracas com as cores de diversos clubes esportivos, luta greco-romana (com a presença do lutador Rocchetti, o ídolo da época), pau-de-sebo, corridas de sacos, futebol, sessão de cinema no Politeama, a presença do célebre ilusionista Dr. J. Duarte (que apresentou um número de ser enterrado vivo), balões manipulados por Guilherme Schifer, apresentação da banda Biju, do major Trindade e com a presença do prefeito Lourenço Baeta Neves, para cortar as fitas simbólicas. Foram convidados os times de São João da Boa Vista (os tigrinhos da Mogiana), Casa Branca, Cascavel e Mogi Mirim para realizar competições de futebol nos dias de quermesse. Para enfrentá-los o Internacional contava com Mine, Ricardo, Bisdé, Felício, Ari, Octávio, Lourenço, Atílio, Matias, Vitúrcio e Maia. A entrada para os jogos, que dava direito de permanecer no recinto da quermesse, custava 600 réis. Mas, nem tudo correu como pensavam os integrantes do Internacional e o saldo financeiro do projeto foi de apenas 17 contos de réis. O naufrágio do sonho de construção da praça de esportes e outros acontecimentos precipitaram o desaparecimento do time em 1925.
Sedes provisórias
Várias outras agremiações foram surgindo, motivando a juventude poços-caldense, mas desapareceram logo depois. Alguns remanescentes dessas equipes se uniram e criaram a Associação Atlética Caldense. A sede provisória do time era na Photographia Selecta, na avenida Francisco Salles, perto do hotel Lafaiete. No dia 16 de novembro de 1925, João de Moura Gavião e mais alguns jovens esportistas elegeram a primeira diretoria, que ficou assim constituída: presidente João de Moura Gavião, vice-presidente professor Hugo Sarmento, primeiro secretário Romeu Chiacchio, segundo secretário Cherubim Borelli, tesoureiro Caetano Pereira, procurador Flamínio Maurício, diretor esportivo Octávio Mantovani. A comissão de sindicância ficou composta por João de Oliveira Carmo, Antonio Ricci Junior, Domingos Lamberti, Victor Fortunato e Adolfo Guetti.
Outras sedes provisórias abrigaram a agremiação. Por pouco tempo ela ficou no palacete Cobra, na praça Pedro Sanches. De 1938 a 1942, no cassino Gibimba, de 1942 a 1959, no Politeama, teatro que foi demolido, na avenida Francisco Salles, em 1959, no andar térreo do edifício Bauxita, conjunto A, de 1960 a 1962, no edifício Imperial, e finalmente, a partir de dezembro de 1962, junto ao estádio Cristiano Osório.
Dificuldades
A recém-criada associação provocou um forte entusiasmo na mocidade poços-caldense e, mesmo com as dificuldades iniciais, o clube trabalhou com afinco para que a Caldense possuísse o melhor plantel da cidade. Apesar de perder para o campeão local, o Cruz Vermelha, em dezembro de 1925, por 3 a 2 (uma chuva impertinente estragou o espetáculo), os jogadores não desanimaram e no ano seguinte, depois de encontros amistosos com times de cidades vizinhas, consagraram a equipe nos meios esportivos regionais. O falecimento do fundador João de Moura, em 1927, trouxe luto e desânimo para a associação, que passou algum tempo sem atividades. Aos poucos, porém, os integrantes retornaram ao ritmo.
Procópio
No início o clube não possuía sede e campo próprios. Existia na cidade o campo do Internacional Futebol Clube, sem grama e de chão escuro, no atual jardim da fonte luminosa (parque José Affonso Junqueira), onde, não havendo arquibancada nem gramado, os torcedores ficavam em pé.
Mas, antes mesmo da fundação do time os jogadores tinham escolhido o terreno do chalé Procópio para suas práticas esportivas de domingo. A partir de 1926 a diretoria deu os primeiros passos para adquirir a área do coronel Cristiano Osório de Oliveira, na época um grande brejo onde os meninos iam caçar rãs. Em 1929, uma comissão chefiada por Carlos Pinheiro Chagas foi a São João da Boa Vista pedir ao coronel Osório a cessão do imóvel. O terreno foi então drenado e cercado com madeira e nos anos de 1930 abrigava uma rústica arquibancada. Em 1947, a diretoria, com o presidente José Anacleto Pereira, conseguiu um comodato da família Osório, por um prazo de 20 anos, para a instalação do clube.
Cristiano Osório
Durante a presidência do Dr. Antonio Megale, em 1962, houve a doação definitiva, por Cristiano Osório, e a Caldense tornou-se proprietária do terreno que compreendia o campo de futebol e as demais dependências esportivas. A transação foi efetuada pelo prefeito Dr. David Benedito Ottoni, com aprovação da Câmara Municipal. Em troca, Cristiano Osório ganharia o arruamento da chácara Osório.
Melhorias
Com a posse do imóvel, muitas melhorias puderam ser feitas, como a construção das piscinas, da sede social, dos ginásios, saunas, entre outras. Com a inauguração do estádio municipal, em 1979, o campo de futebol da Caldense foi desativado e em seu lugar foram construídas duas quadras de tênis e de peteca, um parque infantil, uma nova piscina e a sede ganhou novas reformas. Uma área foi adquirida, na saída da cidade, denominada Ninho dos Periquitos, onde os atletas do time profissional pudessem treinar e se preparar para os jogos. Outros presidentes, mais recentemente, ampliaram as instalações e proporcionaram outros melhoramentos para os sócios, com construção de quiosques, piscina aquecida, biblioteca.
Campeã
Entre 1960 e 1961, o futebol da Veterana ficou famoso nos meios esportivos pela campanha das 57 partidas invictas, o que proporcionou uma onda de entusiasmo entre os associados e moradores da cidade. Muitos anos depois, em 2002, os torcedores puderam comemorar o maior título da história do clube, o de campeão mineiro de futebol.
(Fontes dessa matéria: Memórias Históricas de Poços de Caldas, de Nilza Botelho Megale – Associação Atlética Caldense: Histórias e Glórias, de Hugo Pontes – jornais antigos)
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