sábado, 13 de janeiro de 2018

Poços-caldense faz sucesso jogando handebol em Portugal

Poços de Caldas, MG - Vando da Silva Neto começou a jogar handebol em Poços de Caldas, disputando competições escolares e hoje se destaca jogando em Portugal. O jovem conquistou o título português da segunda divisão na temporada 2016/2017 e se prepara para a próxima, que tem início em um mês. O Mantiqueira conversou com o atleta, que tem contrato de três anos com a equipe portuguesa. Entre os grandes desafios de estar numa liga importante da Europa ele sente a distância da família.

Mantiqueira - Como foi seu início no handebol?
Vando da Silva Neto - Comecei jogando em Poços de Caldas, defendendo o Cepoc. As competições escolares são onde a maioria dos meninos começa. No Cepoc, tentei jogar futebol, mas o professor Aécio disse que eu levava mais jeito com o handebol e resolvi seguir os conselhos dele e tentar a sorte nesta modalidade. Comecei a jogar e a gostar do handebol e daí em diante não parei. Fui para a seleção de Poços de Caldas e o gosto pelo esporte só aumentou. Sou muito grato ao professor João Ricardo, o Kadão, que me orientou diariamente nos treinos de handebol e fui crescendo no esporte. Depois vieram as competições, fui melhorando tecnicamente, me destacando. Era mais complicado porque eu era dois anos mais novo que os atletas da categoria. Tinha de 12 para 13 anos e disputava os campeonatos sub-15. Usei este período como um grande aprendizado até que aos 16 anos já estava na seleção adulta de Poços. Vieram competições, fomos vencendo a maioria e nossa seleção virou uma referência no interior de Minas Gerais. Jogando por Poços de Caldas tive a felicidade de ser campeão em quase tudo que disputamos e esta época ficará marcada para sempre. Foram conquistas, amigos, amizades, histórias marcantes de um início de carreira maravilhoso. Mesmo hoje longe de Poços de Caldas tenho contato com todos os companheiros e somos uma grande família. Nesta minha estada em Poços de Caldas de férias já fui até o ginásio e treinei com eles e foi emocionante. Nunca esqueci de ninguém e são parceiros para o resto da vida.

Mantiqueira - Você tem alguma competição que disputou que é mais especial?
Vando da Silva Neto - Disputei muitos campeonatos importantes. Joguei Jogos da Juventude, Lidarp, Jojuninho, competições locais, Campeonato Brasileiro, Campeonato Mineiro, agora estou jogando o Campeonato Europeu e posso dizer que todas são importantes e especiais. Defendendo o Futebol Clube de Gaia, enfrentamos o Estrela Bucareste da Romênia, acabei de me sagrar campeão nacional de Portugal. Estamos a dois pontos de chegar à primeira divisão portuguesa, só depende de nós, enfim, sempre que entro em quadra é um momento especial.

Mantiqueira - Até onde você deseja chegar?
Vando da Silva Neto - Tenho contrato de três anos com o Futebol Clube de Gaia e desejo cumprir até o fim. Não sei o que pode acontecer no futuro, se mudarei de clube, se continuarei aqui, mas como todo atleta o sonho é sempre defender a seleção brasileira e espero que isto aconteça em algum momento de minha carreira. Independente do que vier me sinto um vencedor. Ouvi de muitas pessoas que não daria certo, que não tinha perfil vencedor, mas não guardo mágoa disso. Olhando para tudo que fiz posso dizer que venci e agora é esperar o que o futuro me reserva. Quero mais, não acho que está bom e vou atrás das oportunidades e quando elas aparecerem vou agarrar da melhor forma possível.

Mantiqueira - Como você vê as diferenças de estrutura entre Brasil e Europa?
Vando da Silva Neto – Indiscutivelmente, e infelizmente, a diferença é muito grande. Hoje treino num clube que tem um planejamento, treino cinco vezes na semana, temos academia própria, ginásio próprio, fisioterapeuta, acompanhamento médico, nutricionistas, enfim, tudo que precisamos para praticar um esporte de qualidade. Temos estudo bancado pelo clube, já aqui falta tudo isto e um pouco mais. Falta uma atenção com o atleta que tem que bancar tudo para seguir jogando. Certamente se estivesse aqui teria que bancar custos com musculação, correr atrás dos patrocinadores, o que não é nada fácil, e, assim como em todo o Brasil, Poços de Caldas deixa a desejar também. Aqui temos muitas pessoas que tentam passar por cima disso, como o professor João Ricardo, que disponibiliza seu espaço para seus atletas, mas faltam mais pessoas com pensamentos assim. Quando estava em Poços tivemos treinos cancelados por falta de quadras. Quando tinha a quadra ela não dava condições para atividades por maus cuidados. O esporte sempre está em segundo plano. Em Portugal o esporte e os atletas estão em primeiro plano sempre e isto é a diferença.

