domingo, 27 de março de 2011

André Luiz: do jogo de botão às grandes emissoras

A locução esportiva no rádio sempre foi cercada de grande fascínio e é uma das mídias mais difíceis. O profissional precisa passar para o ouvinte exatamente o que está acontecendo numa partida de futebol ou em qualquer outro evento com precisão exata, para que ele “veja” através da descrição.
A narração de futebol é um celeiro de grandes craques desta profissão. Nomes como Fiori Gigliotti, Osmar Santos, Nilson César, entre outros, criaram uma legião de fãs por todo o Brasil. Quem não se lembra de bordões como “pimba na gorduchinha” ou “abrem se as cortinas e começa o espetáculo". Para uma geração um pouco mais antiga são expressões que fizeram do rádio esportivo brasileiro seu companheiro das tardes de domingo.
Nos tempos atuais, em que o rádio precisa brigar pelo espaço com a televisão, que comanda os rumos do nosso futebol, e a internet, com transmissões em tempo real de quase todos os eventos, o locutor esportivo começa a ser mais dinâmico, fazendo muitas vezes o papel de comentarista. Em Poços de Caldas, nas últimas temporadas, André Luiz Juliano, da Rádio Difusora, vem se destacando exatamente por seguir esta linha mais moderna de narração. Dinâmico e com uma voz bastante potente, André, ao mesmo tempo em que narra a partida com eficiência, é capaz de comentários corajosos. No jogo entre Caldense e Democrata, em Governador Valadares, por exemplo, um membro de sua equipe disse que a Caldense estava jogando um futebol parecido com as equipes amadoras de Poços de Caldas. André não perdeu tempo e, em seguida, disse: “Não exagera, Paulo Sérgio. Não podemos ofender o nosso futebol amador, que é capaz de jogos muito melhores do que este que estamos presenciando em Governador Valadares".
O gosto de André Luiz pela locução esportiva começou já garoto, narrando jogos de futebol de botão. Ele mesmo organizava seus campeonatos, com tabela, regras, arbitragem, enfim, tudo que um jogo de futebol exige. “Quando a partida começava eu narrava o jogo como se ele estivesse sendo transmitido por uma rádio de Mogi Mirim, minha cidade natal”, contou André. E assim nasceu o locutor. Sua primeira chance, no entanto, como profissional da comunicação esportiva veio em 1980 na Rádio Cultura de Mogi Mirim. O início de André no rádio se deu no mesmo ano em que o Mogi reativou seu futebol profissional, que estava parado desde 1972. “O convite inicial para trabalhar as partidas do Mogi foi para meu falecido pai, convidado para formar a equipe esportiva da rádio. Meu pai na época não aceitou o convite, mas sugeriu que meu nome fosse aceito em seu lugar”, disse André. A vontade de seu pai acabou aceita e André, mesmo sem experiência alguma, começou a exercer esta função e se destacando, para surpresa de todos na época.
A primeira partida narrada por André aconteceu na cidade de Porto Ferreira naquele mesmo ano contra o Palmeirinha daquela cidade. “Na época não tínhamos as facilidades do tempo de hoje e a verdade é que nem sabíamos se o que estávamos transmitindo estava sendo realmente indo para o ar naquele momento. Neste jogo, por exemplo, apenas depois que chegamos de volta a Mogi Mirim é que ficamos sabendo que apenas o segundo tempo foi transmitido na cidade”, lembrou.
O locutor foi se aperfeiçoando com o passar do tempo e fez da pesquisa seu principal caminho para crescer na profissão. Leitura de noticiários esportivos e ouvir jogos e mais jogos em rádio passou a ser um cotidiano em sua vida. André se tornou nome forte do rádio de Mogi Mirim, onde atuou até 1986.
André mudou de rádio, passou para a Alvorada, e levou consigo Eduardo Pinheiro, que era plantonista da rádio Jovem Pan. Foi Eduardo que acabou proporcionando a primeira grande chance de André de integrar uma rádio grande do Brasil. “Sem meu conhecimento ele gravou uma fita com minhas narrações e enviou para a Jovem Pan”, disse ele, que acabou recusando um convite para trabalhar na emissora paulista. “Eu era muito novo, não tinha muita noção do meu trabalho, o qual fazia com naturalidade e por isto não via aquilo como um profissão. Não aceitei o convite”, completou. André, no entanto, pouco mais tarde, se transferiu para Campinas e acabou vivendo uma grande fase nas transmissões esportivas daquele importante cidade do interior paulista, recebendo prêmios e mais prêmios como melhor locutor