segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Um kartódromo por um parquinho?

Flávio de Matos Peres

Duas notícias chamaram muito a atenção durante a semana: a intenção de transformar o kartódromo em uma espécie de parquinho de lazer para os moradores daquele belo e próspero bairro, e o lançamento – pela administração municipal – de edital para propostas da iniciativa privada de sete pontos turísticos de Poços de Caldas (há quem diga oito, porém, não entendi bem se o barranco da rampa do paraglider está na conta). Curiosamente, o kartódromo não está em tal lista, conquanto possa ser arrendado, tornando-se, por exemplo, mais uma atração para os turistas na cidade ter o que fazer (existem firmas que alugam um tipo de kart específico para diversão, por tempo ou pequenas corridas). De qualquer maneira, democraticamente, os agentes municipais parecem deixar claro que ainda não é o momento da licitação em si, e que estão abertos a sugestões.

Poços de Caldas, nos tempos áureos dos cassinos, recebeu corridas de carro e nomes de extrema importância para o automobilismo internacional, como, por exemplo, o pentacampeão mundial de F1 Juan Manuel Fangio e aquele que Emerson Fittipaldi chama de o “Pai do Automobilismo Nacional”: Chico Landi. Andamos para trás, em nossa expressão turística, e, salvo engano, pela dificuldade de tratar o turismo sem os cassinos, perdemos o protagonismo no interior do Sudeste para Campos do Jordão. Continuamos andando para trás, quando perdemos a atração do trem turístico e abdicamos do carnaval dos jovens – que vão para outras cidades e deixam o dinheiro lá. Agora, parecem querer encolher mais, perder mais dinheiro, e nos deixar sem o kartódromo. É muito grande o investimento para construir um kartódromo como o nosso, e, destruí-lo não significa apenas perder boas oportunidades de lazer, turismo e visibilidade no cenário nacional. Perguntem a Uberlândia, que está gastando muito para reconstruir o seu. Ou observem o pessoal do “Pé na Tábua”, em Itu, que todo ano faz um encontro de calhambeques em seu kartódromo, com a presença de Nélson Piquet e algum de seus filhos pilotos.

Temos, provavelmente, o kartódromo mais desafiador e seletivo do país, com mergulhos, pequenas subidas, uma curva parabólica inclinada, cotovelo inclinado. Geralmente são planos e não têm a metade da graça do nosso. Gente que não entende de kart andou falando coisas sem sentido, como que o acesso e o retorno aos boxes não seria adequado, o que, perdoem-me não faz sentido e é mesmo opinião de quem não sabe como um kart funciona e a logística de apoio nos boxes durante uma corrida. Mas, vamos lá, se querem privatizar, podem arrendá-lo. O Rental Kart é um negócio consagrado no país: alugam karts específicos e mais seguros para turmas brincarem e participarem de pequenas corridas. Conheçam em São Paulo o Speed Land, em Paulínia, o Kartódromo Internacional San Marino, em Belo Horizonte, o RBC racing, todos funcionando em pleno vapor, mesmo que nenhuma das três mencionadas cidades sejam turísticas e precisem de atrações. O competente setor pode ajudá-los a formular uma modalidade de licitação própria e adequada para o caso, já que, em um primeiro momento, não constaram do atual edital para propostas da iniciativa privada. Mas vamos voltar a andar para frente, respeitar o legado que nos deixaram. Não podemos confiar somente no “turismo de bem-estar”, sendo necessário oferecer atividades para quem vem nos visitar.

Flávio de Matos Peres é advogado

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