TEXTO DE WALACE LARA - Na minha infância, em Rio Claro, interior de São Paulo, ficava às vezes, até tarde, assistindo aos jogos do Campeonato Paulista de Basquete na televisão. Não me lembro o canal que transmitia. Mas via, por imagens às vezes riscadas pela antena lá de casa, jogadas inacreditáveis feitas por exemplo, por Ubiratan, Maury, Guerrinha, Marcel, Oscar, entre outros. Torcia para o Monte Líbano, que fazia jogos fantásticos contra o Sírio. Os dois times eram a base da seleção brasileira.
Agora entendo bem o motivo de tanta rivalidade. Os dois clubes ficam na zona sul de São Paulo, em bairros diferentes(Ibirapuera e Planalto Paulista), separados por cerca de seis quarteirões. Dois anos atrás, coloquei o meu filho, na escolinha de basquete do Sírio. Fiquei arrepiado ao entrar no ginásio - que nas minhas lembranças era bem maior - principalmente depois de ver os nomes dos jogadores eternizados em placas com os números das camisas.
É curioso como a rivalidade entre os dois clubes, que já não possuem basquete profissional, foi parar na história. Só entendo, partindo do princípio de que isso está relacionado a pequena distância entre as duas sedes. Hoje em Poços de Caldas, quando a bola for lançada ao alto no ginásio de esportes da A.A.Caldense, acredito que o basquete da cidade estará dando um passo semelhante ao que foi dado no passado pelos dois clubes paulistas. O início do Campeonato Regional de Basquete(CRB) marca um novo tempo na modalidade na região.
A ideia dos organizadores de disseminar o esporte por alguns bairros, pode finalmente, nos colocar em um patamar diferente. E nada melhor do que alimentar a rivalidade entre algumas regiões. Adorei o nome dados aos times, com inspiração na NBA: Cascata Dreams, Bk Team, Fratres in Ludo ou Warrior Eagles. Desse jeito acho que o CRB vai acabar sendo apelidado de NBPoços (Novo Basquete de Poços). Só senti falta de outros bairros. Já pensou se no futuro tivermos clássicos como os Saints da Vila Cruz x Giants do Country Club. Não seria demais?
Sempre achei que confinar o basquete apenas nos clubes era um erro. Nos Estados Unidos tive a certeza de que para termos times competitivos temos que dar condições para o basquete semelhantes ao do futebol. Em Boston, por exemplo, bem ao lado do berço do basquetebol (Springfield) vi num parque um time de beisebol de adolescentes treinando bem ao lado de uma quadra onde outros garotos faziam rachas de basquete. Cheguei a lembrar do nosso parque municipal (a única diferença era a qualidade da quadra). O próprio técnico da seleção brasileira, Rubén Pablo Magnano, já chegou a falar sobre isso - que para termos boas seleções precisamos de campeonatos competitivos, semelhantes aos do futebol.
A lógica é simples: se um bom campeonato amador de futebol pode gerar craques, um bom campeonato amador de basquete também pode ter o mesmo efeito. O CRB começa com muita seriedade. Regras claras, que tem que ser seguidas (você sabia que um time por exemplo, que não cumpriu todos os pedidos, foi barrado?).
Sei que a maioria pode pensar: mas basquete? Gosto mais de futebol.Eu também adoro futebol. E é aí que muita gente se engana. Um esporte não deve competir com o outro. Ao contrário, eles se complementam. Um exemplo: enquanto no futebol, o ataque é sempre muito valorizado, no basquete, o segredo está em ter uma boa defesa. Recentemente, o técnico Muricy Ramalho, do Santos FC, disse que adorava assistir aos jogos da NBA(que está em greve), para observar o nível de organização tática das equipes.
O basquete é uma alternativa para aqueles que não querem jogar apenas futebol. Esse ano fiz uma experiência muito interessante. Em vez de comemorar o aniversário do meu filho num buffet - o que é muito comum entre os amigos da idade dele - reservei uma quadra e fizemos um desafio entre pais e filhos. A maioria dos amigos do meu filho jogam apenas futebol. Jogamos um pouco de cada. Como tínhamos bastante tempo, deixei que após as partidas, eles escolhessem o que gostariam de jogar na sequência. Curiosamente, a maioria pediu outra partida de basquete. Isso não significa que eles deixaram de gostar de futebol. Mas prova que de vez em quando é bom variar.
Na minha lista do que quase fui jogador...existe futebol de campo,salão, vôlei, handebol, atletismo, judô, natação...ufa...mas foi no basquete, onde consegui alguma realização (nada comparado ao que via dos meus ídolos). Joguei pelo Colégio Municipal Dr.José Vargas de Souza. Lá o nosso time apanhou durante três anos das outras escolas, mas conseguiu ganhar a Olimpíada Inter-Colegial num jogo histórico(pelo menos nas minhas memórias) contra o Pelicano. Vibramos tanto que depois sequer devolvi a camisa de basquete do time (fiquei como lembrança, que depois infelizmente desapareceu). Também joguei durante um período na Caldense, que tinha Luiz Cagnani como treinador. Parei de jogar lá, porque o Jornalismo, me capturou. Mesmo assim, hoje, o basquete divide as minhas atenções com as notícias e sempre dou um jeito de bater uma bolinha na ACM.
É por essas e outras que ao ler no Mantiqueira que iria começar um Campeonato Regional de Basquete em Poços fiquei extremamente feliz. Organizadores, patrocinadores e jogadores e o clube, devem ser abraçados pela nossa cidade, carente de iniciativas.Boa notícia, que merece ser elogiada.
Aliás, em qual canal de tv as partidas vão passar? De repente, mesmo a distância, consigo assistir pela internet...a imagem às vezes, congela, mas para quem já assistiu jogos com a tela cheia de riscos, isso não é nenhum problema.
Walace Lara é jornalista.
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