esportivo do interior paulista. A carreira de André foi crescendo e ele já estava fazendo parte da equipe de Antônio Edson, em Jundiaí, onde cobriu várias temporadas. De volta a Campinas, passou a trabalhar na Rádio Cultura daquela cidade, emissora que mais tarde se filiou à CBN. Foi nesta época que André conheceu o Brasil de ponta a ponta, transmitindo partidas de futebol, basquetebol e até Fórmula 1. “Foi um período de ouro quando pude ver de perto o auge do vôlei brasileiro”, contou. Depois André trabalhou na Rádio Bandeirantes de Campinas e Gazeta, estreando para transmitir jogos da Copa São Paulo do ano de 1995. Com fama de revelar grandes talentos como Luiz Roberto De Múcio e Galvão Bueno, hoje profissionais gabaritados da TV Globo, a Gazeta durante alguns anos foi a casa de André Luiz.
O primeiro contato de André com Poços de Caldas foi em 1993, quando recebeu um convite para transmitir uma partida do Campeonato Mineiro durante uma de suas folgas. A partir daí os convites foram aumentando para fazer jogos na cidade. “Teve uma hora que eu disse que se fosse para vir para cá que fosse definitivo. A vida de viagens já estava cansativa e eu queria um outro rumo em minha vida”, disse ele. "E assim surgiu o convite da Rádio Cultura e adotei Poços de Caldas como minha segunda cidade”. Lá se vão 16 anos desde o primeiro trabalho em Poços de Caldas, onde ele trabalhou duas nas principais rádios locais.
Com Chico de Assis, na Cultura, foram 15 anos de trabalho, ficou dois anos parado até acertar com a Difusora nas últimas duas temporadas.
“Confesso que tive várias propostas para deixar Poços de Caldas, mas a cidade me conquistou e acredito que dificilmente saio daqui. Adotei Poços de Caldas como minha cidade”, disse André, que se diz avesso a cidades centros.
Com o final do Módulo II e a proximidade também do Módulo I do Campeonato Mineiro, André Luiz e sua equipe da Rádio Difusora pegam novamente a estrada, cobrindo os jogos do Campeonato Brasileiro e da Taça Libertadores do América, entre outras. “Tenho muito que agradecer a todos em Poços de Caldas, cidade onde fui muito bem recebido, conquistei uma legião de ouvintes fiéis e isto é muito gratificante”, completou. André não pensa em aposentadoria tão cedo. “Vou tocando minha vida, fazendo um jogo aqui, outro ali, até que apareça uma nova relação. Isto é o ciclo da vida. Um dia eu tive minha oportunidade e sei que num outro dia vai aparecer alguém para assumir meu lugar. Até lá espero continuar meu trabalho da forma mais transparente possível”, disse.
André analisou a temporada do futebol profissional de Poços de Caldas. Para o narrador, a pré-temporada que a Caldense fez não valeu nada quando o campeonato começou para valer. “Depois que o Catanoce deixou o comando é que, com outros jogadores, o time está se ajustando na competição”, disse ele, que ressaltou que a chegada de Roberto Fonseca e as novas contratações deram um novo ânimo ao grupo da Veterana.
André acredita que o time no momento atual briga por uma vaga no Brasileiro da série D e vê longe qualquer chance de se classificar para a semifinal do Campeonato Mineiro. A fraca campanha do Vulcão na segunda divisão do Mineiro, segundo André, foi pela falta de estrutura necessária que um time de futebol precisa para se manter. “Entendo que houve luta, sacrifício por parte dos dirigentes, mas esbarrou em parcerias que não deram certo e o time quase caiu para a terceira divisão. Vejo o fato de não ter sido rebaixado um grande feito para o Vulcão, que agora terá a chance de se reerguer nos próximos campeonatos”, analisa. “Eles terão que parar, pensar, repensar, estruturar, para dar novos rumos ao time de futebol”, completou.
“Ainda tenho muito o que fazer pelo rádio esportivo e para isso conto com parceiros que sempre estiveram ao meu lado. Quero aproveitar a oportunidade para agradecer toda a aceitação que tive por parte dos ouvintes de Poços de Caldas, agradeço à Rádio Cultura pela oportunidade que me deu durante os 16 anos que passei lá e aos meus colegas da equipe da Difusora”, finalizou André Luiz. A equipe de esportes da Difusora, além de André, conta com o experiente Paulo Roberto como comentarista, Paulo Sérgio e Mateus Monteiro com repórteres de campo, Valdir Marques, também comentarista esportivo, e Evandro Rodrigues, plantão esportivo.

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