Mantiqueira - Como é o clube que você defende hoje?
Vando da Silva Neto - Fui muito bem recebido e hoje o Futebol Clube de Gaia é minha segunda casa. Todos muito atenciosos, desde o porteiro, atletas, treinadores, dirigentes, enfim, muito respeito com todos. A estrutura é fantástica num clube que está perto de completar 110 anos, tem muita história e tradição e é muito querido em Portugal. Acredito que nosso clube hoje não fica devendo em nada para as grandes forças da Europa, tem os pés no chão e tem tudo para ir muito longe.

Mantiqueira - Você acredita que estando na Europa é mais fácil chegar à seleção brasileira?
Vando da Silva Neto - Lá é mais fácil de ser visto, já que os principais atletas de todo o mundo jogam por lá. É meu sonho, como não poderia ser diferente, e depende só de mim este sonho ser realizado. Preciso trabalhar muito para chegar lá e acredito que estamos perto. Não sei se eles estão de olho, mas acredito que o treinador da seleção Washington Nunes observa tudo e certamente temos bons talentos aqui para ajudar o time. Quem sabe ele não me vê e não me dá uma chance.

Mantiqueira - Como você lida com a distância da família?
Vando da Silva Neto - É a parte mais complicada. Conto com o total apoio de minha mãe Selma, meu pai Vando, dos amigos, mas realmente pesa muito estar longe deles.

Mantiqueira - Esta saudade pode antecipar uma volta sua a Poços de Caldas?
Vando da Silva Neto - Propostas para voltar a gente sempre tem, mas tudo na vida tem que ser feito com a cabeça no lugar, conversas, pesar todos os fatores. A saudade da família e a dificuldade que a distância impõe são grandes, mas penso realmente em cumprir meu contrato de três anos, restam dois, já que estou num clube que me abriu portas, não mediu esforços ao me contratar e quero retribuir tudo que fizeram por mim. Investiram em mim, acreditaram e não quero decepcioná-los. Se tiver que sair que seja bom para os dois lados.

Mantiqueira - Como o Esporte Clube Gaia te achou aqui em Poços?
Vando da Silva Neto - Na realidade fui de férias a Portugal com meu pai, fui conhecer o clube. Ali acabei fazendo um teste e agradei os professores que me convidaram a jogar pelo time. Foi complicado porque já tinham fechado as inscrições de estrangeiros e tive que ficar os primeiros seis meses apenas treinando. Era difícil porque treinava e na hora do jogo não podia entrar em quadra. Mesmo assim ia a todos os jogos, incentivava e me sentia parte da equipe. Hoje sou um deles com muito orgulho e faço parte da força e raça gaiense. Tudo isto aconteceu graças ao professor Kadão, que me formou, meus pais e todos que acreditaram no meu potencial e por me mostrarem que os sonhos, por mais difíceis que possam parecer, podem ser realizados.

Mantiqueira - Neste período em Portugal qual o momento mais marcante?
Vando da Silva Neto - Certamente a final do Campeonato Nacional da Segunda Divisão. Fizemos uma primeira fase muito boa, caímos um pouco na segunda fase e nos classificamos em quarto. Depois, fizemos uma parte final quase impecável e conseguimos a classificação para a decisão em jogos bem difíceis e com emoções à flor da pele. Chegamos à final contra o Vitória de Setúbal. Perdemos o primeiro jogo por um gol de diferença num ambiente fantástico na final. Eles tinham torcida organizada e ginásio lotado, mas conseguimos perder com uma diferença pequena. Fomos jogar em casa e nossa torcida deu um show de amor ao clube. O ginásio completamente cheio nos empurrou o tempo todo e com isto vencemos por três gols de diferença. Foi uma linda festa e a maior emoção que vivi até agora jogando em Portugal.

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